DEPUTADO CRISTIANO SILVEIRA (PT)
Discurso
Legislatura 20ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 07/11/2025
Página 5, Coluna 1
Indexação
Proposições citadas PEC 24 de 2023
32ª REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 5/11/2025
Palavras do deputado Cristiano Silveira
O deputado Cristiano Silveira – Bom dia, companheiros, deputadas e deputados, trabalhadores da Copasa, movimentos sindicais, trabalhadores do Sindsema. Quero aqui cumprimentar o Sindágua pela mobilização e resiliência que vem demonstrando durante todo esse processo. (– Manifestação nas galerias.) Também quero dizer que várias coisas colocadas na votação dessa matéria, no processo e no debate desse assunto, têm como consequência objetiva a privatização da Copasa, que é o desejo do governador Romeu Zema. Isso trará consequências que nós já listamos aqui para todos vocês: consequências do aumento do custo da água para os mineiros, consequência da precarização do serviço, consequência das demissões que vão acontecer com um conjunto expressivo de trabalhadores da Copasa. O governo passa a não ter mais gestão sobre o recurso tão fundamental para todos nós: os nossos recursos hídricos estratégicos. Eu já trouxe aqui a informação que teremos consequências, a exemplo do que está acontecendo em outros estados. Já citei Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, onde a privatização só trouxe consequências negativas.
Durante a discussão, fui apontando sobre estas consequências: aumento do preço da tarifa, a precarização e tudo isso que vocês têm acompanhado. Convidei algum colega aqui a favor dessa matéria para subir à tribuna e nos trazer aqui exemplo de algum lugar no Brasil onde isso foi bom e deu certo. E eu não me limitei a falar somente do que tem ocorrido no Brasil. Trouxe também dados do que está acontecendo na Europa, por exemplo, onde mais de 800 empresas de saneamento e de abastecimento de energia já foram reestatizadas. Gostamos muito de nos inspirar na Europa quando convém, mas quando não convém, ninguém está enxergando o que está acontecendo lá. Então trouxe todos esses argumentos e venho repetindo aqui na tribuna. Eu pedi aos colegas deputados para subirem aqui para trazer um exemplo. (– Manifestação nas galerias.) Um! Digam: “Deputado Cristiano, achei! Descobri! Achei! Lá na Cochinchina, talvez tenha acontecido uma experiência em que a privatização foi boa para o povo”. Não existe, gente. Vai ser boa para quem, então, a privatização da Copasa, meus amigos? Para quem? (– Manifestação nas galerias.) Ah, para o mercado financeiro, para os amigos de Romeu Zema. Quiçá Zema e Mateus Simões poderão ter doações vultosas para as suas campanhas. Talvez essa seja a única razão que justifica a obsessão deste governo com esse projeto.
Olha, não existe lógica. Esse projeto não tem lógica neste momento, em que o mundo caminha para a estatização de serviços essenciais e o Brasil já tem exemplos de estados que adotaram a privatização da água e estão em caos. Ah, bom, aí alguém fala o seguinte: “Cristiano, Cristiano, mas é o Propag, Cristiano!”. Qual Propag? Isso não tem nada a ver com o Propag. O próprio secretário-geral da Presidência, Guilherme Boulos, que está em Belo Horizonte e veio para o ato dos 10 anos do crime de Mariana – e ninguém foi preso até hoje, porque no Brasil é assim, não é? Para os ricos, não; mas, para o pobre, é todo dia… Pois bem, o Guilherme Boulos deu entrevista à Itatiaia e falou o seguinte: “O governo não concorda com a privatização da Copasa. O governo não está condicionando a privatização da Copasa ao Propag. O governo dilatou o prazo para que a discussão e o processo do Propag se deem sem a pressão que tentam fazer”. Isso não tem nada a ver com o Propag, não.
O que acontece? Não há mais ninguém… Até a base também já parou de falar em Propag. Viram que deram uma arrefecida? Não se trata do Propag. Até eles já pararam de falar em Propag, porque isso não tem relação nenhuma com o programa. A obsessão do Zema, desde o primeiro dia de mandato, é entregar as estatais. É uma obsessão que se amplia agora com seu desejo de se tornar um player para o mercado, dizendo que deu conta de fazer uma privatização. Ele não quer nem saber se o trabalhador vai ser demitido, não quer nem saber se vai ficar caro para o mineiro e não quer nem saber se o serviço vai ficar precário. Ele quer saber disto: alguém vai se dar muito bem, vai encher o bolso de dinheiro. É isso que está, no final das contas, nesse processo.
