Questões ligadas aos direitos das mulheres, das comunidades tradicionais e de outros segmentos sociais vulneráveis foram abordadas na reunião
A expedição de carteiras com nomes sociais, para a comunidade LGBT, foi questionada por Andréia de Jesus
Deputados reclamam de excesso de políticas geridas pela mesma secretaria

Fundo de Erradicação da Miséria poderia ajudar ações sociais

Proposta foi feita por parlamentar à titular da Sedese, como alternativa para contornar orçamento reduzido da área.

10/10/2019 - 16:07

A destinação de recursos do Fundo de Erradicação da Miséria (FEM) para as ações da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese) foi uma das propostas apresentadas na manhã desta quinta-feira (10/10/19) à secretária Elisabeth Jucá, durante sua prestação de contas ao Parlamento mineiro, no segundo ciclo de reuniões do Assembleia Fiscaliza.

A sugestão partiu do deputado André Quintão (PT), que apontou a grande concentração de temáticas e de conselhos na estrutura da Sedese, em contraste com o reduzido orçamento destinado à pasta.

O parlamentar observou que entre 80 e 90% dos recursos do FEM são gastos com folha de pessoal da Emater, a Empresa de Assistência Técnica e Rural do Estado, e com transporte escolar, ao invés de serem utilizados para assistência social.

Segundo o deputado, a previsão de arrecadação do FEM, este ano, é de R$ 650 milhões, enquanto o orçamento da Sedese é bem inferior. “Perdemos esse debate na discussão da reforma administrativa”, lamentou, destacando ainda que os recursos do FEM se originam da tributação adicional de supérfluos, bebidas e cigarros e que há um projeto de lei em tramitação na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) propondo a prorrogação dessa tributação.

O baixo orçamento da pasta também foi destacado pela deputada Rosângela Reis (Pode), que se disse surpresa com a baixa execução orçamentária diante da amplitude da secretaria. Segundo a parlamentar, do orçamento do Estado, a Sedese teve aprovados R$ 318 milhões, dos quais teriam sido executados até agora somente R$ 93,3 milhões.

A secretária explicou que o orçamento da área está contingenciado e mencionou que ainda há um grande passivo de restos a pagar deixado pela administração anterior.

Parlamentares cobram ações em favor do esporte e das mulheres

Ações de incentivo ao esporte, de combate ao desemprego e de prevenção ao uso de drogas também foram cobradas pelos parlamentares. Mereceram destaque ainda as ações relacionadas aos direitos da mulher, das comunidades tradicionais, da população de rua e de imigrantes, entre outros segmentos sociais vulneráveis.

Presidente da Comissão de Esporte, Lazer e Juventude, o deputado Zé Guilherme (PRP) pontuou que a Sedese acumula um grande número de áreas, dificultando o desempenho da pasta.

“Na área do esporte, não há margem para se fazer nada, o esporte em Minas está destinado a morrer”, lamentou. A secretaria admitiu a dificuldade de atender a tantas demandas e destacou o trabalho da pasta no âmbito de esportes para a juventude.

O deputado Coronel Henrique (PSL) também defendeu soluções para que o Jimi (Jogos do Interior de Minas) tenha continuidade e pediu apoio da Sedese ao Projeto de Lei (PL) 780/19, de sua autoria, que atualiza a legislação de incetivo ao esporte.

A secretária disse que o Estado vai atuar para buscar maior apoio dos bancos nesse incentivo e apoiou fala do deputado Fernando Pacheco (PHS) de que emendas sejam destinadas à área para que as políticas sociais tenham melhores resultados.

A deputada Delegada Sheila (PSL), presidenta da Comissão de Combate ao uso de Crack e outras Drogas, observou que a política do governo anterior, nessa área, “era muito tímida”, reconhecendo que a atual titular precisa de um tempo para organizar a pasta e planejar as ações. O deputado Arlen Santiago (PTB) também defendeu a atual gestão e criticou a administração anterior.

Coube à deputada Marília Campos (PT), presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, indagar a respeito das ações da secretaria para o setor. Segundo a deputada, as mulheres, sobretudo as pobres e negras, formam o segmento que mais sofre com o desemprego e o enfraquecimento das políticas sociais. Ela lamentou o aumento da violência contra a mulher em Minas, que ostenta o maior número de feminicídios no Brasil.

Desemprego, questões fundiárias e povos tradicionais

Regularização fundiária e comunidades tradicionais foram assuntos priorizados pela deputada Leninha (PT), presidenta da Comissão de Direitos Humanos. Ela chamou a atenção para a realização da conferência do Conselho de Segurança Alimentar, em dezembro, e pediu um retorno maior por parte da Mesa Estadual de Diálogo e Negociação Permanente com Ocupações Urbanas e Rurais, alegando que muitos conflitos são direcionados à mesa mas não têm retorno.

A secretária justificou que a instância acumula, hoje, mais de 148 mil processos e sugeriu que os conflitos sejam encaminhados antes à Câmara Técnica, a fim de que sejam melhor fundamentados.

Conduzindo a reunião, o presidente da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social, deputado Celinho Sintrocel (PCdoB), indagou sobre a política do governo para a geração de empregos, lembrando que o Estado conta hoje com mais de um milhão de desempregados e tem mais de 1,2 mil obras paralisadas. A secretária respondeu que essa é responsabilidade da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e que a Sedese contribui apenas na capacitação dos trabalhadores.

A deputada Andréia de Jesus (PSOL), defendeu maior empenho do Estado na construção de políticas habitacional e fundiária, na demarcação de terras indígenas e quilombolas, na reforma agrária e na assistência à população de rua e aos imigrantes.

LGBT - Ela também solicitou ações para acesso a direitos da comunidade LGBT, indagando sobre a implantação de serviço de expedição de carteiras com nomes sociais por parte desse segmento. A secretária respondeu que a emissão desses documentos está sendo articulada com a Polícia Civil e até o final do ano estarão disponíveis nas unidades do UAI.

Informou também que a Sedese vem se dedicando à questão indígena e quilombola, sobretudo em Brumadinho (Região Metropolitana de Belo Horizonte).

O tema das barragens também dominou o discurso da deputada Beatriz Cerqueira (PT), que reiterou pedido para que o Executivo desarquive projeto de lei do governo anterior que dispõe sobre a política de atendimento às pessoas atingidas por barragens. A secretária disse que vai reiterar pedido para que ele prossiga tramitando na ALMG.

A deputada Celise Laviola (MDB) solicitou que a Sedese avalie a vocação de emprego e renda dos municípios, enquanto o deputado Doutor Jean Freire (PT) voltou a criticar o fato de emendas populares ao PPAG não estarem sendo executadas. 

A secretária disse que há um esforço interno para a liberação das emendas, mas pontuou que, ao assumir, o atual governo se deparou com uma dívida de 23 meses de recursos do Estado para o Suas, relativos ao piso mineiro da assistência social. Esse retroativo não está sendo pago, mas a secretária disse que, após esforços junto à Secretaria de Fazenda, a pasta conseguiu pagar 44% do valor do piso em dia.

Consulte o resultado da reunião.