Funed descarta possibilidade de produzir vacina contra meningite
Presidente da entidade alega que altos custos inviabilizam construção de uma nova fábrica para produção do imunizante.
A possibilidade de produção de vacinas contra a meningite pela Fundação Ezequiel Dias (Funed) foi descartada pelo presidente da entidade, Felipe Attiê, em reunião da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada na terça-feira (9/12/25).
A informação foi dada em resposta a questionamentos feitos pelo deputado Lucas Lasmar (Rede), que convocou a reunião para esclarecer os motivos do encerramento do contrato de transferência de tecnologia do laboratório britânico GSK para a fabricação do imunizante.
Por meio dessa aliança estratégica, firmada há 17 anos, a Funed produziria dois tipos de vacina: uma contra a meningite C (conhecida como Meningo C) e outra chamada de ACWY, que oferece proteção contra quatro sorotipos da bactéria meningococo.
“Eu acabei com a mentira na Funed. A Funed nunca produziu a vacina Meningo C e muito menos a ACWY”, afirmou Felipe Attiê. Segundo ele, a transferência de tecnologia pela GSK nunca se concretizou. “A Funed não fabrica nem em escala laboratorial, nem em pequena quantidade”, informou.
De acordo com o presidente da Funed, a produção do imunizante não foi levada a cabo por causa da complexidade da operação. Ele explicou que, por se tratar de uma vacina bacteriana, seriam necessários investimentos da ordem de R$ 2 bilhões para a construção e validação de um complexo industrial.
Para ilustrar a dificuldade do processo de produção, Felipe Attiê contou que, nas Américas, somente a Pfizer produz a vacina contra a meningite em sua fábrica nos Estados Unidos. Ele visitou a unidade da GSK na Itália, onde, segundo ele, a planta industrial tem 85 mil metros quadrados de área e 1.850 funcionários.
Os tanques onde é feita a cultura da bactéria que vai originar o insumo farmacêutico ativo têm 60 mil litros de capacidade, segundo Felipe Attiê. “Isso não cabe dentro da nossa fábrica. Impossível fabricar a vacina meningocócica na Funed. Impossível! Não tem como!”, assegurou.
Felipe Attiê chamou de “uma grande farsa” a ideia de trazer a produção do imunizante para Minas Gerais, entre outros motivos, porque não estava planejada a construção de uma nova planta industrial.
Ele ainda citou como complicadores a dificuldade para contratar pessoal especializado e a falta de autonomia financeira da Funed. Segundo ele, por ser uma fundação de caráter autárquico, toda a sua arrecadação é destinada ao caixa único do Tesouro Estadual, o que dificultaria os investimentos necessários à ampliação de suas atividades.
O deputado Lucas Lasmar lamentou a decisão de não produzir as vacinas contra a meningite na Funed. Ele criticou a prática de demitir servidores para recontratá-los como funcionários terceirizados, por meio da MGS, com salários mais altos.
Diante dos indícios de irregularidades no contrato com a GSK, o parlamentar encaminhou uma representação ao Tribunal de Contas do Estado (TCE), denunciando pagamentos feitos sem a transferência de tecnologia e com desperdício de recursos públicos.
Somente a aquisição de uma máquina liofilizadora que nunca foi usada teria custado R$ 1,7 milhão, segundo Lucas Lasmar. Os prejuízos acumulados por anos de má gestão seriam da ordem de R$ 4,5 bilhões, de acordo com o deputado.
Produção de soros é motivo de preocupação
Outro ponto de preocupação de Lucas Lasmar foi com a produção de soros antipeçonhentos pela Funed. A nova fábrica estaria com a produção atrasada e, para piorar a situação, a Fazenda Experimental São Judas Tadeu, onde são criados os cavalos para extração do plasma, matéria-prima dos soros, foi colocada na lista de imóveis podem ser repassados à União no âmbito do Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag).
Felipe Attiê admitiu que a produção de soros foi interrompida em 2016, mas garantiu que ela já foi retomada. Ele mostrou uma ampola de soro pentavalente de jararaca, fabricado em novembro, e informou que já foram produzidas 6.600 unidades. Ele aguarda a assinatura de um contrato com o Ministério da Saúde para fornecer 100 mil ampolas ao Sistema Único de Saúde (SUS).
A atuação de Felipe Attiê foi defendida pelo deputado Antonio Carlos Arantes (PL). Ele disse que a Funed vinha de um processo de decadência, mas avalia que a situação começou a mudar na governo Romeu Zema. “Felipe Attiê é uma pessoa que busca a transparência. Pode até pecar por excesso de transparência, mas não por omissão”, afirmou.