Hospital oncológico não tem equipamento para radioterapia
Servidores do Alberto Cavalcanti denunciam que governo estadual não cumpre promessa de investimentos e pedem apoio.
05/10/2021 - 18:09Servidores denunciam que acordo feito com o governo estadual, liderado pelo governador Romeu Zema (Novo), para aumentar em 300% o investimento na área de oncologia do Hospital Alberto Cavalcanti não tem sido cumprido. A inexistência de equipamento para radioterapia, essencial para 60% dos pacientes do hospital, foi o maior problema apresentado pelos participantes de audiência pública na tarde desta terça-feira (5/10/21).
Durante a reunião, realizada pela Comissão de Participação Popular da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), médicos, enfermeiros e usuários do hospital defenderam investimentos na instituição. Até 2019, o hospital, localizado no bairro Padre Eustáquio, em Belo Horizonte, tinha uma área de urgência e emergência, que foi fechada para que a instituição se tornasse referência apenas em oncologia.
Consulte o resultado e assista ao vídeo completo da reunião.
De acordo com Leonardo Nicácio, da coordenadoria do serviço de imagem do hospital, o fechamento foi fruto de um acordo com o governo estadual, que aumentaria os investimentos na área da especialização. “A promessa de investimento precisa ser cumprida com rigor e critério. E os servidores, que conhecem o dia a dia do hospital, precisam ser ouvidos para contribuir nesse processo”, disse.
Um dos principais problemas atualmente, de acordo com a coordenadora de enfermagem, Giselle Vaz Costa, é a falta do equipamento necessário para realizar a radioterapia, que está estragado desde 2013. Os principais tratamentos oncológicos são cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Muitas vezes, a indicação é para que tais tratamentos sejam oferecidos de forma concomitante.
Na prática, como explicou a servidora do hospital, frequentemente um paciente precisa sair da quimioterapia, em sessões que geram náuseas e desconfortos, e pegar um ônibus, às vezes mais de um, para realizar sessões de radioterapia em outras unidades de saúde. "Precisamos oferecer tratamento integral aos pacientes, isso é urgente", salientou. Ela lembrou, ainda, que muitos desses pacientes têm dificuldades inclusive para ter o dinheiro das passagens de ônibus.
Ainda de acordo com Giselle Vaz Costa, sete hospitais em Belo Horizonte atendem pacientes do SUS na área oncológica. Desses, porém, apenas dois são públicos, o Alberto Cavalcanti e o Hospital das Clínicas. Os demais, são hospitais filantrópicos conveniados. Ela pediu prioridade para as instituições públicas, como as normativas do Ministério da Saúde preconizam.
Diretor promete investimentos
Em resposta às demandas apresentadas, o diretor-geral do complexo de especialidades dos hospitais Júlia Kubitschek e Alberto Cavalcanti, Samar Musse Dib, disse que os investimentos na instituição estão sendo negociados com a Secretaria de Estado de Saúde. Segundo ele, a administração compartilhada dos dois hospitais, no Complexo de Especialidades, pretende ampliar a área de atuação do Alberto Cavalcanti para além da Capital, de forma a possibilitar os investimentos.
Conforme informou, o município de Belo Horizonte, que participa dos colegiados nos quais as decisões estratégicas da área de saúde são tomadas, já tem o número de equipamentos desse tipo considerado ideal para o número de moradores. Assim, é necessário transformar o Alberto Cavalcanti em referência para um macroterritório, de forma a viabilizar a compra de um novo equipamento de radioterapia.
Essa transformação, segundo Samar Dib, já está sendo pensada a partir da criação do Complexo de Especialidades. Segundo ele, como o Alberto Cavalcanti é pequeno do ponto de vista da estrutura física, levar a parte administrativa para o Júlia Kubitschek vai liberar espaço para atender a mais pacientes. Além disso, este hospital tem grande especialização em áreas como cirurgias toráxicas e, assim, pode absorver as demandas para esses procedimentos.
No entanto, Marcelino Jonas, da Associação dos Trabalhadores em Hospitais de Minas Gerais (Asthemg), ponderou que a promessa é pouco. "Precisamos do investimento e precisamos agora, não precisamos de mais estudos e promessas", disse, ressaltando que o hospital está com acúmulo de cupins em algumas áreas, o que evidencia o abandono. Ele argumentou, ainda, que a junção administrativa com o Júlia Kubstchek é apenas uma tentativa do governo estadual de gerar economias, não de melhorar os investimentos.
Precarização
O deputado Professor Cleiton (PSB), autor do requerimento que deu origem à reunião, afirmou que a instituição tem sido sucateada. Para ele, como o atual governo tem manifestado, desde 2019, o desejo de entregar os hospitais do Estado para organizações sociais (OSs), a precarização dos serviços pode ser uma tentativa de angariar apoio para tal proposta.
Nesse sentido, o parlamentar citou a tentativa de entregar para uma OS o Hospital Regional de Patos de Minas (Alto Paranaíba). “A população daquela região já tem um trauma porque o Hospital São Lucas, que era histórico, foi fechado depois de ser entregue a uma OS”, destacou. Ele afirmou, ainda, que a experiência com hospitais entregues a organizações sociais foi amplamente utilizada no Rio de Janeiro e não deu certo.
Professor Cleiton lembrou, então, que o governador Romeu Zema vetou o Projeto de Lei (PL) 1.088, que visa proibir a transferência da gestão de hospitais e de escolas públicas para entes privados. Como o veto ainda será apreciado na ALMG, que pode derrubá-lo, ele pediu que os convidados pressionassem os deputados nesse sentido.
Participação – Ao longo da reunião, o deputado Professor Cleiton leu várias mensagens de pessoas que acompanhavam a reunião de forma virtual. Eram, em sua maioria, usuários e servidores do hospital, que pediram mais investimentos no hospital. Alguns reivindicavam, ainda, o retorno da urgência e emergência. Os servidores entregaram um documento, com mais de 300 assinaturas, que pede investimentos no Hospital Alberto Cavalcanti.