Impactos diretos e indiretos da exploração de lítio motivam duas visitas da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) no Vale do Jequitinhonha nesta semana. A primeira delas, nesta quinta-feira (11/9/25), ocorre em Araçuaí. Já a segunda atividade, nesta sexta (12), é em Itinga.

Solicitadas pela deputada Beatriz Cerqueira (PT), as visitas acontecem a partir das 9 horas. Em Araçuaí, a comissão vai até a Área de Preservação Ambiental (APA) Chapada do Lagoão. O encontro de Itinga, por sua vez, será na igreja da comunidade Piauí Poço Dantas.

A APA Chapada do Lagoão, criada em 2007 por lei municipal, conta com mais de 100 nascentes, sendo considerada uma caixa d'água para a região. É uma área com grande biodiversidade, transição do bioma Cerrado para a Caatinga. Além da importância do ponto de vista ambiental, a região abriga várias comunidades tradicionais.

Mas, recentemente, um projeto de lei para a redução dessa área foi aprovado de forma definitiva na Câmara Municipal de Araçuaí, por iniciativa da prefeitura local. Lideranças comunitárias, ambientalistas e integrantes de movimentos sociais alertam que a medida pode colocar em risco todo esse patrimônio e ocultar o interesse na exploração de lítio na área.

A aprovação do projeto ocorreu mesmo depois de a Justiça ter suspendido preliminarmente a tramitação da matéria em abril deste ano após provocação do Ministério Público (MP), como noticiado pela imprensa. 

O MP teria justificado naquele momento que a proposta reduziria a APA em 6 mil hectares, embora a alegação do Executivo municipal fosse apenas a de corrigir uma sobreposição territorial de cerca de 86 hectares com o município vizinho de Caraí. 

O órgão também teria comprovado a inexistência de consulta prévia a comunidades quilombolas da região, as quais dependem diretamente dos recursos naturais da área de preservação para subsistência.

O assunto já pautou audiência pública da Comissão de Meio Ambiente em fevereiro deste ano.

Em Itinga, comunidade rural sofre com exploração minerária 

A comunidade rural de Piauí Poço Dantas, no distrito de Taquaral de Minas, em Itinga, vive há cerca de 150 anos nas margens do riacho Piauí, um afluente do rio Jequitinhonha. E, de uns anos para cá, passou a conviver com as operações da Sigma Lithium, bem próximas ao povoado.

Moradores relatam uma rotina de explosões diárias que estremecem as casas e geram poeira. Como consequência disso, passaram a ser comuns problemas respiratórios, insônia e dores de cabeça.

As visitas da comissão têm como objetivos avaliar possíveis impactos da redução da APA Chapada do Lagoão e da instalação de empreendimentos minerários na região e verificar danos socioambientais decorrentes da mineração do lítio na comunidade Piauí Poço Dantas.

Para as atividades, foram convidados prefeitos e vereadores das duas cidades e integrantes do Ministério Público, do Observatório dos Vales e do Semiárido Mineiro da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Conselho da APA Chapada do Lagoão, além de lideranças comunitárias.