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Falta de manutenção provoca graves danos à Escola Guignard

Em visita ao local, comissão verifica infiltrações e instalações elétricas precárias, contribuindo para a deterioração gradual da unidade. 

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Infiltrações em quase todas as dependências do prédio, provocando a queda ou quebra de tetos de gesso, mofo nas paredes e inúmeras goteiras, armazenadas em baldes espalhados por várias salas. Esses problemas são diretamente vinculados aos vazamentos no telhado, sem manutenção adequada há no mínimo, sete anos, com os riscos aumentando sobretudo na época chuvosa, como a atual. Para complicar, as instalações elétricas estão precárias, com fios soltos em vários cômodos, o que pode facilitar incêndios, especialmente em contato com água.

Esse foi o cenário precário encontrado na Escola Guignard, Bairro Mangabeiras, zona sul de Belo Horizonte, visitada nesta segunda-feira (17/11/25), pela Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia. Solicitada pela presidenta dessa comissão da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), deputada Beatriz Cerqueira (PT), a visita avaliou a infraestrutura, verificou condições de funcionamento e de trabalho dos professores, gestores e outros profissionais da unidade.

A diretora da Escola Guignard, Fabíola Gonçalves Giraldi, disse que há anos, pleiteiam uma reforma completa do estabelecimento, sem sucesso. A Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), a qual à escola é vinculada desde 1994, e o próprio governo do Estado prometem começar as obras, mas vem protelando essa ação, prevista para durar cerca de dois anos.

Segundo ela, que também foi aluna da unidade, a última promessa foi que as intervenções se iniciariam no início do próximo ano, mas diante de tantos insucessos, foi criada uma comissão, com membros da direção e professores. O objetivo é tentar sensibilizar o governo quanto à urgência da reforma e buscar imóveis onde a Guignard possa se instalar, caso as intervenções se iniciem.

O professor Marco Paulo Rolla completou que com a água vazando por todos os lados, coloca-se em risco também o rico acervo artístico da Guignard, formado por pinturas, esculturas, peças de cerâmica, xilogravuras, litografias, livros, entre outras obras.

A professora Celina Lage observa um descaso da UEMG com o estabelecimento. “Estamos vendo a fuga de cérebros, com vários professores daqui passando em concursos e indo para outras instituições, devido às péssimas condições de trabalho e de remuneração”, disse.

A aluna Iara Rodrigues lamentou pensar que um patrimônio como a Guignard possa se perder devido à omissão do governo. “Temos aqui uma qualidade de ensino muito boa, apesar da baixa qualidade da estrutura; é ótima a nossa interação com os professores, muito dedicados e que deveriam ser mais respeitados”, refletiu.

Já o estudante Davi Araújo, membro do Diretório Acadêmico da escola, solicitou um espaço maior para o D.A., de modo a trazer um maior senso de comunidade. “Defendo a dignidade dos professores, com melhor remuneração, e uma relação mais transparente da Guignard com os estudantes”, propôs.

Obras de arte correm risco devido aos vazamentos

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Após uma pequena reunião, foi realizada a visita à maioria das dependências da Escola Guignard, que conta atualmente com 57 professores, 20 técnicos da MGS, além de 13 funcionários da área administrativa (três efetivos e dez contratados). Na Biblioteca, foi mostrado um buraco grande no teto, causado por infiltração de água de chuva. Na sala dos professores, há mofo e o teto do banheiro caiu. Ao lado, na sala da diretoria, há muitas rachaduras na parede, que está se deslocando, o que contribuiu para a janela ceder e não ser possível mais abri-la.

Vários ateliês e oficinas também foram visitados, revelando precariedades. Na oficina de xilogravura e metal, há baldes espalhados para receber a água das muitas goteiras e pelo menos, tentar preservar as grandes prensas de gravura e metal, peças de alto valor financeiro e histórico.

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Pelos ateliês de litografia (gravura em pedra), pintura e cerâmica, passa uma claraboia feita de uma grade larga feita de metal e coberta com acrílico. Essas salas divisam com o muro externo da escola, que é muito baixo, o que provocou vários acidentes: seis pessoas já pisaram no acrílico e caíram nesses ateliês, sendo a última uma criança. Além do prejuízo a esses indivíduos, muitas obras, especialmente de cerâmica, foram quebradas.

