Falta de água é problema frequente na ocupação Dom Tomas Balduíno
Comunidade, que existe há 12 anos em Betim, não conta com regularização fundiária e a falta de serviços básicos afeta moradores, inclusive idosos acamados e crianças.
Um dia sem água em casa já é o suficiente para desorganizar a rotina de uma família. Imagine o que causa então a falta de água de forma corriqueira. Essa situação é vivenciada por 120 famílias da Ocupação Dom Tomas Balduíno, no Bairro São João, em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) visitou, nesta sexta-feira (12/9/25), o local, para verificar o problema. Falta água para beber, tratar animais, preparar comida, lavar roupas e fazer higiene pessoal.
A situação se torna ainda mais grave quando a falta de acesso a esse direito fundamental afeta idosos acamados e crianças. Essa é outra realidade da ocupação.
Uma dessas idosas é Nilza Souza Geraldo. Ela teve dois acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e, em consequência disso, não tem mobilidade há muitos anos. O marido Miguel Geraldo Júnior, também idoso, é quem cuida dela. O casal está junto há mais de 40 anos.
Para lidar com a falta de água, ele contou que abastece galões a partir da doação de água por alguns vizinhos. “Falta água para tudo e isso prejudica o asseio. É revoltante”, destacou.
Outro idoso acamado é Sebastião Rodrigues Batista. “Ele reclama muito de tomar banho à noite. Mas, muitas vezes, antes não tem água”, conta Ana Paula Rosa Pereira, que cuida dele.
O problema relacionado à água decorre da ausência de regularização fundiária da comunidade, a qual existe há quase 12 anos.
Por causa disso, a ocupação não conta com abastecimento de água, esgotamento sanitário e oferta de energia oficiais. Em função disso, as famílias precisaram recorrer a esses serviços de forma clandestina. também não existe um CEP para envio e recebimento de encomendas.
Situação afeta mulheres e crianças
Mulheres da comunidade relataram que, de todas essas demandas, a mais urgente diz respeito ao acesso à água. A tarefa de buscar e armazenar água deixa a rotina já corrida de cuidar da casa e dos filhos e de trabalhar fora ainda mais tumultuada.
Raquel Michele, moradora da ocupação desde 2016, tem cinco crianças. Ela conta que, muitas vezes, abastece diversos galões nas casas de amigas da comunidade e os carrega de volta em um carrinho de mão.
Outra opção é acordar de madrugada para estocar em casa, pois nesse horário costuma ter água, como contou. De toda forma, é preciso priorizar atividades para o uso, segundo a moradora.
“Queremos ter água e luz regularizados e pagar pelo serviço”, afirmou.
Ádila Mendes, moradora da ocupação desde o início, relatou que ela e seus dois filhos precisam tomar banho de balde com frequência. Conforme disse, para lidar com a privação, um vizinho ajuda o outro.
É o caso de Camila Rufo. Ela tem uma das primeiras casas da comunidade e dispõe de uma caixa d’água. Assim, costuma conseguir armazenar mais água e divide com outros moradores ou os recebe em casa para o banho.
Tanto o presidente da Associação Comunitária do Bairro São João e Adjacentes, Jeferson de Oliveira, quanto a liderança comunitária da ocupação, Ana Carolina Alves Pereira, ressaltaram que a comunidade venceu diversas ordens de despejo ao longo dos anos. Para eles, a luta continua até a obtenção da regularização fundiária e a conquista de direitos básicos.
Deputada reforça apoio aos moradores
A deputada Bella Gonçalves (Psol), presidenta da Comissão de Direitos Humanos da ALMG e autora do requerimento de visita, disse que acompanha a situação desses moradores há muitos anos, mesmo antes de ser vereadora e, depois, deputada estadual.
De acordo com ela, Betim tem muitas vilas e favelas, mas a situação da Tomaz Balduíno é hoje uma das mais graves. Como disse, o local está absolutamente consolidado e não cabe mais falar em despejo. Apesar disso, na opinião da parlamentar, é preciso avançar na garantia de direitos.
Ainda segundo Bella Gonçalves, outra linha de atuação é fazer uma reunião com a Prefeitura de Betim para debater um plano de urbanização e regularização. “A gente se dispõe inclusive a buscar recursos para garantir a urbanização”, declarou.
Para o frei Gilvander Moreira, da Comissão Pastoral da Terra, é lamentável ver idosos acamados sem acesso à água. “Toda família tem direito à moradia e à infraestrutura básica”, afirmou.
Superintendente afirma disposição da prefeitura em buscar melhorias
Segundo a superintendente de Regularização Fundiária da Prefeitura de Betim, Yasmin Azevedo, a cidade tem mais de 300 núcleos irregulares.
Nesse contexto, aqueles sem infraestrutura básica, como acesso à água e luz, são considerados prioritários pelo poder público local.
Ela disse que vai levar a demanda para a prefeitura e agendar reunião, solicitada pela deputada, para avançar na questão. No entanto, explicou passos a serem cumpridos, como estudo para avaliar se território é passível de regularização, além de realização de cadastro social para o qual é necessário envolvimento da comunidade e entrega de documentos.


