78ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 26/11/2025

Palavras do deputado Leleco Pimentel

O deputado Leleco Pimentel – A nossa saudação de boa tarde aos trabalhadores, aos representantes do sindicato, do Sindágua. Que coisa bonita de ver! Os servidores do sistema estadual de meio ambiente, mesmo tendo tido aqui uma importante vitória, não deixaram de ser solidários e estão aqui juntos com aqueles que defendem a água como soberania e não como mercadoria. Portanto eles defendem a Copasa pública. É esse o chamado que queremos estender às demais categorias, aos demais servidores, à população, aos movimentos populares. A única batalha que a gente perde é a que a gente não luta, não é, Betão? Não é, Beatriz? Se não lutarmos, nada vai mudar. Temos uma semana dura e uma pauta mais dura ainda. Mas aqueles que deixam de lutar terão um problema de consciência depois. Terão que recorrer à consciência para responder: “Por que eu não lutei? Por que eu não contribuí? Por que a gente não se somou àqueles que já tinham consciência de que é só por meio da luta que a gente avança?”. Esta é a segunda sessão marcada no Plenário para uma das coisas mais cruéis…

Isso depois do aulão no Mineirão, não é? Nós não podemos deixar de falar das trapalhadas do governo – como se isso fosse apenas uma questão jocosa, mas não é. Houve muita gente ferida, machucada, houve muito jovem traumatizado, deputada Beatriz. Aliás, eu ouvi da deputada Beatriz o alerta: “Esse trem não vai dar certo”. Mas Zema não escuta ninguém; o prepotente do vice-governador, muito menos. Ele só sabe arrotar arrogância. E ainda arrumam um secretário de Educação maluco, que não sei de onde veio nem para onde vai. Aliás, ficamos sabendo hoje, deputada Beatriz, que ele vai para a Índia, eu acho. Quero respeitar o modo e a cultura de cada povo, mas quem sabe ele volte de lá tendo aprendido alguma coisa? Aqui, não aprendeu nada. O aulão deu a eles uma dose cavalar da realidade de que com educação não se brinca. Educação não é ringue de torcida de futebol.

Aqui também o ringue da luta está nos convocando a demonstrar que não se trata de Cruzeiro e Atlético, com o América no meio. Uai, cadê o Alencar? Sumiu? Estamos diante da dura realidade do povo mineiro, que terá, sob a votação dos deputados da base de Zema e de um bloco que ainda espero acordar, uma decisão dura, que trará o aumento do preço da conta de água, sem com isso garantir água. Olhem que legal isso. É contraditório, não é? Nos lugares aonde a privatização chegou – digo, Ouro Preto – a água está contaminada de arsênio e soda cáustica. Ali, durante mais de 70 anos, a fabricação da alumina – processo que utiliza soda cáustica a 1.000ºC para, depois, se chegar ao alumínio – contaminou o solo. Inclusive, havia um sistema de água que monitorava as áreas contaminadas. Depois que chegou a empresa Saneouro, não temos mais garantia de fiscalização da qualidade da água, Betão.

Em Ouro Preto, existe o risco de o povo estar tomando arsênio. Arsênio, quando não é tomado em dose suficiente para matar, vai trazendo problemas graves, tão graves que, depois da morte, o diagnóstico é de câncer, de problemas de esquecimento. Chega-se, inclusive, à condição de patologias severas. É claro que os nexos causais disso tudo… Nos homens, isso causa câncer na bexiga. No Canadá, onde a empresa Alcan tinha sede, foi feito um estudo que mostrou que o câncer na bexiga está diretamente ligado aos venenos, a toda a eletrólise, aos químicos usados na produção do alumínio. Aos homens, isso causou câncer na bexiga e morte precoce.

Eu, morador da Bauxita, digo que, naquela terra vermelha, em se plantando tudo dá. Pode-se fazer até tijolo. Essa terra está contaminada, e essa contaminação chega ao lençol freático. É essa a água que a empresa privatizada coloca na torneira do povo. Se quiserem descobrir mais um pouco, vamos pesquisar o que está acontecendo em Ouro Preto, lugar onde a tarifa de água chegou a 300% de aumento, deputado Grego. E o senhor conhece bem essa realidade. O senhor também é de uma área minerada da bauxita, lá de Muriaé. O senhor sabe que há uma grave contaminação do solo. É uma contaminação que tem de ser monitorada. Do contrário, há o risco de continuar aumentando a população que vai para o hospital do câncer. O senhor é o Grego da Fundação e sabe que a instituição Cristiano Varella é que cuida de pacientes com câncer, que não são só da região. Ela cuida também da população local. Eu posso dizer ao senhor que isso tem a ver com todos os ataques que a mãe Terra recebeu, inclusive na produção do alumínio. O senhor é conterrâneo do nosso ex-vice-presidente da República José Alencar.

Eu estou aqui colocando que a história une as cidades que são exploradas pela mineração e que depois têm de gastar bilhões. E nunca, nunca chega a solução, porque o lençol freático está lá contaminado. E isso não ocorre só na região de Muriaé, mas em Leopoldina, em Cataguases. Em todos os lugares aonde a mineração chega, ela deixa um rastro de morte, de exclusão e de alta conta para a saúde.

