Preocupação com fechamento de leitos da UTI do João Paulo II marca audiência
Lugar está em reforma e crianças foram transferidos para João XXIII, mas parlamentares e trabalhadores temem demora na retomada das unidades do hospital infantil.
- Atualizado em 01/09/2025 - 17:35Parlamentares e profissionais da saúde temem que a reforma da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Infantil João Paulo II, na Capital mineira, feche leitos pediátricos no Estado e precarize a rede da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig).
Eles participaram de audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na tarde desta segunda-feira (1º/9/25).
A reunião é um desdobramento de visita técnica da Comissão de Administração Pública, ocorrida na última sexta (29) para apurar como foi a transferência de 16 leitos pediátricos da UTI do João Paulo II para o Hospital João XXIII em função das obras e, ainda, verificar o andamento das intervenções.
Para a presidenta da comissão, deputada Bella Gonçalves (Psol), a situação é grave, sobretudo por se tratar de crianças.
Conforme acrescentou, em Minas prospera a ideia da privatização e do desmonte da saúde pública. Concordou com ela a deputada Beatriz Cerqueira (PT). “Já vimos isso antes. Tudo começa com uma obra. De repente, já não é isso mais. É uma outra iniciativa que pode precarizar a saúde”, afirmou.
Ela garantiu atuação no processo de acompanhamento e fiscalização da obra, prevista para acabar em 22 de outubro.
Situação do João Paulo II vai repetir a do Hospital Maria Amélia Lins?
O deputado Lucas Lasmar (Rede), autor do requerimento para a audiência junto com as duas parlamentares, se posicionou a favor de melhorias no João Paulo II.
Apesar disso, demonstrou preocupação com a possibilidade de a situação repetir o que ocorreu no Hospital Maria Amélia Lins, onde cerca de 60 leitos foram desativados para a realização de obras e, oito meses depois, ainda não foram retomados.
Ainda de acordo com ele, em visita realizada ao local na última sexta (29), deputados presentes apuraram que houve redução de seis leitos pediátricos de UTI ao todo.
Como salientou, o João Paulo II é o maior hospital público infantil do Estado, sendo referência em tratamento de doenças infectocontagiosas, genéticas e neuromusculares, entre outras.
O deputado também destacou que, em função desse tipo de medida, o Hospital João XXIII tem lidado com uma sobrecarga imensa.
“Não podemos permitir isso. O João XXIII é especializado em urgência e emergência de alta complexidade”, afirmou.
A promotora de Justiça da Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde, Josely Ramos Pontes, contou que instaurou procedimento para apurar o fato.
“Esse cenário de sucateamento e precarização na Fhemig nos traz a preocupação de que uma obra para melhoria vá para outro caminho depois”, destacou.
Servidores reclamam de falta de transparência e diálogo
Além de demonstrarem preocupação com um possível sucateamento da rede Fhemig, trabalhadores da saúde também reclamaram da falta de transparência e diálogo em relação à reforma por parte do governo.
Segundo Ana Paula Tavares, técnica de enfermagem do João Paulo II, onde trabalha no setor de urgência, ela só soube da reforma do espaço após ver a movimentação de transferência de pacientes.
A diretora executiva do Sindicato Único dos Trabalhadores da Saúde de Minas Gerais, Neuza Pereira, endossou a fala anterior. Ela contou que os profissionais receberam um comunicado via whatsapp após a iniciativa ter sido realizada.
De acordo com o integrante do Conselho Estadual de Saúde, Renato Barros, o conselho não foi envolvido na discussão. "Isso demonstra desrespeito às prerrogativas do conselho", disse.
A diretora do Sindicato dos Médicos, Ana Laura Rabelo, reconheceu a necessidade de reforma, mas frisou que o João XXIII não é o local adequado para o atendimento de crianças. Na sua avaliação, a decisão da Fhemig coloca os pacientes pediátricos com doenças raras sob risco de desassistência.
Diretor explica obras no João Paulo II
Segundo o diretor administrativo do Hospital Infantil João Paulo II, Alexandre Luiz Martucheli, a Fhemig contratou um sistema de gestão hospitalar para integração de informações. “Para viabilizá-la, tem que haver um cabeamento único, sem emendas”, explicou.
Conforme contou, a obra já teve início há mais de um ano e ocorreu em outros lugares da instituição. “Precisamos fazer a UTI, dado o fim do contrato em novembro. Para isso, esperamos o fim da sazonalidade, quando há maior demanda de pacientes”, contou.
Ele relatou que outras intervenções planejadas estão sendo feitas no espaço, como nova ambientação, regularização de tomadas e ampliação da farmácia.
Questionado pela deputada Bella Gonçalves se houve aviso prévio aos trabalhadores da instituição, Alexandre Martucheli respondeu que houve diversas reuniões com profissionais das UTIs das duas instituições.
Além disso, como disse, não foram fechados leitos por causa da medida.

