Profissionais defendem maior conscientização sobre neuralgia do trigêmeo
Participantes de audiência pública relataram episódios vexatórios causados pela chamada “pior dor do mundo”.
Choques elétricos violentos ou facadas na face. Assim a dor causada pela neuralgia do trigêmeo foi descrita pela paciente Carolina Arruda. Além de fundadora e presidente da Associação de Neuralgia do Trigêmeo Brasil (ANTBR), ela reúne mais de 560 mil seguidores no Instagram.
Seu depoimento comoveu os participantes da audiência pública promovida pela Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta terça-feira (9/12/25). A reunião foi solicitada pela deputada Carol Caram (Avante) para debater o Projeto de Lei (PL) 4.144/25, que institui a Semana de Conscientização sobre a Neuralgia do Trigêmeo no Estado.
Durante a discussão, Carolina Arruda desabafou sobre o desafio de lidar com uma dor incapacitante, enfrentando a insegurança econômica e social. “Muitos perdem a autonomia, a fonte de renda e a rede de apoio. A sensação é de abandono, porque a rotina se torna limitada pela dor”, explicou.
Segundo a ativista, a dificuldade de conciliar trabalho com a dor imprevisível e os efeitos colaterais dos medicamentos é agravada pela invisibilidade do problema. Quem sofre com a neuralgia do trigêmeo precisa enfrentar a incredulidade das pessoas próximas.
“A conscientização não é um detalhe. Ela é uma necessidade urgente. A informação é o ponto de partida para combater o preconceito”, argumentou. Carolina Arruda apontou que os tratamentos costumam ser inacessíveis e o desconhecimento é generalizado até mesmo de profissionais da saúde.
“Convivemos com uma dor que não pode ser fotografada e o que não é visto não é entendido, nem cuidado”, sintetizou. Inclusive, não há dados precisos sobre o número de casos, embora a médica especialista em Medicina da Dor Verônica Lívia Dias estime que existam milhares sofrendo com a condição em Minas Gerais.
Também de uma perspectiva pessoal, o deputado Lincoln Drumond (PL) relatou episódios vexatórios vividos pelo seu pai. Além das crises de dor, que uma vez o fizeram cair para fora do carro, rolando, sofreu constrangimento quando precisou se ausentar do trabalho como estoquista de supermercado.
Ginecologista e obstetra, além de vereador em Juiz de Fora, Marcelo Vitor Condé (Avante) frisou que a neuralgia do trigêmeo pode causar depressão, ansiedade e levar ao suicídio. A ausência de especialistas no interior de Minas, atrasando ou impedindo o diagnóstico, agrava o sofrimento.
Além disso, conforme Verônica Dias, o Estado disponibiliza medicações que, na maioria das vezes, são insuficientes. A necessidade de associar outros remédios para amenizar efeitos colaterais tende a aumentar os custos do tratamento. Ponderou ainda que nem todos os planos de saúde cobrem procedimentos cirúrgicos.
Projeto incentiva diagnóstico precoce e acolhimento
Para Carolina Arruda, o PL 4.144/25 é importante para colocar a neuralgia do trigêmeo no radar de profissionais e gestores. Tem como benefícios a organização de protocolos, a promoção da capacitação continuada de profissionais, a garantia do diagnóstico precoce e a ampliação do acesso ao tratamento com a distribuição de medicamentos gratuitos.
De acordo com o texto original, as atividades desenvolvidas durante a semana de conscientização visam promover a integração entre pacientes, profissionais de saúde e a sociedade. Também buscam fomentar ações educativas em hospitais, escolas e outros espaços públicos.
“Vamos poder acolher uma parcela da população que muitas vezes se sente isolada e negligenciada, diminuir o estigma e permitir um acesso mais igualitário ao tratamento especializado”, antecipou Verônica Dias durante a reunião.
A proposição também menciona parceria do poder Executivo com a ANTBR e outras entidades da sociedade civil para garantir que a informação correta chegue a todos os segmentos da população. Busca ainda assegurar que os recursos destinados às ações sejam utilizados da melhor forma possível.
Segundo Carol Caram, a proposta se alinha ao Projeto de Lei Federal 3.928/24, em tramitação no Congresso Nacional, que cria o Dia Nacional de Conscientização sobre a Neuralgia do Trigêmeo. O texto estadual será analisado pelas Comissões de Constituição e Justiça (CCJ), de Saúde e de Fiscalização Financeira e Orçamentária, com tramitação em dois turnos.
Sensível ao drama de quem sofre com a doença, a parlamentar enfatizou a importância de articular esforços coletivos para aumentar a conscientização social, inclusive no trânsito, entre condutores de veículos. Também defendeu a ampliação do acesso tecnológico para que o tratamento adequado seja oferecido nos pequenos municípios mineiros.