Pronunciamentos

DEPUTADO LELECO PIMENTEL (PT)

Discurso

Destaca os 10 anos do rompimento de barragem no Município de Mariana, criticando a falta de reparação aos atingidos e os benefícios concedidos a mineradoras pelo governo do Estado. Critica o governador Romeu Zema pela tentativa de retirar a obrigatoriedade de referendo popular para autorizar a privatização da Companhia de Saneamento de Minas Gerais – Copasa –, medida prevista na Proposta de Emenda à Constituição nº 24/2023. Defende que a luta contra a PEC deve ocorrer no Parlamento, condenando atos como a queima de pneus, mas defendendo o direito dos movimentos populares de se manifestarem. Comenta desentendimento com deputada, destacando que sempre defendeu o respeito às mulheres e apoiou a luta feminina.

32ª REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 5/11/2025

Palavras do deputado Leleco Pimentel

O deputado Leleco Pimentel – Hoje a luta é de cada um de vocês. Parabéns, Andréia! Eles estão aqui parabenizando a sua fala. O único motivo que hoje nos dá esperança, neste Plenário, é exatamente a presença de vocês na luta. E eu quero dizer por quê. Primeiramente é porque é um dia muito triste para mim! Eu trabalhei na horta de Bento Rodrigues, eu vi a Samarco destruir a horta comunitária, eu vi a Samarco, a Vale e a BHP matarem a fauna e a flora e assassinarem 20 pessoas em Mariana. Esses 10 anos decorridos sem ninguém preso também tem o dedo de Zema! Além do fato de a Justiça não ter condenado as empresas, as empresas mineradoras continuaram a ter regalias no governo de Zema. Portanto o Zema tem o dedo onde há injustiça social. E o pior de todas as tristezas deste dia é ver a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, num ato de burrice extrema, retirar o direito de a população ser consultada a respeito da privatização do seu patrimônio e da sua soberania.

Vocês sabem – vocês sabem! – que nós chamamos essa PEC de PEC do Cala a Boca, porque quem vai votar, na surdina da noite, está calado! (– Manifestação nas galerias.) Eu quero pedir a vocês…. Eu não estou falando para os ouvidos surdos daqueles que vêm para cá de vez em quando, quando a gente pede recontagem. Eu estou falando com o povo. Eu só quero um minutinho, por favor! Pessoal, eu quero um minutinho de vocês.

Presidente Tadeu, ontem eu subi na tribuna deste Plenário, em solidariedade e respeito a V. Exa., para dizer que era desproporcional alguém colocar fogo na tentativa de impedi-lo ou impedir os moradores de um prédio de sair. Eu refaço aqui a minha palavra, dizendo o mesmo, porque a nossa luta é no parlamento. No entanto, nenhum de nós, do Bloco Democracia e Luta, criminaliza a luta dos movimentos populares. Nós não podemos comparar manifestação com o que aconteceu no 8 de janeiro, porque ali foi barbárie, e aqui é a defesa dos direitos, porque o povo está perdendo direito e tem o direito de falar. Então, deputado Tadeu, ao reconhecer que esta Casa está com a galeria cheia de lutadores que não querem ver o patrimônio do povo vendido, ao enxergar que, na porta da Assembleia, os movimentos se uniram hoje… É claro que foi em razão dos 10 anos, mas coincidiu com essa triste data em que os deputados e deputadas vão decidir pelo povo. Quando há uma crise de representação, a gente nota que a votação não corresponde ao desejo da população de Minas Gerais. É isso que acontece.

Eu sei que, outro dia, nós todos ficamos aqui até as 4h30min da manhã. Por isso eu quero até aproveitar e fazer um pedido ao deputado Ulysses. Em nome do Bloco Democracia e Luta, nós temos de corrigir a nota que foi realizada ontem, porque o Levante da Juventude e todos os movimentos merecem o nosso respeito. Eles têm autonomia e não podem ser comparados com criminosos. Isso não pode acontecer e não vai ter a nossa anuência.

No entanto, mesmo divergindo, mesmo divergindo, eu tenho completa ciência de que, no outro dia, quando subi a este Plenário, e vocês da galeria gritaram um apelido para uma deputada, eu só tomei conhecimento naquele momento. Eu pedi que mesmo assim ainda pudessem respeitar. Hoje quero dizer isso porque muitas mulheres me pediram para explicar que este deputado que aqui está é um deputado que está na luta das mulheres. Comparar este deputado com machismo é não me conhecer. No entanto, eu discordo da forma, eu discordo do jeito, eu discordo das palavras. Eu não apoio o que a deputada vem sempre fazendo, que é provocar os movimentos.

Eu levei ao presidente Tadeu, há poucos dias, uma proposta de um protocolo para que a gente pudesse ter a fiscalização tanto de Minas como do Espírito Santo, para que, nesses 10 anos, a Assembleia possa atuar, porque a nossa preocupação, meus companheiros e minhas companheiras, é que agora querem dividir a água de Minas em quatro blocos; querem retirar o dinheiro daqueles que podem contribuir, mas não querem colocar o dinheiro no Jequitinhonha, que tanto precisa. Por isso que nós vamos lutar contra essa injustiça. Querem o dinheiro da repactuação, por isso querem vender a Copasa e roubar os bilhões que estão previstos para o saneamento. (– Manifestação nas galerias.) Eles querem entregar para a Faria Lima, para as empresas que vão ser controladas e que vão botar dinheiro na campanha fake de Zema. É isso que querem.

Por isso que esta data, como comecei a dizer, é uma triste coincidência, uma triste coincidência, mas ela não é culpa do povo. Primeiro porque a decisão de matar as pessoas, a decisão de arruinar a Bacia do Rio Doce, a decisão de fazer barragem para estourar na cabeça do povo não foi do povo, foi dos gananciosos da Samarco, da BHP e da Vale, assim como a decisão de tirar o referendo para a Copasa é uma decisão que não é do povo. Essa é uma decisão dos deputados da base de Zema. Por ser uma decisão que deveria ser freada pela Casa, nós já manifestamos ao presidente Tadeu que o Bloco Democracia e Luta não concorda com a retirada do referendo para as estatais, nem para a Copasa, nem para a Cemig, nem para a Gasmig, porque esse povo não construiu nada disso e só quer vender e lucrar. Por esta razão discordamos, e o Bloco Democracia e Luta não se furtou… Cada deputado e cada deputada que vêm a este Plenário e sobem a esta tribuna têm responsabilidade com os servidores da Copasa, com os servidores do sistema do meio ambiente e têm responsabilidade com o povo. Eu continuo a perguntar: qual daqueles que vai votar hoje e que apoia o governo Zema vai ter coragem de subir aqui para explicar isso para o povo?

Por isso, neste minuto final, eu quero lembrar de um canto popular que sempre nos fez colocar as pessoas a pensar. (– Canta:) “Nosso direito vem, nosso direito vem, se não vem nosso direito, Minas vai perder também; nosso direito vem, nosso direito vem, se não vem nosso direito, Minas vai perder também; nosso direito vem, nosso direito vem, se não vem nosso direito, Minas vai perder também; nosso direito vem, nosso direito vem… (– Manifestação nas galerias.) Águas para a vida, não para a morte! Águas para a vida! Obrigado, presidente.

O presidente – Obrigado, afinado deputado Leleco.