Indicados ao CEE apontam desafios para a educação
Professores sabatinados nesta quarta (4) defenderam propostas como diversificação do ensino médio para conter a evasão.
04/04/2012 - 16:52Reciclar professores da educação básica, diversificar os currículos do ensino médio e reformular projetos pedagógicos de cursos superiores foram algumas propostas defendidas por educadores indicados para o Conselho Estadual de Educação (CEE) e sabatinados nesta quarta-feira (4/4/12), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Após arguição dos professores Anali de Resende Peixoto, José Francisco Soares e Miracy Barbosa de Sousa Gustin, deputados da Comissão Especial encarregada de emitir parecer sobre as indicações foram favoráveis aos nomes dos três professores.
Pedagoga aposentada, Anali Peixoto foi indicada para conselheira na Câmara de Ensino Fundamental do CEE. Em resposta ao deputado Duilio de Castro (PMN) sobre que fatores impedem o alcance de padrões de excelência na educação básica, ela apontou currículos inadequados e profissionais sem reciclagem e defendeu também a maior participação da família para a melhoria da educação.
Em resposta a questionamentos do deputado Paulo Lamac (PT), relator do parecer sobre sua indicação, a professora disse que poderia contribuir para o aprimoramento do conselho a partir de sua experiência como secretária formada em nível de terceiro grau e pelo seu interesse antigo pela legislação relacionada à educação. Por sua vez, o presidente da comissão, deputado Duarte Bechir (PSD), sugeriu que a indicada para o CEE também defenda junto ao órgão a sugestão de que seja incluído no currículo escolar conhecimentos sobre os prejuízos causados pelas drogas.
Natural de Conselheiro Lafaiete, Anali se apresentou como educadora por vocação desde menina, quando era aluna do antigo curso primário e ensinava os vizinhos nos deveres de casa. Se dizendo apaixonada pela profissão, ela lembrou que ao concluir o então 4º ano primário saiu de casa escondida da mãe para fazer prova de admissão para entrar no colegial “Havia na época uma discriminação contra a mulher, mas eu queria continuar estudando”.
Ela também respondeu a indagações sobre o fato de professores de ensino fundamental estarem dando aulas de educação física. Ela ponderou que a educação física nas escolas é hoje muito voltada para o esporte, exigindo muito cuidado por parte dos profissionais. “Nem todos os alunos estão capacitados ou preparados para isso ou em boas condições de saúde e alimentação”.
Para educador, diversificação é saída para ensino médio
Indicado para a Câmara de Ensino Médio, José Francisco Soares disse que sua preocupação hoje não é apenas com o direito de acesso das crianças à escola, mas com o direito à aprendizagem. Também natural de Conselheiro Lafaiete, 60 anos de idade, ele é doutor em Estatística pela Universidade de Wisconsin e tem pós-doutorado em Educação pela Universidade de Michigan Ann Arbor.
Questionado pelo relator de sua indicação, deputado Duilio de Castro (PMN), quanto aos altos índices de evasão escolar no ensino médio, o professor considerou o fato grave, mas ainda pouco conhecido a fundo. Segundo ele, dos jovens brasileiros com 15 anos apenas 70% deles está concluindo o ensino médio, sendo que logo no 1º ano 30% dos alunos desistem da escola.
Professor da UFMG, ele apontou que uma das razões estaria no fato de o ensino médio ser destinado a um grupo específico de aluno, aquele que vai para a universidade, quando este não é nem o único destino e nem a única opção colocada. “O jovem tem que trabalhar e ter uma vida digna, mas os objetivos para isso podem ser diferentes. Vamos criar a diversidade e perguntar o que o jovem quer”, defendeu ele.
Segundo José Francisco, um dos indícios dessa necessidade de atender a diversidade está no fato de que há mais vagas no ensino superior hoje do que o número de alunos que se formam no ensino médio brasileiro.
Enem – Questionado pelo relator sobre o uso do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como instrumento de acesso à universidade e de melhoria do próprio ensino médio, o educador considerou que o exame trouxe uma discussão importante para as escolas ao sinalizar uma avaliação por áreas de conhecimento no lugar de disciplinas. Na prática, contudo, ele disse que o Enem, apesar de importante, passou de ferramenta pedagógica a ferramenta política.
“Há uma propaganda forte, mas na hora de se definir o que o aluno terá que estudar para o Enem, vê-se que não difere muito do que tinha que estudar para um vestibular da UFMG por exemplo”, avaliou o professor. Segundo ele, ainda faltam pesquisas e evidências sólidas para se dizer que o Enem mudou o perfil de acesso à universidade, permitindo, por exemplo, que os mais pobres possam estudar em qualquer universidade.
Para o educador, é preciso discutir mais o aspecto pedagógico do Enem, uma vez que o exame ainda permanece sugerindo que todos têm que saber a mesma coisa aos 17 anos de idade. Em relação a outras indagações dos deputados, o professor chamou de “cinismo” querer agrupar alunos oriundos de escolas técnicas como Cefet e Coltec nas estatísticas de alunos das escolas públicas que ingressam na universidade. Muitos que não vem da escola técnica passam dois ou três anos em cursinhos, afirmou ele.
Professora diz que universidade deve rever projetos pedagógicos
Indicada para a Câmara de Ensino Superior, Miracy Barbosa, professora da Faculdade de Direito da UFMG, defendeu a revisão dos projetos pedagógicos de cursos universitários.Projetos falhos são um dos fatores que explicariam a estagnação do número de formandos no ensino superior brasileiro, apontou ela, em resposta a questionamento do deputado Duilio de Castro.
Ela criticou a tendência dominante de se atribuir problemas da universidade como o de evasão e estagnação aos níveis anteriores de ensino. “Há uma quantidade enorme de analfabetos funcionais no País, mas quando o problema chega ao ensino superior é nele que tem que ser resolvido”, advertiu. Ela defendeu que as falhas dos alunos que estão chegando à universidade sejam identificadas e enfrentadas, valorizando, por exemplo, a Língua Portuguesa no currículo, de forma a enfrentar dificuldades de interpretação e leitura detectados em boa parte dos alunos que chegam às universidades.
No seu entendimento, o Conselho Estadual de Educação tem que trabalhar no sentido formativo e não penalizador, valorizando a reformulação dos projetos pedagógicos para incluir os que hoje são excluídos em sala. “A exclusão não é só social, é pedagógica também”. Miracy também falou de sua participação na criação do projeto de extensão universitária Polos Cidadania, fundado em 1995 na UFMG, envolvendo diversas áreas do conhecimento e voltado para comunidades carentes de Belo Horizonte e de outras cidades de Minas Gerais.
Sobre questionamentos do presidente da comissão em relação à viabilidade de investimentos na educação superior mantida por estados e municípios, ela lembrou ter coordenado o projeto de criação da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg). Contudo, lamentou que o projeto não tenha sido implantado como previsto. “A Uemg tem condições fortes de ser uma universidade de ponta, mas é preciso vontade e maior valorização por parte do governo. Temos universidades federais que não têm a qualidade de algumas unidades da Uemg”, afirmou ela.