Ainda no ateliê de cerâmica, as calhas não estão comportando toda a água de chuva, que acaba vazando no local, onde se concentram vários fornos de alta temperatura, postos em risco devido a esses vazamentos. Francisco Alessandri, professor da área, relatou também que os fornos geram grande quantidade de fumaça, que seria retirada pelos exaustores, mas como estes se encontram estragados, a fumaça se espalha por toda a escola.

Outro problema nesse ateliê foi observado na sua porta que dá para a rua, sem outro anteparo, como cerca ou muro. Na sua parte superior, a porta está enferrujada e danificada, o que facilita o arrombamento e entrada na escola, com possibilidade de furtos e danos ao patrimônio.

Risco de incêndio e choques

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Além dos espaços para aula, foram visitados também a casa de máquinas e o auditório (com espaço para 400 pessoas). Na primeira, dutos de iluminação já ressecados tem recebido água de chuva que é carreada para o quadro geral de baixa tensão elétrica de toda a escola. De acordo com o técnico universitário Thiago Palhares, debaixo do quadro geral, há um fosso onde a água tem se infiltrado e vazado em grande quantidade, alagando o auditório. O risco de curtos-circuitos, choques e de incêndios elétricos é grande devido ao contato de água e eletricidade no local.

Falta de manutenção adequada agrava problema

A professora de instalação, Sônia Salgado Labouriau, mostrou um gradil maciço de aço especial, que se dilatou e saiu do encaixe. A situação da peça, que fica a uma altura de 6 metros, perto do auditório, serviu para a servidora exemplificar como a falta de manutenção em várias partes do prédio provoca sua deterioração contínua e gradual. “No caso desse gradil, bastava um funcionário subir com uma escada até a peça e encaixá-lo; como isso nunca é feito, o gradil vai se dilatando e encolhendo e com o tempo não se encaixa mais”, explicou.

Ela completou que o prédio de alto valor arquitetônico, feito com interação entre ferro e alvenaria, tem necessidade de manutenções especializadas, não realizadas pelo governo. Segundo informou, as peças de ferro do telhado e das paredes, se não forem pintadas com uma tinta especial própria para o material, se dilatam e acabam provocando fendas no teto de alvenaria. Funcionária da escola há vários anos e também ex-aluna, Sônia Salgado disse que, na única manutenção que presenciou, não houve esse cuidado com a tinta especial e, com isso, o problema se agravou ainda mais.

Vistorias 

Diante dos problemas verificados, a deputada Beatriz Cerqueira informou que vai solicitar: uma audiência pública da comissão sobre o tema e vistorias com laudos de avaliação do prédio da Escola Guignard por parte do Corpo de Bombeiros Militar e da Defesa Civil. “Fui provocado por um abaixo-assinado de vocês para visitar essa unidade e pressionar por soluções”, disse a parlamentar.

Ela lembrou que uma vitória importante foi a retirada dos imóveis da UEMG da lista dos passíveis de transferência para a União, previstos no Projeto de Lei (PL) 3.733/25, do Executivo. Por outro lado, avaliou que não basta a universidade contar apenas com imóveis próprios, mas sendo precarizada gradativamente: “Foi, sim, uma vitória a retirada desses imóveis do projeto, mas o que mais queremos é ver a UEMG de pé”, concluiu.

História

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Completando 80 anos no ano passado, a Escola Guignard formou artistas importantes no circuito mineiro, nacional e internacional. Em 1944, o então prefeito de BH, Juscelino Kubitschek, convidou o artista Alberto da Veiga Guignard para dirigir a Escola de Belas Artes, depois transformada em Instituto de Belas Artes de Belo Horizonte. Ela funcionava no subsolo do Palácio das Artes, próximo ao Parque Municipal Américo Renné Giannetti.

Após a promulgação da Constituição do Estado, em 1989, a Escola Guignard passou a ser uma unidade acadêmica da Uemg. Em 1994, foi inaugurado o prédio que abriga a escola desde então, perto da Serra do Curral, um projeto do arquiteto Gustavo Penna, considerada uma das 30 obras arquitetônicas de maior relevância no Brasil.

A Escola Guignard oferece atualmente, segundo informações no site, cursos de graduação em Artes Plásticas, bacharelado e licenciatura, pós-graduação lato sensu em Artes Plásticas e Contemporaneidade, e pós-graduação stricto sensu com mestrado e doutorado em Artes.

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