Ciclo de debates realizado no Plenário reuniu autoridades e especialistas que refletiram sobre a necessidade de preservação da memória do período da ditadura militar - Arquivo/ALMG
A Galeria de Arte da ALMG recebeu mostra sobre o período da ditadura - Arquivo/ALMG
Reunião Especial homenageou o arcebispo emérito de São Paulo, o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns - Arquivo/ALMG
A obra da Praça Carlos Chagas é uma iniciativa da ALMG em parceria com a PBH

ALMG lembra 50 anos do golpe de 1964 e celebra a democracia

O primeiro semestre de 2014 foi marcado também por homenagens a Tiradentes e Aleijadinho.

16/07/2014 - 17:04

“Lembrar é resistir” e, por isso, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizou vários eventos e ações no primeiro semestre de 2014 para discutir os anos de chumbo. Os acontecimentos políticos que conduziram ao golpe de 1964, que instituiu a ditadura militar no Brasil, assim como os principais fatos que marcaram o regime, foram tema de debates, audiências públicas e homenagens.

O Ciclo de Debates Resistir Sempre - Ditadura Nunca Mais: 50 Anos do Golpe de 1964, realizado nos dias 31 de março e 1º de abril, reuniu autoridades e especialistas que refletiram sobre a necessidade de preservação da memória desse período histórico. Pessoas que participaram da luta pela retomada da democracia – e sofreram duras represálias por isso – enriqueceram as discussões.

Welilngton Diniz, ex-membro da organização clandestina Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares); Ênio Seabra, então presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem (Sindimet); e Carlos Cateb, que atuou como advogado de perseguidos políticos, foram alguns dos presentes. Também aqueles que lutam hoje para que crimes políticos sejam esclarecidos, como Antônio Ribeiro Romaneli, coordenador da Comissão da Verdade de Minas Gerais, participaram das discussões.

Paralelamente aos debates, foi realizado um ato público em homenagem aos mortos e desaparecidos durante a ditadura militar. No Hall das Bandeiras, os nomes de 66 vítimas mineiras do regime foram lidos enquanto os participantes respondiam “presente” a cada nome – uma forma de dizer que a memória deles não morrerá.

A Galeria de Arte da Assembleia, por sua vez, recebeu a exposição “1964-1985 - A subversão do esquecimento”. A mostra reuniu notícias de jornais, fotos e charges do período, exibidas ao som de músicas censuradas pela ditadura.

Religioso que militou contra a ditadura recebe homenagem

Outro evento marcante foi a Reunião Especial de Plenário que homenageou com o título de cidadão honorário de Minas Gerais o arcebispo emérito de São Paulo, o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns. O religioso foi um importante líder na luta contra a ditadura militar e, em 1979, foi proposta a mesma homenagem na ALMG, mas o Plenário negou o pedido. Assim, o evento foi também uma reparação histórica.

Um dos momentos que simbolizam a luta do cardeal foi o culto ecumênico realizado em 1975 na Catedral da Sé em homenagem ao jornalista Wladimir Herzog, morto dias antes nas dependências do Doi/Codi paulista. Apesar das tentativas de impedir que as pessoas chegassem até o local, essa foi considerada a maior concentração de massa depois do Ato Institucional nº 5 (AI-5), com a presença de cerca de 8 mil pessoas.

Por encontrar-se em regime de reclusão total em um convento em Taboão da Serra (SP), Dom Paulo Evaristo Arns indicou o sobrinho, Nelson Arns, para comparecer à homenagem.

Atentados terroristas e perseguição a indígenas motivam discussões

A Comissão de Direitos Humanos realizou, ainda, audiências públicas para tratar de temas relacionados à ditadura militar. Em uma delas, foi abordada a repressão direcionada aos povos indígenas. De acordo com as denúncias apresentadas, esses povos também foram perseguidos durante o período militar, inclusive com a criação de uma Guarda Rural Indígena - responsável por ações de policiamento nas tribos.

Outro encontro da comissão foi para tratar de denúncias de atentados cometidos por grupos paramilitares de extrema direita durante a ditadura. Foram relatados explosões de carros, bombas em eventos teatrais, ataques a jornais e ameaças a militantes de esquerda. De acordo com os participantes da reunião, um terço dos atentados no Brasil nesse período foram em Minas Gerais e a maioria não foi investigada.

Documentário - A TV Assembleia também participou das ações de resgate histórico da ditadura. Foi produzido um documentário sobre eventos em Governador Valadares que antecederam o golpe militar e anunciaram a truculência do regime que estava prestes a ser implantado. Dois dias antes do golpe, o Sindicato dos Lavradores do município foi invadido por milícias armadas a serviço dos latifundiários locais.

Tiradentes e Aleijadinho também foram lembrados

A preocupação com a preservação da história política de Minas Gerais não se limitou ao período militar. No primeiro semestre de 2014, também foi inaugurada uma estátua em homenagem a Tiradentes, mártir da Inconfidência Mineira e ícone da liberdade. Instalada no Espaço Democrático José Aparecido Oliveira, localizado na sede do Poder Legislativo estadual, a estátua foi criada pelo artista mineiro Leo Santana.

Outro importante mineiro que tem recebido homenagens da ALMG é o artista barroco Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Ele ganhará uma medalha comemorativa, a ser produzida pelo Clube da Medalha da Casa da Moeda, em homenagem ao bicentenário da sua morte, a ser completado em 18 de novembro. A ALMG realizou uma votação online para escolher qual seria a imagem da medalha. Com 57% dos votos, a escolhida foi a estátua “Daniel”, feita em pedra-sabão, que compõe o conjunto dos Doze Profetas produzidos pelo artista em Congonhas (Região Central do Estado).

Praça da Assembleia passa por revitalização

Também marcou o 1º semestre de 2014 o início das obras de revitalização da Praça Carlos Chagas, mais conhecida como Praça da Assembleia. O espaço, que tem jardins projetados por Burle Marx, é tombado como patrimônio histórico e integra o conjunto arquitetônico formado também pelo Palácio da Inconfidência e pela Igreja Nossa Senhora de Fátima.

A reforma deve durar até 2015 e preservar as características originais da praça. A obra é uma iniciativa da ALMG em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). A requalificação da praça compõe o conjunto de ações do projeto Assembleia de Todos, que faz parte do Direcionamento Estratégico.

Doadores de órgãos - Ainda neste semestre, a ALMG inaugurou o monumento em homenagem aos doadores de órgãos. A obra do artista Leo Santana contém os nomes de doadores de órgãos mineiros, com o objetivo de estimular esse importante ato de ajuda ao próximo.