Mário Campos cobra solução para contaminação de água
Moradores relatam turbidez e falam em efeitos para a saúde. Copasa nega problemas e reafirma boa qualidade da água.
20/11/2019 - 22:32Sob protestos dos moradores, o representante da Copasa, Gilberto Gouveia, afirmou que a água distribuída no município de Mário Campos (Região Metropolitana de Belo Horizonte) tem boa qualidade.
Em audiência pública realizada na Câmara Municipal da cidade, moradores e vereadores mostraram vídeos e fotos de águas turvas saindo das torneiras, situação que eles atribuíram ao rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (RMBH) no início do ano. A reunião foi realizada na noite desta quarta-feira (20/11/19) pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Em um auditório lotado, vários moradores da cidade falaram sobre a desconfiança em relação à água. Além da cor turva, a água estaria causando mais diarreia nas crianças, além de coceiras e problemas de pele.
Vários dos presentes relataram, ainda, cortes frequentes do fornecimento. Mário Campos era abastecida por sistema de captação do Rio Paraopeba, bacia que foi tomada pela lama que vazou do rompimento da barragem. Já foi realizada uma reunião semelhante em Betim, na qual os mesmos problemas foram relatados.
Gilberto Gouveia, da Copasa, disse que, entre janeiro e outubro de 2019, foram realizadas 370 análises e reafirmou que a água não está contaminada. Segundo ele, algumas manutenções na rede podem gerar a turbidez da água e estaria aí o problema.
A população reclamou e reafirmou que não seriam problemas pontuais, mas sim contínuos. A deputada Beatriz Cerqueira (PT), autora dos requerimentos que deram origem às reuniões de Mário Campos e de Betim, evidenciou que os relatos descrevem duas realidades opostas: os moradores mostram a água turva, enquanto a Copasa diz que a água é de boa qualidade.
Reforçou a posição oficial da Copasa o superintendente de produção da RMBH da empresa, Mauro Diniz. Ele sugeriu que todos os que têm vivenciado problemas de turbidez da água comuniquem imediatamente a empresa para que sejam mapeados os locais com problemas.
Segundo o promotor de justiça Luís Gustavo Bortoncello, esse foi o acordo feito com a empresa: diante das denúncias de moradores, serão enviados técnicos àquelas moradias específicas para coletar água e a resposta da análise será dada diretamente ao denunciante.
O promotor pediu que todos ajudem a fiscalizar o cumprimento desse compromisso da Copasa e a relatar para o Ministério Público qualquer descumprimento. Ele afirmou, ainda, que uma auditoria independente está fazendo análises de possíveis contaminações nos solos, nos lençóis freáticos e no ar. Os laudos serão encaminhados tanto aos órgãos fiscalizadores quanto às comissões de moradores atingidos.
Agricultores também enfrentam entraves para vender produtos
Várias outras demandas foram apresentadas pelos moradores e o grande assunto foi a agricultura. Os convidados disseram que o município é parte do chamado “cinturão verde” de Belo Horizonte e que grande parte dos recursos que circulam em Mário Campos são advindos da venda de hortaliças para municípios vizinhos. Desde o rompimento da barragem da Vale, porém, muitos compradores têm recusado os produtos da cidade por medo de contaminação.
O promotor Luis Gustavo Bortoncello afirmou que o Ministério Público tem atuado também na defesa dos agricultores e que já foi solicitado judicialmente um adiantamento de indenizações, no valor de R$ 30 mil por agricultor. A Vale, segundo ele, negou esse acordo e o juiz que apreciou o pedido também indeferiu a solicitação. O Ministério Público já recorreu da decisão e tem tentado revertê-la.
Também esteve presente o subsecretário de política e economia agropecuária da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, João Ricardo Albanez. Ele afirmou que a secretaria, em parceria com órgãos como Emater, já tem um plano para ajudar na recuperação desses agricultores. O plano estaria no Ministério Público, que deve referendar as propostas antes de elas serem apresentadas a atingidos e à Vale.
Uma das presentes ressaltou, porém, que os agricultores que serão indenizados serão apenas os donos das terras. Questionou, então, como ficará a situação dos trabalhadores que, muitas vezes, prestavam serviços nas propriedades de maneira informal. Alguns, segundo ela, menores de idade e, portanto, em trabalho ilegal. Esses, mais vulneráveis, teriam sido esquecidos, segundo ela.
Outra falou da dificuldade de comprovação da atividade, já que muitos dos negócios eram feitos na base da confiança estabelecida há anos, não por meio de contratos formais de fornecimento de hortaliças.
A deputada Beatriz Cerqueira se comprometeu a fazer nova audiência pública para tratar especificamente da situação dos agricultores atingidos pelo rompimento da barragem.