Usuários apontam piora no serviço após privatização do metrô de BH
Deputada teme que os investimentos da concessionária sejam compensados com a precarização do transporte de passageiros.
19/04/2024 - 18:10A tarifa está mais cara e foram anunciados investimentos bilionários no metrô de Belo Horizonte, mas a sensação dos usuários é de que a qualidade do serviço ofertado caiu, em vez de melhorar. Na visita técnica a estações e ao pátio de manutenção, essa foi a realidade constatada pela deputada Bella Gonçalves (Psol), que representou a Comissão de Assuntos Municipais e Regionalização da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
A Metrô BH, empresa do Grupo Comporte, assumiu a concessão do metrô da Capital em março de 2023, com o compromisso de investir, nos próximos cinco anos, R$ 500 milhões na revitalização e expansão do modal. O contrato, com validade de 30 anos, prevê a maior parte dos aportes, R$ 2,8 bilhões, por parte do Governo Federal, enquanto o Estado deve arcar com R$ 400 milhões.
Em audiência pública na semana passada, metroviários denunciaram demissões em massa, más condições de trabalho, casos de assédio moral e precarização dos serviços, o que motivou a visita às Estações Central e São Gabriel e ao pátio de manutenção desta última.
Segundo o Sindicato dos Metroviários de Minas Gerais (Sindimetro), após a privatização, a força de trabalho, que já era insuficiente, foi reduzida praticamente pela metade – eram 1.483 funcionários e hoje são cerca de 750. O número de usuários também despencou dos 220 mil por dia, registrados antes da pandemia de Covid-19, para os atuais 85 mil passageiros diariamente.
Os setores de manutenção e operação foram os mais atingidos pelo corte de pessoal. Terceirizados são responsáveis pelos serviços de capina, segurança, portaria e limpeza.
“É uma situação desesperadora”, afirmou Pedro Vieira, diretor do Sindimetro. Ele lamentou a perda de direitos e a sobrecarga de trabalho, que levam ao adoecimento físico e mental – cinco funcionários teriam tentado suicídio ano passado.
De acordo com o sindicato, profissionais foram convocados para trabalhar inclusive nos fins de semana, nos últimos meses. A empresa, por outro lado, alega que tudo não passou de um ruído de comunicação, pois, na verdade, apenas os interessados teriam participado de serviços mais demorados, como a troca de trilhos, com as horas-extras sendo compensadas durante a semana.
Fato é que, na visita desta sexta (19), Bella Gonçalves atestou a necessidade de serviços de manutenção, que vão da poda de mato na estação ao funcionamento do sistema de som nos vagões. À noite, o menor número de seguranças e a escuridão deixam o ambiente mais perigoso. Usuários também reclamam do atraso nas viagens. “Piorou demais. É muita espera, dá vontade de desistir”, comentou Sueli Ângelo, da Associação dos Usuários de Transporte Coletivo da Grande BH.
No trajeto entre as estações São Gabriel e Central, a estudante Melissa Caroline e a vendedora Carla Nogueira criticaram a sensação de insegurança, a superlotação, a paralisação de vagões para manutenção e o espaçamento do intervalo entre as viagens.
Metrô BH nega falta de pessoal e diz seguir normas de segurança
Gerente de manutenção da Metrô BH, Roberto Fischer confirmou a redução de 60 para 42 profissionais no setor. A previsão da empresa é contratar mais 10 profissionais em dois meses e chegar ao quadro de pessoal dimensionado, com o alegado aumento de produtividade.
Atualmente, são 20 trens em circulação de uma frota de 35. O gestor explicou que os veículos disponíveis atendem a demanda e que a rotação de trens se dá pela manutenção preventiva e corretiva. Quatro deles estão sendo utilizados somente para o reaproveitamento de peças.
A frota se divide entre trens com 10 ou 40 anos de uso. Estes últimos, obviamente, demandam maior atenção e são recolhidos ao pátio para manutenção com mais frequência.
No entanto, o gestor assegurou aos sindicalistas e usuários presentes que a segurança operacional é uma prioridade para a concessionária, com o respeito a todas as normas técnicas.
Deputada acompanha obras no pátio de manutenção
Representantes da concessionária apresentaram à deputada Bella Gonçalves as obras em andamento no pátio de manutenção da Estação São Gabriel. A parlamentar reconheceu que, de fato, as instalações estão sendo modernizadas, especialmente para atender melhor os trabalhadores.
Para a deputada, contudo, a operação compreende um aporte importante de recursos públicos e a queda considerável no número de funcionários não foi acompanhada de investimentos em maquinário. No seu entender, as melhorias anunciadas pela concessionária não chegaram de forma visível aos usuários na ponta.
Nesse sentido, ela teme que a empresa busque compensar os investimentos obrigatórios com a precarização do serviço. Bella Gonçalves também criticou a mercantiização de um bem público, com a venda dos chamados naming rights (direitos de nome) da Estação Central a uma rede de supermercados.