Ciclo de debates alerta sobre desafios da luta contra a obesidade
Com causas variadas como genéticas, comportamentais e ambientais, problema de saúde pública deve ser enfrentado de forma prioritária e urgente, segundo especialistas.
02/10/2023 - 19:48As taxas de obesidade quase triplicaram nos últimos 50 anos, afetando pessoas de todas as idades e grupos sociais. Entre crianças e adolescentes a situação é ainda mais preocupante: o aumento foi de quase 500% nesse período, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). As causas da obesidade são variadas e entre elas estão questões genéticas, estilo de vida e o ambiente onde se vive.
Esses dados preocupantes começaram a ser debatidos na tarde desta segunda-feira (2/10/23) no “Ciclo de Debates - Obesidade é doença: o desafio é de todos”, realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A programação do evento prossegue nesta terça-feira (3/10/23), no Auditório José Alencar, com especialistas de diversas áreas para debater os desafios relacionados à obesidade.
Neste primeiro dia de debates, foi lembrado que o panorama no Brasil e em Minas Gerais não é diferente.
Autor do requerimento para a realização do ciclo de debates, o deputado Coronel Sandro (PL) coordenou os trabalhos. Segundo o parlamentar, os diagnósticos e propostas apresentados durante o debate poderão subsidiar o poder público, incluindo estado e municípios a fazer leis e políticas públicas de enfrentamento à obesidade.
A palestra de abertura “Obesidade como doença: um problema de saúde pública” foi conduzida remotamente pela coordenadora-geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Kelly Poliany de Souza Alves, e, presencialmente, pela professora do Departamento de Nutrição e Saúde da UFV, Helen Hermana Miranda Hermsdorff.
Esta última é também coordenadora do programa Rede para Enfrentamento da Obesidade em Minas Gerais (Renob-MG) e do Programa de Atenção à Saúde Cardiovascular (Procardio) da UFV. Helen Hermsdorff explicou que a obesidade na população mineira tem aumentado ano a ano e, em pouco mais de uma década, de 2008 a 2021, segundo o estudo da UFV, mais que dobrou.
Segundo ela, isso aconteceu inclusive no semiárido, em locais como Vale do Jequitinhonha e Nordeste do Estado, o que mostra que não são apenas as regiões economicamente mais desenvolvidas que enfrentam o problema. Nessas regiões, a obesidade cresceu de 10%, em 2008, para 25%, em 2021, entre os adultos.
“É uma situação bastante preocupante. A análise do consumo alimentar pode nos dar uma explicação. Para se ter uma ideia, descobrimos que entre crianças até 9 anos, 88% delas já consomem alimentos ultraprocessados, com muito açúcar gordura e corante. É o caso dos salgadinhos, refrigerantes, biscoitos recheados. São alimentos não saudáveis reconhecidos como fator de risco para obesidade”, aponta Helen Hermsdorff. Dados do IBGE apontam que no País a obesidade já atinge cerca de 6,7% das crianças e adolescentes.
Mas, de acordo com a especialista, é preciso também enfrentar o estigma da obesidade. “Biologicamente a gente entende que a obesidade vem de um consumo excessivo de calorias frente a um gasto de energia insuficiente. Isso leva a gente a pensar que a pessoa com esse excesso de gordura é a única responsável por esse balanço energético positivo, o que nem sempre é verdade”, aponta.
Outra avaliação feita pelos especialistas é de que o poder público deve colaborar oferecendo condições para que haja mudança de hábitos, o que inclui condições para alimentação mais saudável e a prática de atividades físicas.
“Antes de tudo é preciso orientar as pessoas que enfrentam a obesidade a buscar um atendimento médico. Isso já é complicado com todo o estigma que cerca o problema. E também precisamos de políticas públicas para, por exemplo, incentivar a prática regular de atividade física, promover uma alimentação mais saudável e garantir acesso ao tratamento mais adequado, inclusive com medicamentos. É um problema de saúde que precisa ser enfrentado como um problema de saúde”, explicou, ainda, a médica Flávia Coimbra Pontes Maia.
Ambientes também pode ser obesogênicos
Na sequência da programação do ciclo de debates na tarde desta segunda (2) aconteceu ainda o primeiro painel do evento, com duas exposições. A primeira foi sobre o tema “Promoção da saúde e prevenção da obesidade no ambiente escolar: desafios e possibilidades”.
Ela foi apresentada pela professora do Departamento de Nutrição dos programas de Pós-graduação em Nutrição e Saúde, em Saúde da Criança e do Adolescente e em Saúde Pública da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Larissa Loures Mendes. Ela também lidera o Grupo de Estudos, Pesquisas e Práticas em Ambiente Alimentar e Saúde.
No mesmo painel, a segunda apresentação tratou do tema “Ambientes obesogênicos no trabalho e na comunidade”, sendo conduzida pela professora dos Programas de Pós-Graduação em Saúde e Nutrição da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e Nutrição e Saúde da UFMG, Mariana Carvalho de Menezes.
“A maior parte dos adultos passam boa parte do seu tempo no ambiente de trabalho e geralmente realizam mais uma refeição ali. Isso tem que ser levado em conta para estimular escolhas alimentares mais saudáveis e combater a obesidade. Onde eu moro e onde eu trabalho vai influenciar diretamente o acesso a alimentos saudáveis”, pontuou Mariana Menezes.
Ao final das palestras e debates ainda foram exibidos vídeos relatando estratégias e ações práticas para a prevenção da obesidade implementadas por municípios como Divinópolis (Centro-Oeste), Jesuânia e Seritinga (Sul) e Virgem da Lapa (Jequitinhonha/Mucuri).
O ciclo de debates também faz parte das atividades da Casa para marcar o Dia Nacional de Prevenção da Obesidade, celebrado anualmente em 11 de outubro. A data foi instituída pela Lei Federal 11.721, de 2008, com o objetivo de conscientizar a população sobre a importância da prevenção à obesidade, livre de estigma e com informações baseadas em evidências científicas.
Além do ciclo de debates, outra atividade que marcará o Dia Nacional de Prevenção da Obesidade é a iluminação especial do Palácio da Inconfidência, sede da ALMG, nas cores laranja e azul, entre os dias 2 e 11 de outubro, a partir das 18 horas.
Raio x do problema
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre os adultos, 60,3% apresentam excesso de peso, sendo 26,8% já com obesidade. E o Mapa da Obesidade em Minas Gerais, desenvolvido pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), aponta que 61,9% dos mineiros têm sobrepeso e, desses, 28% estavam com algum grau de obesidade.