Falta de infraestrutura urbana mobiliza moradores no Barreiro
Bairro Jardim Liberdade recebe visita da Comissão das Mulheres e expõe mazelas como falta de água e esgoto, além de muita poeira.
Em uma das capitais mais desenvolvidas do País, uma comunidade inteira, com aproximadamente 7.500 moradores, sofre com falta de água, luz, rede de esgoto e pavimentação, entre outros serviços e equipamentos de infraestrutura urbana.
Esse foi o cenário encontrado pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais (ALMG) em visita, nesta segunda-feira (11/8/25), ao Bairro Jardim Liberdade, na Região do Barreiro, em Belo Horizonte.
Solicitada pela presidenta da comissão, deputada Ana Paula Siqueira (Rede), a visita começou pela Rua do Canal, que tem esse nome em função de um córrego que desce pela via íngreme levando esgoto sem tratamento. Ali também sobra lixo e falta pavimento.
Maria Silveira do Carmo, 73 anos, 15 deles no local, usa uma bengala e, por isso, quase não sai mais de casa. “Sou diabética e tenho que fazer exames a cada dois meses, mas não dá para sair nessa rua sem escorregar e cair”, conta. A mesma situação impede a idosa de frequentar a fisioterapia no posto de saúde.
Vizinha de dona Maria, Larissa de Almeida Santos é uma das poucas jovens da rua e reclama, sobretudo, da falta de água e da luz fraca, vinda de gatos que os moradores fizeram recentemente. “Só depois disso tivemos a chance de um banho quente”, destaca Larissa.
A jovem conta que já teve o benefício social cortado em função das reiteradas ausências do filho na escola. “Chegamos a ficar 15 dias seguidos sem água. Não tem como mandar a criança para a escola”, defende-se. A situação, segundo ela, piora quando chove, em função da enxurrada forte que lava a rua.
Situação agrava riscos de doenças
Em outro ponto da visita, a Rua Cristiano de Almeida, moradores ficam ilhados pelo mesmo córrego, que sempre destrói as pontes que ligam as casas à via. Glitiane Souza Fernandes, moradora local há 15 anos, já refez a ponte quatro vezes. Mas o mais impactante ali é o mau cheiro e o risco claro de doenças.
Há cerca de dois anos, o que já era ruim ficou pior. Um misto de aterro e bota-fora clandestino se instalou na parte mais alta do bairro e cobre tudo de poeira. “Coisas graves acontecem aqui. O bairro é o que mais tem casos registradas de doenças respiratórias no posto de saúde”, aponta a líder comunitária Thaís Tamara.
A informação é referendada pela conselheira do Cento de Saúde Bonsucesso, Marli Reis. “O posto está sobrecarregado com doenças respiratórias, sobretudo em crianças. Também temos um projeto com cursos para mulheres, mas elas não conseguem ir em função dos filhos doentes”, relata.
Segundo Marli, muitas mulheres também deixam de ir a consultas regulares pela falta de banho, a mesma situação vivida pelo filho de Larissa. Na Rua Boa Esperança, próxima ao aterro, Robert Anselmo da Cruz segura a bebê de um mês e também reclama da poeira e da falta de água.
O bebê de Gleice Rocha Lopes chegou a ser entubado depois de uma crise de bronquite. “A gente lava a roupa e, quando tira do varal, já está toda empoeirada. Não temos CEP, temos que usar endereço de outras pessoas no posto de saúde. Estamos esquecidos”, lamenta.
Segundo os moradores, tanto a Cemig quanto a Copasa alegam que as restrições nos serviços se devem à falta de regularização no bairro.
Impactos são maiores para mulheres, diz deputada
Para a deputada Ana Paula Siqueira, está clara a lesão a direitos básicos, até mesmo como o de ir e vir. Ao comentar todas as dificuldades e o risco de alagamentos e deslizamentos no bairro, ela reforçou que as mulheres periféricas são as mais impactadas pelas emergências climáticas.
“É inacreditável uma situação tão extrema dentro do Barreiro”, espantou-se a parlamentar. Sobre o aterro clandestino, ela afirmou que o local é uma confluência de territórios, com lotes da Prefeitura de BH, do Estado e de particulares. “A três meses do período de chuva, há o risco de essa terra descer”, aponta.
O administrador da Regional Barreiro, Helton Damasceno, justificou que a infraestrutura urbana é, de longe, a maior demanda da região. A Prefeitura de BH, segundo ele, vem realizando as obras possíveis, mas, em muito casos, elas são de grande porte e exigem um prazo mais longo.
Sobre o aterro, ele afirmou que a PBH já identificou os responsáveis, e que a guarda ambiental já fez notificações e autuações. Porém, segundo o administrador, é preciso identificar corretamente a propriedade das terras para saber, por exemplo, se é uma invasão de terra pública.
A regional, segundo Helton, está trabalhando com outros órgãos, entre os quais a Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão, para solucionar a questão. A visita foi acompanhada também por servidores da Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel).

