Motociclistas pedem maior combate a roubos de seus veículos
Clubes de motoqueiros criticam decisões do Judiciário, que estaria libertando criminosos reincidentes e, assim, frustrando atuação das polícias.
07/07/2025 - 19:33Representantes de grupos de motociclistas pediram socorro às autoridades, para que elas ampliem o combate a furtos e roubos de motocicletas no Estado. Na segunda-feira (7/7/58), eles participaram de reunião da Comissão de Segurança Pública, na qual debateram com comandantes das Polícias Militar, Civil e Rodoviária Federal, formas de prevenção e combate a esses crimes que vêm aumentando em Minas.
Solicitada pelo presidente da comissão, deputado Sargento Rodrigues (PL), a audiência da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) mostrou que os principais alvos desses crimes são motos de alta cilindrada. Em 2024, foram registrados 38 casos de roubos e assaltos envolvendo motociclistas de alta cilindrada; em 2025, até o momento, já foram registrados 150 situações, o que representa um aumento superior a 290%.
Marcelo Alvarenga do Carmo, organizador do Movimento SOS Motos, disse não querer que Belo Horizonte fique igual ao Rio de Janeiro ou São Paulo, onde aparentemente se perdeu o controle desses crimes. Ele reclamou da ausência na reunião de representantes do Judiciário e do Ministério Público.
Elogiou a atuação das três polícias presentes, que cumprem seu papel, ao abordar e prender os criminosos. No entanto, na sua avaliação, todo esse trabalho é prejudicado pelas decisões do Judiciário e do Ministério Público do estado, que estariam propiciando a liberação dos responsáveis pelos furtos e roubos desses veículos. “É sempre o mesmo ‘prende e solta'; por isso, quero pedir ao Judiciário e ao MP que endureçam um pouco sua atuação”, cobrou.
Marcelo do Carmo também sugeriu que as montadoras coloquem nas motos pequenas os mesmos mecanismos de segurança das motos mais potentes, como chaves de presença e rastreadores. Também defendeu a aprovação de leis mais rígidas, que na sua opinião, fariam reduzir esses crimes. “Em nome da população mineira, exigimos segurança para as pessoas de bem; quem escolheu o caminho errado que pague”, defendeu.
Oriundo do Rio de Janeiro (RJ) Willian Travassos, do Moto Clube Bodes do Asfalto Sede Pampulha, disse que está na Capital mineira desde 2023 e que já visitou quase todas as vilas e favelas da cidade. Ele cobrou das autoridades o uso mais efetivo das câmaras, como meio de coibir os furtos e roubos das motocicletas.
Sugeriu ainda um trabalho de planejamento envolvendo o estado de Minas e a Prefeitura. Na sua avaliação, tem aumentado o comércio de peças de motos, especialmente na internet. E sugeriu que as Polícias passem a utilizar o software que identifica e rastreia a parte eletrônica das peças de motos.
Outro a reclamar da ausência de membros do TJ e do MP foi Fernando Marques Khaddour, motociclista e coordenador do Moto Clube Bodes do Asfalto. Ele falou do agravamento da situação: “Passamos de crimes de furto a assaltos a mão armada”. Nascido no Rio de Janeiro (RJ), ele relatou que veio para Belo Horizonte em 1996, por considerar a cidade segura para se viver, mas hoje considera que o cenário mudou.
“Na Favela Cabana do Pai Tomás, vi que o crime organizado do Rio estava entrando em Minas, com menores armados do tráfico circulando livremente no local”, lembrou. Ele solicitou das autoridades presentes informações sobre as providências tomadas em relação ao problema, envolvendo a fiscalização de motos, e quanto à ação articulada das forças de segurança, inclusive com recursos tecnológicos de inteligência.
O deputado Sargento Rodrigues, que já morou na Cabana, disse que patrulhou a região por alguns anos quando trabalhava na Rotam e que o quadro era totalmente diferente, com controle das Polícias sobre o local. “Hoje, a situação é assustadora, com o crime tomando uma proporção absurda”, alertou ele, acrescendo que iria provocar as Polícias Militar e Civil, e ainda a Polícia Federal, para que agissem na Cabana, considerada “um dos tentáculos do crime organizado que veio do Rio e de São Paulo”.
