A terceirização do serviço de vistoria de veículos preocupou os participantes da reunião da Comissão de Segurança Pública
O promotor Leonardo Barbabela ainda criticou nova taxa de vistoria
Felipe Peres disse que Detran recebeu pedidos de credenciamentos de empresas
Deputados defendem revogação de decreto que permite vistoria particular de veículos

MP defende que vistoria veicular cabe à Polícia Civil

Decreto do governador prevê contratação de empresas privadas para prestar esse serviço ao Detran.

17/04/2018 - 14:19 - Atualizado em 17/04/2018 - 17:24

A realização da atividade de vistoria veicular pela Polícia Civil, e não por empresas privadas, foi defendida pelo promotor Leonardo Barbabela em audiência da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta terça-feira (17/4/18).

O objetivo da reunião foi discutir o Decreto 47.368, de 2018, do governador Fernando Pimentel (PT), que determina ao Departamento Estadual de Trânsito (Detran-MG) o credenciamento e a contratação de empresas para o exercício de atividade de vistoria veicular.

Leonardo Barbabela criticou a norma e afirmou que o entendimento do Ministério Público (MP) é de que o exercício da função caberia exclusivamente à Polícia Civil, e não a pessoas jurídicas de direito privado.

Ele explicou que, desde 2009, o MP analisa o assunto, sendo que uma recomendação da instituição estabeleceu que o Detran não pode delegar a empresas privadas a vistoria para licenciamento ou registro de veículos. Segundo ele, há também decisão da Justiça Federal que impediu a União de constranger o Detran-MG a emitir normas contrárias a essa recomendação do MP.

O promotor esclareceu que a vistoria tem o objetivo de verificar se o veículo é objeto de crime, e por isso deve ser feita pela Polícia Civil, não por empresas privadas. “O poder de polícia não pode ser delegado”, afirmou.

Taxa - Leonardo Barbabela ainda criticou a instituição de nova taxa de vistoria, via decreto. Ele lembrou que já existe uma taxa de registro e licenciamento de veículos cobrada pelo Estado para que os agentes públicos realizem o serviço.

Maior parte das empresas teriam os mesmos proprietários

Na reunião, deputados e convidados apresentaram denúncias sobre parte das empresas que foram criadas para serem credenciadas pelo Detran para realização das vistorias. Umas das denúncias é de que a maior parte dessas empresas privadas pertenceriam às mesmas pessoas.

O presidente da comissão e autor do requerimento para a reunião, deputado Sargento Rodrigues (PTB), afirmou que o Decreto 47.368 é ilegal e defendeu que ele seja revogado. Ele classificou a norma como um “escândalo”, em que o Detran estaria sendo utilizado para arrecadar propina em Minas Gerais e saquear o contribuinte mineiro.

O deputado João Leite (PSDB) leu uma lista de empresas privadas que teriam sido abertas para a realização das vistorias, algumas delas pouco antes de o decreto ter sido publicado, sendo que a maior parte delas pertenceria às mesmas pessoas.

Já o presidente da Associação Profissional dos Despachantes Documentalistas (Adesdoc-MG), Anderson Matheus, acrescentou que a constituição das empresas antes da publicação do decreto indica que pode ter havido vazamento de informação.

O vice-presidente da comissão, deputado Cabo Júlio (PMDB), também defendeu que o decreto seja revogado e que uma nova norma seja editada, com a participação da Assembleia e do Ministério Público.

Provas - O deputado João Magalhães (PMDB) questionou a afirmação de que o Detran estaria sendo utilizado para arrecadar propina. Ele solicitou provas, mas o deputado Sargento Rodrigues disse que elas serão apresentadas no devido momento ao MP.

Detran ainda não credenciou nenhuma empresa

O representante do Detran, delegado Felipe de Fonseca Peres, afirmou que nenhuma empresa foi credenciada para fazer vistoria veicular. Ele afirmou que o órgão está aberto a prestar os esclarecimentos e a buscar a apuração dos fatos.

Segundo ele, já há mais de dois mil requerimentos de credenciamento de empresas para a realização das vistorias e, diante de alguns problemas detectados, está sendo feita uma análise mais profunda dos processos. O delegado reconheceu que recebeu pedidos de credenciamentos de empresas abertas antes do decreto e garantiu que esse processo está sendo feito de maneira transparente.

Modernização - O representante da Polícia Civil, delegado Rafael Alexandre de Faria, falou sobre a necessidade de modernização do processo de vistoria, já que o Detran não tem pessoal suficiente nem tecnologia adequada. “É necessária uma mudança no processo para melhorar o controle sobre os veículos”, afirmou.

Rafael também reforçou que nenhuma empresa foi credenciada até o momento pelo Detran. Ele defendeu a atuação dos órgãos de controle para verificar as denúncias apresentadas, em especial para apurar a constituição das empresas antes mesmo de o decreto ser publicado.

O presidente do Conselho Nacional de Vistorias Veiculares, Wagner Pedroso Caovila, defendeu que as empresas possam prestar o serviço para o Detran. Para ele, a realização das vistorias pelas empresas não significa que o poder de polícia não será exercido pela Polícia Civil.

Reuniões Interativas - Com transmissão ao vivo, a reunião teve a participação de internautas, que enviaram perguntas e apresentaram denúncias, por meio da ferramenta Reuniões Interativas do Portal da ALMG.

Requerimentos - Na reunião, foram aprovados dois pedidos do deputado Sargento Rodrigues para realização de audiências públicas para debater o aumento de roubo de veículos em Belo Horizonte e o crescimento dos ataques a instituições bancárias em Minas Gerais. Outro requerimento aprovado, do deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), é de audiência pública para discutir o trabalho desenvolvido pelos conselhos comunitários de segurança pública.

Consulte o resultado da reunião.