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Melhoria de acesso ao tratamento de doenças crônicas de pele é defendida

Convidados de reunião apontam que SUS precisa contratar mais dermatologistas e oferecer gratuitamente medicamento eficaz para algumas dessas patologias. 

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É urgente melhorar o acesso ao tratamento das doenças crônicas de pele, por meio de várias ações: contratação de mais dermatologistas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), facilitando seu diagnóstico mais rápido; liberação pelo SUS do financiamento do Dupilumabe, único medicamento comprovadamente eficaz para tratar várias dessas patologias, como a dermatite atópica e a urticária.

Em suma, essa foi a principal mensagem da audiência que a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizou na terça-feira (11/11/25) para debater a atualização do protocolo estadual para as doenças crônicas de pele.

A reunião foi solicitada pelo deputado Doutor Wilson Batista (PSD), vice-presidente da comissão e autor do Projeto de Lei (PL) 3.107/24, que deu origem à Lei 25.477, de 2025, a qual institui a política estadual de tratamento das doenças crônicas de pele, com protocolo de tratamento e diretrizes para apoiar os pacientes.

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Um dos criadores da frente parlamentar sobre essa temática, o parlamentar destacou que a lei traz diretrizes para que os pacientes tenham acesso ao diagnóstico mais rapidamente, mas isso não vem sendo cumprido no estado. “Sem o diagnóstico, o paciente não tem acesso aos medicamentos; espero que no curto prazo consigamos criar uma forma de essas pessoas conseguirem o mais rápido possível o tratamento”, disse. 

Na avaliação de Doutor Wilson Batista, uma forma de aperfeiçoar o atendimento desse público seria utilizando os centros estaduais de atenção especializada (CEAEs). “A estrutura está toda montada, precisando apenas de contratar o dermatologista especializado em doenças de pele, que sabe como diagnosticar, tratar e acompanhar o paciente”, propôs.

O deputado também contou que enviou ofício ao Ministério da Saúde pedindo que o órgão informasse o andamento do processo de compra de medicamentos voltados a doenças crônicas de pele. Segundo o MS, os medicamentos já foram incorporados ao SUS, mas falta o financiamento para que sejam disponibilizados ao público. “Vamos continuar cobrando para que eles sejam oferecidos”, adiantou.

Barbara Nardi, dermatologista do Hospital Eduardo de Menezes, destacou que a unidade é das poucas do Estado que atende pessoas com doenças de pele, inclusive as mais graves e com alta morbidade. De acordo com ela, no caso da psoríase, que já conta com os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT), o tratamento avançou bastante. Já quando se trata de outras doenças, como a dermatite atópica e doenças bolhosas, que não têm PCDT, é mais problemático.

Os pacientes com doenças bolhosas necessitam de internações prolongadas e têm poucas opções de medicamentos. “Neste cenário, precisamos de muitas melhorias, especialmente no acesso a medicamentos e tratamentos de doenças; no hospital, o paciente é medicado, mas quando sai, não continua usando, porque é caro o medicamento”, relatou.

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Jules Cobra, diretor da Associação Brasileira de Pacientes Atópicos, Oncológicos e de Doenças Raras, acrescentou que a dificuldade de atendimento dos pacientes começa na atenção básica e vai até os centros de referência.

Ele apontou avanços com a lei sancionada, mas ressalvou que pacientes a partir de 18 anos não estão elegíveis em nenhum desses tratamentos na saúde pública: “A atenção é só para crianças e adolescentes; o Dupilumabe, da Sanofi, é um medicamento que dá grande resultado, mas só é liberado para quem ainda não atingiu 18 anos”. 

José Célio Silveira, vice-presidente da Psoríase Brasil, divulgou pesquisa feita pela entidade sobre o acesso ao tratamento dos pacientes. Segundo ele, 34% relataram demora para acessar o especialista; 32% falaram de dificuldade para conseguir tratamento e 16% destacaram falhas para obter medicamentos. Ele questionou a Secretaria de Estado de Saúde quanto ao prazo para implementação da Lei 25.477; ao número de pessoas que aguarda na fila de atendimento; e quantidade de dermatologistas disponíveis no SUS em Minas.