Operações de prevenção e combate são destacadas por polícias
A coronel Daisy Ferrarezi Moura, diretora de Finanças da Polícia Militar de Minas Gerais destacou que a corporação tem um núcleo de prevenção a furtos e roubos de veículos, dentro do Batalhão de Trânsito. Nessa área, são planejadas as operações com base na análise dos registros de ocorrências. Ela enfatizou que em 2025, 50% das operações foram focadas nas motocicletas, incluindo ações de prevenção e repressão.
Ela registrou que atuou por alguns anos em Igarapé (Região Metropolitana de Belo Horizonte), onde implantou o chamado cercamento eletrônico com câmeras, que resultou na redução considerável de roubos e outros crimes. “A câmera mostra quando o veículo é roubado e é enviada uma notificação para a Polícia próxima ao local; assim conseguimos fazer a abordagem e prender o criminoso”, explicou. Atualmente, outras cidades da RMBH, como a Capital, Betim e Contagem, já contam com essa tecnologia.
No seu trabalho atual, a PM busca fazer a integração com os bancos de dados da Policia Civil de Minas Gerais. Em relação ao software de reconhecimento de peças, recomendado por um dos motociclistas presentes, ela respondeu que a PMMG está avaliando o sistema para decidir se o adquire.
Inteligência policial
O deputado Sargento Rodrigues questionou Marcelo Viana quanto à pouca frequência de blitz da PRF, ao que este respondeu que as abordagens primam pelo policiamento orientado pela inteligência, para que a fiscalização seja assertiva: “Podemos assegurar que a cada 5 ou 6 abordagens, conseguimos retirar um ilícito de circulação”.
O parlamentar elogiou os esforços da PRF e das Polícias mineiras em prol da integração e de ações articuladas para coibir os crimes. E pediu aos representantes das três forças que assumissem o compromisso de ampliarem as operações conjuntas. Concordou com os motociclistas quanto à leniência do Judiciário e anunciou que enviará ao TJMG e ao Superior Tribunal de Justiça as notas taquigráficas da audiência desta segunda (7).
Também solicitará às Polícias mineiras fiscalização em ferros velhos, com vistas a recuperação de motos, veículos e peças, principalmente em locais onde há mais ocorrências. E às Prefeitura de Belo Horizonte e outras da RMBH, pedirá o fechamento de estabelecimentos que façam receptação de peças e veículos.

Mercados ilegais fora de Minas
Hugo Barbosa Arruda, coordenador de operações da Superintendência de Investigações da PCMG, informou que a corporação conta com cinco delegacias especializadas na repressão do furto e do roubo de veículos. Quanto ao roubo de motos mais caras, declarou que há um inquérito investigando o caso, o qual aponta que, em virtude de seu alto valor, as peças são destinadas a abastecer mercados ilícitos fora de Minas.
Também analisou que a receptação e o furto, como não são crimes violentos, acabam tendo maior reincidência. Por isso, a PCMG procura investigar outros crimes conexos desses indivíduos, incluindo a investigação financeira, realizada nos laboratórios da corporação que atuam nessa área. Sobre o software que identifica peças roubadas, disse que a PC também avalia sua aquisição.
Já Marcelo Gonçalves Viana, superintendente substituto da 4ª Superintendência Regional da Polícia Rodoviária Federal, destacou que a atuação da PRF se restringe às rodovias federais, para coibir crimes de roubos, furtos e adulteração de veículos, principalmente.
Informou que há 17 delegacias e 34 postos de atuação da corporação no estado. Divulgou sistemas utilizados pela Polícia Rodoviária como: o Alerta Brasil, com câmeras em locais específicos e estratégicos; o Sinal PRF, onde o cidadão, mesmo sem o registro de ocorrência, pode promover disparos para os postos da corporação, de modo que abordem veículos suspeitos. “Até junho, estamos com mais de 2 mil veículos recuperados, sendo 400 motos; muitas vezes esses veículos estão indo pra áreas de fronteira para serem trocados por armas e drogas”, repassou.
Ele valorizou o trabalho de capacitação desenvolvido pela PRF, que inclui não só seus policiais, mas os de outras instituições. “A Operação Ircos faz a capacitação de todos os agentes da segurança pública, para continuar fazendo de Minas o Estado mais seguro do Brasil”, anunciou.