Copasa se compromete a atender demandas de moradores de Contagem
Gerente da empresa no município admitiu graves problemas de abastecimento de água e coleta de esgoto e anunciou obras.
Em resposta a diferentes denúncias de problemas em relação a abastecimento de água e redes de esgoto em bairros periféricos de Contagem (Região Metropolitana de Belo Horizonte), gerente da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) no município anunciou obras para resolver as questões até o próximo ano. O compromisso foi firmado em audiência pública promovida pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), na noite quinta-feira (14/8/25).
A presidenta da comissão, deputada Bella Gonçalves (Psol), autora do requerimento para a reunião, ficou satisfeita com o resultado, mas avisou que vai acompanhar e cobrar as ações anunciadas. Dentre os investimentos prometidos estão obras para regularização da oferta de água e da coleta de esgoto, que atenderia as principais demandas apresentadas na audiência pública.
Bella Gonçalves lembrou que Contagem, pela represa Vargem das Flores, é responsável pela produção de pelo menos 4% da água que abastece a RMBH. E defendeu um esforço conjunto entre a prefeitura e o Estado para proteger a lagoa, ameaçada principalmente pela crescente ocupação urbana nos arredores com a construção de condomínios regulares e loteamentos clandestinos.
A ativista do Movimento SOS Vargem das Flores, Cristina Maria de Oliveira explica que o aumento populacional na região da lagoa contribui para a escassez da água nos bairros da periferia porque não chega nas moradias. Cristina advertiu para a importância estratégica da barragem: “é o único reservatório que não está no caminho da lama. Todos os outros pontos de captação têm barragem de minério a montante”, afirmou.
Sem água e esgoto, moradores relatam dificuldades
Os moradores de Contagem já têm sofrido com as constantes interrupções de água, principalmente nos finais de semana, com situações mais críticas registradas na região de Nova Contagem, que abrange vários bairros e vilas. A condição foi reconhecida pela própria gerente da estatal no município, Renata Mayrink Ferreira. “Precisa de adequações na rede para atender a demanda com o crescimento”, admitiu. A gerente assegurou que está sendo realizada uma obra para bombeamento de água, que vai ampliar em 50% a oferta. A conclusão está prevista para setembro deste ano.
A vereadora da cidade Moara Saboia (PT) lembrou que aulas tiveram que ser suspensas pela falta de água que chegou a ser interrompida por seis dias seguidos. “Mesmo no inverno os problemas continuam”, lamentou.
Miriam Lúcia de Paiva, da Associação do Bairro Ipê Amarelo, em Nova Contagem, relatou que a água só é fornecida de madrugada, obrigando as mulheres a realizarem as tarefas domésticas antes do dia amanhecer, quando começa a reduzir o fluxo até a suspensão durante todo o dia.
Ela também denunciou que o bairro convive com esgoto escorrendo a céu aberto, mas paga pela taxa de coleta na conta mensal. “Estamos pagando por um serviço que não está acontecendo”, protestou.
Problema igual foi relatado pela representante da Ocupação Guarani Kaiowá, Naiara Rocha Pereira. Ela contou que a companhia já esteve no local e instalou as redes para a coleta dos resíduos, mas abandonou a obra. A ela, a gerente garantiu que as ligações serão efetuadas entre o final deste mês e do próximo, numa parceria com a Prefeitura local. Para regularização do abastecimento de água, Renata Ferreira informou que já está em licitação o serviço.
Valdilena de Brito Silva, moradora da região, acrescentou que a Copasa também tem demorado para recuperar o asfalto que quebra, em obras de manutenção. Quanto ao problema, a gerente afirmou que a concessionária está providenciando novos contratos com o uso de tecnologia que vai permitir mais qualidade e rapidez na reparação, o que deve ocorrer até o início de 2026 em Contagem e Belo Horizonte, ampliado para o Estado posteriormente.
A instalação do serviço de água foi prometido por Renata Ferreira também na ocupação Nelson Mandela, que fica no complexo da Liberdade. De acordo com a gerente, está faltando apenas a regularização fundiária do local, que está sendo providenciado junto com a prefeitura. Ela acredita que em até seis meses a rede esteja ampliada e os moradores atendidos.
Solução parcial para imbróglio judicial
Desde 2021 moradores do bairro Monte Castelo sofrem por problemas geológicos provocados pela rede e obras da Copasa. São vazamentos constantes de água e esgoto que provocam rachaduras em moradias e a interdição de muitas delas.
“É angustiante, tem dia que não durmo. Nós sofremos é com o excesso de água. Quando chove sofremos com enchentes, que alagam as casas e provocam danos em nossas casas”, denunciou o morador José Alves.
Segundo a gerente Renata Ferreira, embora a Copasa não assuma responsabilidade pelos danos, admite que o problema vem se arrastando e concordou em indenizar moradores de 39 imóveis interditados e que estão sendo demolidos. Aceitou ainda pagar aluguéis por três meses até que as famílias se realoquem em novas habitações.
No entanto, outras 23 também estão interditadas, mas a companhia não admitiu ressarcir seus proprietários. Algumas pessoas judicializaram a questão e o Ministério Público exigiu que a concessionária removesse as famílias, o que foi cumprido segundo Renata, mas alguns não aceitaram. “O posicionamento (da Copasa) é que não há acordo para esses novos casos”, disse ela.
A gerente afirmou que estudos foram feitos no local e não conseguiram identificar a causa dos problemas. Apesar disso, a empresa aceita substituir toda a rede "para acabar com as suspeitas", mas decidiu suspender as escavações para evitar novas fissuras nos imóveis. Contratou um estudo geotécnico e geofísico e já começaram as sondagens para tentar esclarecer o problema.
A deputada Bella Gonçalves avisou que fará uma audiência pública para debater o problema. “Eu imagino a angústia dessas famílias ficarem muitas vezes sem saber qual alternativa elas vão ter”, lamentou.
Concessionária é responsabilizada
Os participantes da audiência pública responsabilizaram diretamente a Copasa por todos os problemas de saneamento que a cidade ainda sofre.
Cristina Oliveira, do SOS Vargem das Flores, acusou a empresa de fazer apenas manutenções emergenciais e poucas preventivas. Os insuficientes investimentos em ampliação das redes e melhoria da qualidade do serviço também foram criticados por ela. “Desde quando as ações da Copasa passaram a ser negociadas na Bolsa de Valores a empresa passou a ter mais interesse no lucro do que na prestação de serviços”, reprovou.
Ela ainda apontou o alto índice de desperdício apresentado pela concessionária. Em 2024, no Brasil as perdas foram de 37,8%, enquanto da empresa mineira foi de 38,8%, acima da média nacional. “A água é desperdiçada mas ela vai para nossa conta”.
A deputada Bella Gonçalves concordou com a ativista e exortou a plateia a se mobilizar para impedir a privatização da empresa, como deseja o governador Romeu Zema. “Água e energia não são mercadoria”, alegou ao considerar que a transferência para a iniciativa privada piora e encarece os serviços, prejudicando a sociedade.


