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Retirada de cadeiras em alguns setores do Mineirão recebe apoio em reunião

Parlamentares, torcedores e gestores do Cruzeiro apoiam a volta do setor conhecido como "geral", mas engenheiro alerta para questões de segurança.

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Deputados e representantes de torcidas organizadas e da diretoria do Cruzeiro apoiaram a retirada de cadeiras nos setores amarelo e laranja do estádio do Mineirão, na Capital. Eles participaram de audiência pública da Comissão de Participação Popular nesta quinta-feira (29/5/25), que debateu a volta da “geral”, setor popular localizado em um dos lados dos estádios, no qual os torcedores assistiam aos jogos em pé, por um preço acessível.

A reunião na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) atendeu a pedido do deputado Professor Cleiton (PV), que resumiu soluções adotadas em outros estádios no País e no mundo, que podem ser aplicáveis no Mineirão. O parlamentar lembrou que o encontro atende a pedido do movimento Amarelo sem Cadeira, que protesta com faixas no estádio desde o ano passado contra a colocação de assentos em todos os setores.

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Para o deputado, haveria três benefícios principais com a criação do setor popular:

  • redução do custo dos ingressos (em contraposição à adoção do padrão Fifa, a partir da qual os preços subiram consideravelmente)
  • maior liberdade para torcidas fazerem ‘festa” no estádio
  • aumento da segurança para o público

O parlamentar justificou o último quesito informando haver incidentes com cadeiras arrancadas e atiradas, que geram prejuízo material e machucam pessoas.

Avaliou que a retirada das cadeiras em vários estádios nacionais contribuiu para o aumento de público e de arrecadação. “Iniciamos uma discussão na qual tenho certeza que teremos êxito”.

Por fim, Professor Cleiton informou que, em 2024, os 20 maiores clubes de futebol do Brasil obtiveram R$ 10,9 bilhões em receitas, com crescimento de 21% em relação ao ano anterior.

Concordando com o colega, o deputado Eduardo Azevedo (PL) destacou a tendência de retirada de cadeiras no setor popular de estádios no mundo todo. Inclusive o estádio de Dortmund, na Alemanha, país modelo em questões de segurança, segundo ele, adotou a prática.

Destacou que 5.514 cadeiras foram danificadas em 2022, média de 100 por jogo, totalizando prejuízo anual de R$ 417 mil. Apesar disso, considerou que a Minas Arena, que administra o Mineirão, não deve ter dificuldade para arcar com a quantia, pois recebeu do Governo de Minas mais de R$ 1 bilhão [, em x anos].

Por sua vez, o deputado Bruno Engler (PL) disse ser o autor de projeto de lei que busca democratizar o acesso ao futebol. “Infelizmente, gourmetizaram os estádios, tornando os ingressos mais caros, dificultando o acesso”, disse. Além disso, considerou que, normalmente, o torcedor gosta de assistir aos jogos em pé.

Ele lembrou que a Lei 23.772, de 2021, que trata da disponibilização de setores sem cadeiras em estádios de futebol, estabelece o limite de 20% da capacidade do estádio para espaços sem cadeiras. “Mas podemos ter os setores amarelo e laranja sem cadeiras, o que ultrapassaria 20% do total; e isso facilitaria também para os clubes do interior”, justificou.

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Avaliando a lei, o deputado Coronel Henrique (PL) afirmou que ela não proíbe a Minas Arena de retirar as cadeiras. “Lá na Arena MRV e no Independência já estão fazendo isso”, declarou. Presidente da Comissão de Esporte, Lazer e Juventude, o parlamentar disse que avocará para si a relatoria de todas as matérias que venham a tratar desse tema na Casa.

O deputado Alencar da Silveira Jr (PDT) deixou seu apoio à causa: “Já passou da hora de retirar as cadeiras; além de um conforto a mais, é uma economia e vai dar uma tranquilidade maior aos torcedores”, analisou.

Retirada de assentos não torna estádio violento, diz especialista

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Para Irlan Simões, jornalista e pesquisador do Observatório Social do Futebol, a retirada de cadeiras não vai tornar o estádio mais violento nem menos confortável, além de criar um benefício financeiro, pela redução do custo de manutenção.

Por outro lado, ressalvou que não se deve considerar o setor sem cadeiras como sendo popular. “Por exemplo, há um setor sem cadeiras no estádio do Corinthians, mas foi a forma de concentrar as torcidas organizadas; tirar assentos de um setor pode até gerar aumento de preço dos ingressos em outros”, refletiu.

