Tatiana Vargas-Maia: a extrema direita no Brasil e no Sul Global

Os movimentos de extrema direita que emergiram no Sul e no Norte Global são marcados por diferenças significativas. Em entrevista a Marco Antonio Soalheiro, no Mundo Político, a professora de relações internacionais da UFRS, Tatiana Vargas-Maia, aponta particularidades e nuances de ambas as experiências. Tatiana afirma que a crise de 2008 é o marco determinante do surgimento das direitas radicais. Ao norte, a crise econômica leva à perda de conforto e à emergência de um nacionalismo exacerbado. Ao sul, as populações sofrem com graves impactos sociais e precarização do trabalho, o que desperta o nacionalismo mais focado em “glórias passadas” e na crítica à Constituição. No Brasil, o conservadorismo que associa de setores religiosos a empresários liberais provoca a reatividade aos avanços dos direitos de grupos minoritários da sociedade. A professora da UFRS avalia que o movimento internacional de uma extrema direita global estimulado e disseminado pelo ex-estrategista político da Casa Branca Steve Bannon é mais retórico do que efetivo. Mas pontua que as direitas radicais, se não são homogêneas, buscam avançar por meio do compartilhamento de estratégias, como no caso de estilos e discursos espelhados entre Donald Trump, nos EUA, e Jair Bolsonaro, no Brasil. Sobre o domínio da extrema direita nas redes sociais e as dificuldades da esquerda de ter desempenho semelhante, Tatiana considera que está em jogo menos o aspecto da competência e mais o volume de recursos empregados.