Profissionais cobram ações contra violência em unidades de saúde
Agressões contra profissionais da saúde têm aumentado. Em audiência pública, convidados deram exemplos e cobraram punição de agressores.
Relatos de violências contra profissionais de saúde marcaram audiência pública na manhã desta quarta-feira (17/9/25). Em reunião da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), gestores da área falaram de investimentos em educação de usuários e acolhimento de profissionais.
Um dos casos mais citados foi o da médica de Belo Horizonte que não aceitou, em agosto, copiar relatório de autismo feito por outro profissional. Samuel Pires Teixeira, do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, contou que ela foi agredida verbalmente e continuou a sofrer coação por parte de um líder comunitário. Sofreu, ainda, com postagens ofensivas em redes sociais, que caracerizam violência virtual.
Durante reunião no posto de saúde, organizada pelo líder comunitário, com a presença de representantes da prefeitura e de vereadores da Capital, exigindo sua demissão, a médica sofreu uma parada cardíaca e continua hospitalizada.
Já a enfermeira Najila Passos relatou, emocionada, agressões racistas sofridas em março, quando uma usuária do serviço a teria chamado de “urubu preto”. Segundo ela, a situação foi presenciada por várias pessoas e ela encaminhou a denúncia, que está sendo apurada. O enfermeiro Marco Antônio Vieira, por sua vez, citou caso em que médica recebeu pedrada na cabeça em Juiz de Fora.
Para demonstrar o cenário mais amplo, Maria do Socorro Pena, do Conselho Regional de Enfermagem de Minas Gerais, apresentou pesquisa feita pela entidade. O estudo consistiu em questionário online respondido por profissionais de enfermagem e 95% dos participantes disseram já ter sofrido alguma violência no ambiente de trabalho.
O levantamento revelou, ainda, que 45% das violências são assédio moral; 40%, verbal e 9%, violência física. Em um contexto em que mais de 80% dos profissionais são mulheres, há também relatos de violências sexuais, 3% dos casos segundo o levantamento. Mas, como lembrou Maria do Socorro Pena, esse tipo de violência tende a ter subnotificação.
Também o deputado Lucas Lasmar (Rede) apresentou dados que dão a dimensão do problema. Segundo ele, em 2024 foram registradas 972 ocorrências de violência nas unidades de saúde pública mineiras. Em 2025 até agora, a marca já foi ultrapassada, com 980 casos. “Está ficando mais recorrente e não podemos permitir isso”, disse.
Gestores apostam em educação e acolhimento
A Superintendente de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES), Renata Lopes Xavier, citou um plano com 29 ações de valorização de profissionais da área. Segundo ela, 16 das ações promovem segurança no trabalho.
São ações, de acordo com a convidada, para o acolhimento de vítimas, a construção de espaços de diálogo entre gestores, trabalhadores e usuários, para a promoção de educação para usuários e para aproximar trabalhadores das comunidades locais onde estão as unidades de saúde.
Já Juliana Borelo, enfermeira do trabalho da Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), disse que a instituição tem um fluxo de atendimento para profissionais que sofram qualquer tipo de agressão. Ela também citou campanhas de educação e humanização de usuários e trabalhadores que, segundo ela, trazem bons resultados.
O superintendente do trabalho e emprego de Minas Gerais do Ministério do Trabalho e Emprego, Carlos Calazans, também falou da importância de campanhas educativas. Segundo ele, a campanha “respeite quem cuida das pessoas” foi lançada no Hospital João XXIII e deve ser feita em várias unidades de saúde do Estado.
O deputado Enes Cândido (Republicanos), por sua vez, falou da necessidade de se criarem estratégias para proteção dos profissionais, em especial, de mulheres. Uma das sugestões foi o botão de pânico, que pode ser acionado por enfermeiras que, em ambiente fechado com usuários, se sintam ameaçadas ou sejam agredidas.
Críticas
Ao fim da reunião, algumas pessoas comentaram projeto de entrega da gestão dos hospitais para organizações sociais. Elas destacaram a falta de diálogo com o governo estadual e a piora na estrutura dos serviços, o que chamaram de “violência institucional”.
Por sua vez, o deputado Arlen Santiago (Avante), acusou o governo federal de não fazer os repasses financeiros para os serviços de SAMU. De acordo com o parlamentar, isso tem sobrecarregado os governos estadual e municipal e dificultado o pagamento dos profissionais.