Ainda na visão dele, o setor sem cadeiras não pode se tornar uma espécie de gueto e, em contrapartida, os preços dos outros setores aumentarem. Lembrou que, antigamente, a maioria dos espaços dos estádios era destinada aos setores populares e hoje acontece o contrário. 

O analista social Diogo Silva, que está à frente do movimento Amarelo Sem Cadeiras, disse que a remoção dos assentos é primordial para reverter “o processo de gentrificação (segregação) dos estádios por conta da Copa de 2014”. Concordou que houve mudança no perfil do público, antes popular e agora, mais elitizado. “Com a Minas Arena, tudo ficou mais caro; e a nossa defesa é de um estádio mais democrático”, propôs. 

Colapso

Engenheiro pondera a necessidade de observar questões de segurança

Em contraponto às falas, Gustavo Antônio da Silva, presidente da Associação Mineira de Engenharia de Incêndio (Amei), ressalvou ser necessário atentar para questões envolvendo segurança de estádios, legislações municipal e estadual, normas da ABNT e normas internacionais. Engenheiro eletricista, civil e de segurança do trabalho, avaliou que o estádio é um local para frequentar com a família e voltar para casa com segurança.

Sobre a limitação de 20% do total para espaços sem cadeiras, o profissional disse que ela também consta de norma do Corpo de Bombeiros Militar (CBM). Ele ainda aventou a necessidade de colocar barreiras contra esmagamento caso sejam retiradas cadeiras do Mineirão. 

Outras adequações seriam necessárias, para evitar acidentes devidos a buracos ou parafusos após a retirada.

“Temos que fazer análise de risco para prever, por exemplo, o número adequado de saídas de emergência. Se houver um problema numa portaria, as outras vão conseguir dar vazão em uma situação de pânico?”, questionou.

Acrescentou que modificações em uma arquibancada vão redundar em recálculo de altura, inclinação e dimensões, a ser aprovado pelo CBM. 

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Jacqueline Alves, diretora da Minas Arena, contou que a empresa já contratou um consultor para estudar as modificações sugeridas. Ela revelou sua preocupação com a segurança e com a viabilidade econômica: “Quanto vai custar retirar cadeiras agora, depois voltar com elas para a Copa do Mundo Feminina, em 2027, e removê-las de novo?”, perguntou.

“A retirada de cadeiras vai gerar mudança nos projetos arquitetônico e de engenharia; e temos que avaliar os custos; e só após estudos técnicos e negociação entre as partes, vamos poder agir”, concluiu Sílvia Lage, superintendente de Governança e Gestão da Secretaria de Estado de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias (Seinfra).

Comissão de Participação Popular - debate sobre a volta da geral no Mineirão

Éric Rezende, geógrafo da Prefeitura de Contagem, registrou que o modelo dos estádios brasileiros a partir da Copa de 2014 veio da Inglaterra, do começo dos anos 90. Ele ganhou força após 95 torcedores do Liverpool serem mortos por pisoteamento e outros 766 ficarem feridos, no Estádio Hillsborough, em 1989, num jogo da equipe contra o Nottingham. 

Segundo o profissional, há uma tendência de reversão desse modelo de arenas, com a aparição de setores populares-festivos. “Vemos nos estádios do Grêmio e do Corinthians os setores populares sempre cheios, ao contrário de outros; que tenhamos mais estádios menos hostis à festa”, defendeu.  

Também nessa perspectiva, Bruno Pereira, diretor regional da Associação Nacional das Torcidas Organizadas (Anatorg), constatou que o setor amarelo do mineirão, o mais popular onde ficam as torcidas organizadas, é o primeiro a esgotar os ingressos. “Muitos não têm condições de pagar R$ 130 num ingresso”, reclamou.

Concordando com a posição dos que o antecederam, Marcone Andrade, diretor de Marketing do Cruzeiro, divulgou que o clube gasta cerca de R$ 200 mil com o pagamento de danos (do qual, o conserto de cadeiras é maioria) após cada jogo.

Também comemorou o fato de que já foi possível reduzir o valor de ingresso, com a correspondente redução de alguns custos operacionais da Minas Arena. Andrade completou que os setores amarelo, com 13 mil lugares e laranja, com outros 13 mil, seriam passíveis de remoção das cadeiras, totalizando 40% dos lugares.

“Ofereceram o padrão Fifa e o Brasil concordou; agora, estamos discutindo esse legado da Copa, propondo mudar, mas de que forma?”
Gustavo da Silva
Presidente da Associação Mineira de Engenharia de Incêndio
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Torcidas organizadas pedem volta da "geral" no Mineirão TV Assembleia

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