Eu acho que a imprensa deveria fazer uma pergunta à base do governo, aos líderes do governo. Olha só, quem sou eu… Quem sou eu, viu, gente? (– Manifestação nas galerias.) Esperem aí, senão meu tempo termina e eu não consigo falar. Quem sou eu para ensinar repórter a fazer pergunta? Quem sou eu? Mas acho que os repórteres poderiam perguntar o seguinte: “Deputado, qual é o objetivo da privatização da Copasa?”. Dirão: “É o Propag”. Então, perguntarão: “Deputado, se é, então, o Propag, por que vocês não apresentam um projeto de privatização da Codemig, que nem sequer precisa de tramitação de PEC nem dessa polêmica toda? Deputado, se a privatização da Copasa tem como pano de fundo o Propag, por que não a Codemig, que nem está prevista em PEC e vale muito mais do que a Copasa e resolve os 20% da entrada que vocês querem dar no Propag?”. Quem sou eu para ensinar repórter a trabalhar, mas, se eu fosse repórter, diria: “O deputado Cristiano, líder da Minoria, está dizendo que isso não tem nada a ver com o Propag. Vocês, então, podiam perseguir o caminho da Codemig, que vale muito mais, não tem a polêmica de mexer com PEC e de tirar direito do mineiro e não vai impactar a questão da água”.
É por isso que estou falando que isso não tem nada a ver com o Propag. Caiu por terra o argumento de que se trata do Propag. Já era! Trata-se da obsessão de entregar a nossa água e o nosso saneamento, que cuidam da saúde do mineiro, que cuidam disto aqui. (– Mostra um copo d'água.) Ninguém vive sem isso. (– Manifestação nas galerias.) Então esse negócio com que o Zema está obcecado se dá porque algum amigo dele já está prontinho para o capilé, entenderam? Ah, gente, deem outro argumento então! “Não, Cristiano, é o Propag.” Já expliquei que não é. “Não, Cristiano, é porque é bom. Foi bom lá na Cochinchina.” Não existe um lugar no mundo onde isso tenha sido bom. “Não, há um estado aqui no Brasil onde foi bom.” Não há nenhum lugar onde isso foi bom.
Imagine o senhor, deputado Doutor Wilson… Vai votar uma matéria… (– Manifestação nas galerias.) Eu, pelo menos, para votar ou deixar de votar a favor ou contra, trago aqui os meus argumentos. Aí falam assim: “Não, é porque, lá na minha cidade, está faltando água”.
Opa! Quero falar de novo o que já falei aqui: se a Copasa é considerada uma das melhores empresas do Brasil em saneamento, não sou eu quem está dizendo. Quem está dizendo é a revista Time, é o instituto não sei o quê, é a pesquisa não sei o quê. Comparam a Copasa com empresa privada, comparam a Copasa com empresa pública, e ela está entre as melhores do Brasil, mesmo com todo o problema que possa ter. Agora, por que não pode ser melhor? Porque quem a dirige é o acionista majoritário, porque Zema não acredita nela e quer sucateá-la.
O povo do Barreiro está reclamando que começou a faltar água e não faltava; há cidades que falaram que está começando a faltar água e não faltava. Eu já dei esse exemplo aqui: isso é igual a uma Ferrari, a um carrão possante. “Oh, Cristiano, mas o carro está esbarrando demais.” Ei, não precisa trocar o carro, não. Troque o motorista. O problema não é o carro, o problema é o motorista. Tire o Partido Novo do governo de Minas Gerais, que você vai ver a Copasa tornar-se uma potência. Ela já é uma potência com todo o problema que possa ter em um ou outro município.
Eu quero mandar um recado para prefeito, viu? Você, prefeito que acha que a situação está ruim, saiba que vai ficar pior. Piorou na cidade pequena, onde é deficitária, então quem comprar a Copasa vai falar: “Não quero trabalhar nessa cidade, não. Fale para o prefeito que agora é problema dele, que ele se vire.” Prefeito, atenção para o que vai acontecer, porque você vai ser impactado também. Obrigado, presidente.
O presidente – Obrigado, deputado Cristiano.