Deputada ouviu relatos das professoras da escola rural
A unidade fica na zona rural de São Joaquim de Bicas e faz parte da E.E.Sandoval Azevedo

Escola rural ainda sofre por causa de rompimento de barragem

Professores precisam atravessar rio Paraopeba de barco; moradores afirmam que aumentaram problemas de pele e diarréia.

02/12/2019 - 15:27

A Escola Elizabeth Teixeira, que é um núcleo rural da Escola Estadual Sandoval Azevedo, no município de São Joaquim de Bicas (RMBH), é mais uma local onde as pessoas ainda sofrem as consequências do rompimento da Barragem do Córrego do Feijão, da Mineradora Vale, em Brumadinho (RMBH). A escola recebeu a visita da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), na manhã desta segunda-feira (2/12/19).

Quase um ano após a tragédia, professores relataram à presidenta da comissão, deputada Beatriz Cerqueira (PT), o drama que enfrentam todos os dias para chegar à escola, uma vez que a principal estrada que dá acesso ao local ficou muito prejudicada, com a lama da barragem que chegou até ali, e ainda não foi reparada.

A maioria das professoras que trabalham no local, vindas de Bicas, Ibirité (RMBH) ou Belo Horizonte, têm que atravessar um trecho do rio Paraopeba num barco, que, segundo elas, não oferece nenhuma segurança e as deixa expostas à água ainda enlameada e possivelmente contaminada. Depois, ainda precisam caminhar 40 minutos a pé.

A escola fica dentro do acampamento Pátria Livre, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e atende a cerca de 120 alunos, entre crianças do ensino fundamental I e II e adultos do programa Educação de Jovens e Adultos (EJA). 

Para a professora Rita de Fátima Copertino, que mora do Barreiro de Cima, em Belo Horizonte, o rompimento da barragem prejudicou a saúde das crianças e dos professores. "Hoje eu gasto quase 4 horas para chegar à escola, tenho que sair de casa de madrugada e não consigo chegar aqui às 7 da manhã. As crianças também enfrentam uma estrada terrível a pé", disse a pedagoga.

Comissão vai cobrar melhorias para escola

Os moradores reclamaram, ainda, do aumento no número de erupções e infecções de pele nas crianças, assim como aumento dos casos de diarréia, principalmente nos primeiros meses após a tragédia. Ana Margarida Mendes, de 74 anos, aluna do EJA e voluntária no pequeno posto de saúde improvisado ao lado da sala de aula, contou que a comunidade tenta tratar as doenças com remédios naturais, como chás e pomadas, mas em muitos casos tiveram que recorrer aos hospitais da região.

Após ouvir os relatos das professoras, a deputada Beatriz Cerqueira disse considerar muito grave o fato de a empresa Vale não ter dado nenhuma assistência à escola, nem às professoras, nem à saúde das crianças de lá. "A visita da comissão é uma decorrência do que foi apurado pela Comissão Parlamentar de Inquerito (CPI) da Barragem de Brumadinho. Como uma das nossas tarefas, nos comprometemos a acompanhar todas as escolas que foram prejudicadas pelo crime da Vale", apontou.

A deputada também ressaltou a importância da escola para a comunidade local, que não teria como se deslocar até outras regiões da cidade. "Precisamos lutar para melhorar as condições de trabalho aqui porque essa escola é muito importante para esse território", afirmou. "Vamos levar essa cobrança ao poder público estadual e à Vale, para que nos dêem uma resposta o mais rápido possível sobre o trajeto das professoras e também sobre a valorização da escola", concluiu.

Paraobepa - O assentamento e a Escola Elizabeth Teixeira ficam próximos a uma aldeia Pataxó, que fica às margens do Paraopeba e que também foi prejudicada com a contaminação do rio pelos rejeitos da barragem rompida. Durante os trabalhos da CPI, um grupo de parlamentares também visitou a aldeia, em abril deste ano.