Moradores do Nova Cintra sofrem com obras da linha 2 do metrô
Falta de indenização e pressão para que pessoas deixem suas casas foram relatadas durante audiência pública nesta terça-feira (8).
O drama de Natalice Gomes da Silva, atropelada por um trem após escorregar nos entulhos das obras da linha 2 do metrô de Belo Horizonte, foi o principal mote da audiência da Comissão de Direitos Humanos realizada nesta terça-feira (8/7/25). Natalice e outros moradores do Bairro Nova Cintra, região Oeste da capital, estiveram na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para relatar prejuízos causados pelo empreendimento.
Conforme o militante do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Jairo Pereira, desde que as obras começaram, pessoas perderam acesso à luz e à água, viram as paredes de suas casas trincando e tiveram que conviver com entulhos, poeira e animais perigosos. Além disso, segundo ele, 16 famílias ainda não receberam indenização pelos prejuízos.
“Esse pagamento não custaria mais de R$ 2 milhões para a Metrô BH”, explicou. Segundo Pereira, quando a comunidade organizou um protesto contra a situação, foi ameaçada de multa. “Para cuidar da vida de 16 famílias, o Judiciário não se manifestou”, apontou.
No caso de Natalice, ao tentar se deslocar em meio ao canteiro de obras, ela escorregou nos entulhos e acabou perdendo a perna direita ao ser atropelada por um trem operado pela MRS, que não prestou socorro. A Metrô BH, concessionária da linha 2, nem a VLI, concessionária da ferrovia, assumiram a responsabilidade pelo dano sofrido pela moradora. “Tem mais de 30 anos que eu moro lá, nunca imaginei que isso fosse acontecer. Tá difícil”, desabafou.
Sua filha, Jéssica Gomes da Silva, mencionou as despesas para garantir os cuidados mínimos. Medicamentos, fraldas, cama hospitalar, cadeira de rodas… tudo tem sido providenciado por familiares e membros da comunidade.
Ao relatar os pedidos excessivos de documentação para encaminhar o pagamento de indenização, a moradora Amanda Lélis da Silva disse que a sensação é de estar sendo expulsa da própria casa. Inclusive, devido à poeira, sua filha teria tido doenças respiratórias. “Pra mim, é como se fosse uma pressão silenciosa que a empresa tá fazendo: olha, se você não sair, você vai ficar sem água, sem luz, no meio do entulho”, expôs.
“Não tem diálogo possível com quem trata o povo desse jeito”, afirmou a presidenta da Comissão de Direitos Humanos, deputada Bella Gonçalves (Psol). Ela foi a responsável por solicitar esta audiência e lamentou a ausência de representantes das empresas e da Secretaria de Estado de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias (Seinfra).
De acordo com o defensor público Aylton Magalhães, tem sido recorrente a prática de criar cenário de terra arrasada para manter pressão sobre os moradores, forçando a remoção e inibindo eventual reocupação. Muitas vezes as demolições começam antes que as negociações com moradores e órgãos públicos tenham sido concluídas.
Superintendente da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego em Minas Gerais, Carlos Alberto Calazans criticou a estratégia de culpabilizar as vítimas pelos acidentes ocorridos nessas obras. “Isso é uma canalhice, eu não aceito”, enfatizou.
Como principais encaminhamentos, Bella Gonçalves anunciou a realização, nos próximos dias, de audiência de conciliação sobre caso de Natalice. Em conjunto com a Superintendência do Trabalho, será feito um processo rigoroso de fiscalização das obras do metrô. Além disso, serão tomadas providências, junto ao Ministério Público, para incluir famílias no plano de reassentamento.

