Especialistas apontam desafios para o tratamento da obesidade
Oferta abundante de alimentos industrializados e sedentarismo levam ao aumento do sobrepeso da população.
03/10/2023 - 20:13De um lado, a oferta cada vez mais abundante de comida com altos teores de gordura, açúcar e sal. De outro lado, uma população cada vez mais sedentária, que não encontra tempo para praticar atividade física. O resultado é o crescimento da obesidade, que está relacionada a doenças crônicas que reduzem a qualidade de vida.
O enfrentamento desse problema foi discutido no último painel do Ciclo de Debates Obesidade é doença: o desafio é de todos, realizado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) na tarde desta terça-feira (3/10/23). Os especialistas que participaram do evento concordaram que é preciso garantir o tratamento adequado da doença e o acesso da população a uma alimentação saudável.
A médica Maria Edna de Melo, que trabalha no Hospital das Clínicas da USP, lembrou que as pessoas obesas são estigmatizadas e sofrem com o preconceito e o assédio moral, inclusive de profissionais de saúde. Ela contou que muitos pacientes desistem de procurar tratamento por causa do constrangimento e recorrem a chás e medicamentos clandestinos.
Para a médica, não se pode atribuir toda a responsabilidade sobre a obesidade ao indivíduo, uma vez que a predisposição biológica é um fator determinante para a doença. “Quem tem obesidade quer perder peso. Isso acarreta muito sofrimento ao indivíduo porque geralmente existe uma falha em tentativas anteriores”, afirmou.
Na atenção básica à saúde, um dos principais desafios é a abordagem intersetorial, na avaliação da nutricionista Suellen Fabiane Campos. Ela defendeu que é preciso pensar em soluções para o problema de maneira mais abrangente, identificando a necessidade de espaços públicos para a prática de atividades físicas e de acesso a alimentos saudáveis, como frutas e verduras.
Já na atenção especializada, a médica Cláudia Maria Fernandes Andrade Vieira explicou que a oferta de serviços para pacientes obesos no Sistema Único de Saúde é menor do que a demanda. Outros desafios são o envolvimento dos pacientes no tratamento e o reganho de peso após a realização da cirurgia bariátrica. Ela coordena o Serviço de Obesidade Clínica da Santa Casa de Belo Horizonte.
O sedentarismo é outro grande desafio a ser superado, na avaliação da professora da Escola de Educação Física da UFMG Danusa Dias Soares.
Ela reforçou que a atividade física é essencial para prevenir a obesidade e as doenças a ela relacionadas. “A atividade física não é panaceia para todos os males. Mas não há dúvida de que precisamos nos movimentar”, afirmou. Segundo a professora, as pessoas sem tempo podem praticar os chamados “exercise snacks”, que consistem em sessões curtas de exercícios vigorosos ao longo do dia, para reduzir o comportamento sedentário.
Entidade defende mais impostos sobre alimentos ultraprocessados
Para garantir uma dieta equilibrada, essencial para prevenir a obesidade, é preciso dificultar o acesso aos alimentos ultraprocessados, que são muito calóricos e têm altos teores de açúcar, gordura e sal. Esta é a opinião de Bruna Kulik Hassan, representante da ACT Brasil, entidade que promove ações em defesa da alimentação saudável.
Ela alertou que o projeto em tramitação propõe uma desoneração de até 60% dos impostos cobrados sobre qualquer tipo de alimento para consumo humano. Para a ACT Brasil, essa proposta pode abrir caminho para beneficiar os alimentos ultraprocessados com isenções tributárias.
Além da tributação maior sobre esses produtos e também sobre as bebidas adoçadas, o pesquisador da Fiocruz Eduardo Nilson propôs uma maior regulação sobre a publicidade de alimentos industrializados destinados a crianças. Outras medidas importantes, na avaliação do pesquisador, são a rotulagem nutricional adequada dos alimentos industrializados e a imposição de restrições à venda desses produtos nas escolas.
Se nada for feito, os números de mortes por doenças crônicas relacionadas à má alimentação podem ter aumento expressivo. Segundo Eduardo Nilson, o Brasil pode registrar 5,3 milhões de novos casos dessas doenças e mais 800 mil mortes nos próximos dez anos.
O deputado Coronel Sandro (PL), que conduziu os debates, defendeu que é preciso enfrentar os desafios para se evitar o crescimento desse problema. “A obesidade é negligenciada por todos, especialmente pelo poder público, que não oferece o tratamento preventivo que a população merece”, afirmou.