Portanto quero alertar a população: quem envenena a água não está nem ligando, porque o dinheiro vai cair no bolso, mas isso não limpa a consciência. Dinheiro não limpa a consciência. Aqueles que estão acreditando que emenda parlamentar ou alguma benesse que esses bancos, como o Pactual, que está nesses dias propondo… Eles estão acreditando que vão conseguir limpar a consciência. Eu vou apelar para a consciência, porque o pudor me parece ser algo que cada um aqui vai ter que usar na hora do voto. Eu venho a este Plenário para dizer que, lamentavelmente, Zema conduziu a privatização da nossa superavitária… Inclusive já foi mencionado o valor, não o valor em dinheiro que a Copasa tem em Minas. Ele conduziu a privatização, como quem não ouve ninguém, e passou por cima de toda a crítica.

Nós estamos na segunda reunião. Às 18 horas, vai haver outra. Amanhã, se alguns deputados estiverem aqui, vai haver outra, assim como na semana que vem, na terça-feira. Infelizmente, contados os prazos do 1º turno, esse projeto de lei cruel, cruel, virá a Plenário. É uma vergonha. Que vergonha! Não tenho nem palavra para dizer. Não tenho palavra para dizer. Quer explicar para quem? Quer explicar para quem? Vá a São Paulo. Estou pedindo para ir a Ouro Preto, a 80km só. Se alguém quer ir mais longe, vá a São Paulo. Vá ao Rio de Janeiro ver o que aconteceu com a privatização da Cedae. Vá a São Paulo ver o que aconteceu com a privatização da Sabesp. Vá a Ouro Preto saber o que fizeram com a privatização do sistema municipal. Vá a Valadares.

Um deputado que saiu desta Casa… Gente, eu não gosto de ser mau agouro, não, mas o deputado Coronel Sandro deve estar tendo noção do que é ter água privatizada e uma população inteira com sede, não acreditando que o sistema municipal vai dar conta de abastecer uma cidade daquele porte. Eu desafio, inclusive, os governistas a trazerem aqui o Coronel Sandro, aquele mesmo que estava aqui com a gente há até pouco tempo e que agora é prefeito de Valadares. Chamem-no e peçam a ele para dizer aqui que a privatização vale a pena. Nós estamos aqui pedindo também a manifestação da prefeita Marília. É importante que ela faça um pronunciamento. É importante que ela diga que a Copasa é importante.É importante que Álvaro Damião, aquele que é bom no microfone da Itatiaia, que agora é prefeito, venha aqui. Ele agora precisa dizer que Zema está dando um tombo na população de Belo Horizonte. Vamos desafiar o Álvaro Damião a vir aqui fazer um pronunciamento ao povo, dizer o que vai acontecer se a privatização acontecer e falar do prejuízo de quase R$2.000.000.000,00 que a Copasa investiu na melhoria do sistema de abastecimento. Diga um exemplo! Não há, gente. Não há. O pessoal gosta de falar da Europa. Aliás, tudo o que não presta lá eles mandam para cá, como os agrotóxicos. Há o exemplo de Setúbal, na Espanha. Há o exemplo de Paris, na França. Vá! Procure um exemplo para entender que com água a gente não brinca.

Aliás, lembro o Pe. Claret, uma de nossas referências no Movimentos dos Atingidos por Barragens, que sempre nos dizia: “A gente, com a nossa arrogância, acredita que vai dominar e acabar com a natureza. Bestas que somos, porque a natureza se reinventa, e sem a gente”. Por essa razão existem ainda negacionistas que acreditam que não há mudança climática irreversível, que não há problemas com a emissão de gases ou que a água não está contaminada. Vai ser exatamente por aí que o peixe vai morrer pela boca. Com toda tristeza, digo que quem morrerá com água contaminada pela boca serão os mais pobres. E isso acontecerá devido à ganância daqueles que só pensam em dinheiro e que não conseguiram compreender que a água é um direito humano. Não conseguiram compreender também que os mais pobres só têm acesso a esse bem quando o poder público garante, como política pública, água em quantidade e com qualidade na torneira, na caixa d'água limpa e para o agricultor e a agricultora produzirem a comida que vai à mesa. Assim, a gente faz aqui um apelo a todas e todos.

Vamos conclamar também a presença – a fundamental presença – dos movimentos e dos “copasianos” nesta Assembleia, na terça-feira, além de termos as outras ações. É preciso constranger aqueles e aquelas que – vocês sabem bem – não estão do lado do povo. Quero aproveitar a presença do nosso presidente da Comissão do Trabalho, Previdência e Assistência Social, deputado Betão, para dizer que, ainda na quarta-feira, teremos a convocação – já está convocado – do presidente da Cemig para explicar o que ele fez para privatizar a Gasmig com as denúncias da notícia-crime e o que ele e Zema estão tramando para trazer a Cemig ao bojo das privatizações novamente.

Queremos dizer ao presidente Tadeu: mantenha a sua palavra, presidente Tadeu. Não deixe a Cemig entrar na lista de Zema, que tem a sanha pela privatização. Vou novamente dizer: presidente Tadeu, mantenha a sua palavra e não deixe a Cemig entrar na agenda da sanha da privatização de Zema e do vice-governador, que são dois bolsonaristas declarados e nesses dias já viram o seu ídolo na cadeia. Então o povo não está aqui de bobo. Ontem os generais foram para a cadeia. Bolsonaro está preso e, daqui a uns dias, vamos ter gente em Minas Gerais. Se Deus quiser, com muita luta, vamos vencer essa pauta. Obrigado a todos e todas. Registro nossa saudação. Peço desculpas, deputado Grego, por ter citado o caso de Muriaé, mas tenho certeza de que o senhor compreende a relação de exploração, poluição e corrupção que há. A gente sabe que isso está ligado também à privatização da Copasa.