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Luciana Carvalho, coordenadora do Ambulatório do Hospital Eduardo de Menezes, respondeu parcialmente às perguntas, com enfoque apenas em Belo Horizonte, que tem atendimento a doenças de pele nesse hospital, na Santa Casa e no Hospital das Clínicas (em alguns casos). Segundo ela, cada uma das 10 regionais tem entre 2 e 3 dermatologistas. A fila de pacientes para consultas dessas patologias chega a 30 mil pessoas, sendo 28 mil adultos e 2 mil crianças.

Ela apontou como solução a contratação de mais dermatologistas. E defendeu ser necessária a mudança do paradigma de que dermatologista é um profissional voltado só para a estética. “Você quase não vê desses profissionais no serviço público”, criticou. 

Não basta tratar lesões, é preciso buscar causas da doença

Na opinião de Roberto Souza Lima, médico imunologista, é fundamental no atendimento aos pacientes de doenças crônicas de pele focar nas causas: “Não basta tratar as lesões, se você não tiver foco na causa da doença; tem que descobrir o gatilho que leva o paciente a ter o prurido, as coceiras”. Segundo ele, há além dos fatores genéticos envolvidos, os ambientais, como a alergia a ácaros. “O fator alimentar foi a causa de uma dermatite que tratei, controlada depois do diagnóstico de alergia a leite”, afirmou.

Além disso, Lima citou fatores emocionais, que envolvem a qualidade de vida do paciente. Ele citou a marcha atópica, sequência de doenças alérgicas que acontecem com a criança: “Criança com sequência de doenças alérgicas tem tendência a ter asma, rinite e dermatite atópica”.

Abordou ainda pesquisa sobre a perda gradual da qualidade de vida dos pacientes da dermatite: aumentam as crises de depressão e ansiedade, com muito prurido e ardência na pele. Essa frequência da coceira foi citada por 86% dos pacientes, que relataram coçar todos os dias da semana. Com isso, acordam até 16 vezes por noite. E até obter o tratamento adequado, passam por cerca de nove médicos.

O tratamento, multidisciplinar, com alergista e dermatologista, é feito para controlar as coceiras, curar as eczemas, tratar infecções e modular a resposta imune. São utilizadas vacinas de alergia e imunobiológicos, como o Dupilumab. “Esse medicamento melhorou de forma gigantesca a qualidade de vida dos pacientes”, elogiou ele, completando que a droga pode ser usada por pacientes a partir de seis meses de idade.

Visibilidade aos pacientes

Já Michelle Diniz, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia - Regional Minas Gerais, a Lei 25.477 foi importante por trazer visibilidade para as doenças de pele. “As doenças de pele são consideradas menos graves e o PL faz o reconhecimento de que não é assim, porque elas vão minando a vida das pessoas”, avaliou. Ela destacou que a SBD tem feito campanhas de conscientização para o publico leigo, pois muitos nem sabem que existe o tratamento.

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Fabiana Alcântara, do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais, que sofre com vitiligo e urticária, ressaltou que a associação de várias áreas para que dialoguem e encontrem soluções no tratamento das doenças crônicas de pele é fundamental. “Os profissionais precisam trabalhar de forma transdisciplinar para termos resultado positivo”, concluiu. 

Flaviane Wenceslau, que faz tratamento de dermatite atópica desde os 5 anos, também declarou que os pacientes são muitas vezes recriminados por pessoas que não conhecem a vida de quem tem esses problemas. “Tive crises grandes por causa da doença e também por ser negra; então, a pessoa tem que se autoavaliar psicologicamente e contar com uma rede de apoio, para conseguir chegar ao especialista”, receitou.

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Pacientes com doenças de pele pedem melhorias no atendimento TV Assembleia

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Comissão de Saúde - debate sobre a atualização do protocolo estadual para as doenças crônicas de pele

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