Jovens votaram tema e falaram da necessidade de discutir o preconceito e a discriminação existentes na sociedade brasileira
Estudantes vão priorizar propostas que serão votadas nesta sexta (21)
Parlamento Jovem 2019 vai debater preconceito racial

Preconceito racial será o tema do PJ Minas em 2019

Assunto recebeu 65 votos dos 120 estudantes presentes na etapa estadual do Parlamento Jovem de 2018.

20/09/2018 - 13:14 - Atualizado em 20/09/2018 - 14:05

O preconceito racial será o tema da edição 2019 do Parlamento Jovem de Minas (PJ Minas), projeto de formação política realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), por meio da Escola do Legislativo (ELE), em parceria com câmaras municipais.

A escolha aconteceu na manhã desta quinta feira (20/9/18), na ELE, pelos 120 estudantes do ensino médio que participam do segundo dia de trabalhos da etapa estadual deste ano. Com 65 votos e quatro abstenções, o tema foi priorizado pelos estudantes, que ainda tinham como outras opções: Jovem no mercado de trabalho (46 votos); e Bullying, ciberbullying e liberdade de expressão (5 votos).

Neste ano, em que o PJ Minas completa 15 anos, houve uma inovação: a votação do tema para 2019 foi transmitida ao vivo, por meio da sua página no Facebook, possibilitando que todos os jovens que participaram do projeto pudessem acompanhar.

Os 120 estudantes que votaram estão, desde quarta-feira (19), em Belo Horizonte para participar da etapa final do projeto, iniciado em fevereiro, e foram escolhidos como representantes dos jovens da edição de 2018. Eles representam 16 polos regionais, que englobaram 81 municípios.

Jovens destacam preconceito na sociedade brasileira

Antes da votação, consultores da ALMG fizeram uma explanação sobre cada um dos temas, seguida por um momento de falas e perguntas dos jovens. A estudante Alice Silva, de Uberlândia (Triângulo), foi uma das jovens que defendeu a escolha do tema preconceito racial, para que as próximas gerações sofram menos com o problema.

“A discriminação está no nosso cotidiano, nas escolas, no mercado de trabalho, na faculdade. Não podemos fugir desse debate”, destacou Alice, que apontou a necessidade de legislações para combater a discriminação, além de uma ação mais eficaz dos Estados e municípios para combater o preconceito.

A estudante Thamires Souza dos Santos, de Alfenas (Sul de Minas), afirmou que votou no tema por ser negra e por já ter várias vezes sofrido com o preconceito, inclusive de amigos. Ela explicou que, quando completou 17 anos, percebeu que não precisava de ninguém falando que a cor dela é bonita, pois é uma certeza que veio de dentro dela.

Thamires relatou que, devido à pressão exercida pela sociedade e ao preconceito com relação ao cabelo anelado, sua mãe sempre fez com que ela alisasse o cabelo. “Hoje estou ensinando à minha mãe que cabelo cacheado é bonito”, afirmou.

Já a estudante Ana Letícia Fedrigo, de Uberaba (Triângulo), disse que o preconceito é um tema que atinge a sociedade brasileira, mas que muitas vezes é deixado de lado. “O Brasil não vai para frente justamente por conta do preconceito. Focamos em política e economia e esquecemos de lutar contra a discriminação”, ponderou.

Palestras – A consultora Ana Luz Ledic explicou aos jovens as diferenças conceituais entre preconceito e discriminação. Segundo ela, o preconceito é uma ideia anterior, preconcebida, que se traduz em discriminação, ou seja, segregação e exclusão.

A consultora apontou que a discriminação é muito ampla, sendo a étnico-racial a mais frequente. “A discriminação começou na Antiguidade e até hoje existe como forma de segregação sociocultural”, destacou.

Para Ana Ledic, no Brasil, apesar de a Constituição Federal criminalizar o racismo e prever a construção de uma sociedade livre e igualitária, a discriminação é uma realidade. Segundo ela, os indicadores sociais mostram, por exemplo, que o mercado de trabalho é muito desfavorável aos trabalhadores negros, cujos rendimentos são muito inferiores.

Outro exemplo são os dados que indicam que os negros compõem a maior parte da população prisional no País. A consultora ainda falou sobre as maneiras de combater a discriminação e mencionou as leis ou políticas públicas, como a Lei das Cotas (Lei Federal 12.711, de 2012), que criam ações afirmativas e mecanismos de compensação que buscam diminuir as diferenças.

Coordenadores e relatores dos grupos de trabalho são eleitos

Além da escolha da temática para o próximo ano, na manhã desta quinta-feira (20) os estudantes elegeram os coordenadores e relatores dos grupos de trabalho (GTs). Eles ainda participaram de um painel sobre a dinâmica de funcionamento da etapa estadual e desdobramentos das propostas.

Na parte da tarde, eles serão divididos nos grupos, para priorizar as propostas que serão votadas nesta sexta (21), na plenária estadual, com o tema do PJ 2018, a violência contra a mulher. Essas propostas, que serão votadas para compor o documento final, foram escolhidas ao longo do ano, sendo que cada polo preparou as suas sugestões para serem apreciadas e votadas.

Cada GT vai trabalhar com um subtema relacionado ao tema geral: Violência Doméstica e Familiar (GT1), Violência nos espaços institucionais de poder (GT2) e Violência e assédio sexual (GT3).

Foram eleitos como coordenadores dos GTs 1, 2 e 3, respectivamente, Maria Edna Fernandes, Luana Monticelli e Laura Helena Pessi de Oliveira. Já os relatores dos GTs 1, 2 e 3 são, respectivamente: Renato Henrique Barbosa, Alice Silva e Cristovão Corrêa Borba Soares.

Regionalização – Em 2018, ano em que o PJ Minas completa 15 anos, consolidou-se o formato regional de trabalho. Inicialmente, o projeto alcançava apenas jovens de Belo Horizonte e, em 2010, iniciou-se uma interiorização. Desde 2014, os municípios começaram a se organizar em polos para que fosse possível abarcar mais cidades. Em 2018, esses polos ganharam mais autonomia.

A 15ª edição do PJ Minas mobilizou cerca de 2,8 mil estudantes do ensino médio de 81 municípios mineiros. Foram envolvidas 248 escolas, a maioria da rede pública, além de 149 monitores e 133 coordenadores. Vinte e uma cidades participam pela primeira vez do projeto, que a cada ano tem atraído mais interessados.