A carta divulgada lista pontos destacados pelos comunicadores como fundamentais para a democratização da área e o fortalecimento da comunicação pública no País

Carta de Belo Horizonte condena afastamento de Dilma

Ato “urdido pela mídia” teria sido atentado ao Estado Democrático de Direito, segundo comunicadores em evento na ALMG.

13/05/2016 - 19:58 - Atualizado em 16/05/2016 - 10:57

Com a divulgação da Carta de Belo Horizonte, documento que condena o afastamento da presidente Dilma Rousseff, classificando-o como “um atentado ao Estado Democrático de Direito, urdido com o patrocínio direto dos grandes grupos privados de mídia”, comunicadores sociais de Minas Gerais encerraram, no início da noite desta sexta-feira (13/5/16), o Ciclo de Debates Desafios da Comunicação Pública em Rede: Políticas Públicas, Participação Popular e Direito à Comunicação, promovido pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Aberto na noite de quinta (12), o encontro reuniu jornalistas, radialistas, técnicos, servidores públicos da área de comunicação e outros profissionais.

“Viemos a público alertar a sociedade mineira para o grave momento político que o nosso País atravessa. Em 12 de maio, um dia que sempre será lembrado como de triste memória para a democracia brasileira, a presidente Dilma Rousseff foi afastada de suas funções, sem que houvesse cometido quaisquer crimes de responsabilidade”, afirma o documento. O fato “revela, mais uma vez, a urgência da democratização da comunicação no Brasil e que passa também, obrigatoriamente, pela construção de um forte sistema de comunicação pública e em rede”, destaca a Carta de Belo Horizonte.

O documento lista onze pontos destacados pelos comunicadores como fundamentais para a democratização da comunicação e o fortalecimento da comunicação pública no País. Entre eles, destaca a necessidade de aprovação, pelo Congresso Nacional, da Lei de Mídia Democrática, assegurando a implementação de princípios já dispostos na Constituição de 1988, como a liberdade de expressão e a garantia da pluralidade, a coibição de monopólios e oligopólios e a regionalização da produção das emissoras, entre outros dispositivos.

O fomento à radiodifusão pública e de um programa destinado à implementação de uma rede de canais de cidadania e do Plano Nacional de Outorgas nos municípios brasileiros, na migração do sinal analógico para o sinal digital, bem como o fortalecimento e a expansão da rede legislativa digital de TVs e rádios, por meio de ações e campanhas para a sensibilização e o envolvimento das Câmaras Municipais, foram outros pontos destacados.

Criação do Conselho Estadual de Comunicação

Os profissionais que participaram do ciclo de debates enfatizaram a importância de se instituir em Minas Gerais o Conselho Estadual de Comunicação, previsto na Constituição do Estado, mas até hoje não concretizado. Para isso, defenderam a inclusão de emenda ou aditivo, no projeto de reforma administrativa do Estado. De caráter deliberativo, o conselho, segundo os participantes do encontro, deve ser responsável pela discussão, implementação e monitoramento de política pública de comunicação, com composição paritária entre poder público e sociedade civil e representações de todos os territórios de planejamento.

Outros pontos destacados no documento são a importância de: criar um fundo público de fomento à comunicação pública, formado por recursos da Loteria Mineira, Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemig) e Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), a ser gerenciado pelo Conselho Estadual de Comunicação; ampliar o Conselho Curador da TV Minas ou sua eventual sucessora, a Empresa Mineira de Comunicação (EMC), garantindo o mínimo de 50% da sociedade civil; e constituir, pela ALMG, um fórum permanente de comunicação, que capacite os vários setores envolvidos na comunicação pública e comunitária, bem como promova encontros periódicos dos atores para avaliar e monitorar as políticas públicas. 

Os comunicadores defenderam, ainda, o fortalecimento das emissoras públicas do interior, o compartilhamento equânime das verbas de mídia para custeio das TV públicas (educativas, culturais e comunitárias), a maior abrangência do sinal digital e a valorização dos servidores de comunicação pública, por meio da criação e regulamentação das carreiras de jornalista e radialista no serviço público estadual.

Avanços - As discussões foram realizadas ao longo de toda a sexta (13), em workshops e grupos de trabalho, que contaram com a participação de dezenas de profissionais da Capital e do interior. No encerramento, no Teatro, o diretor de Comunicação Institucional da Assembleia, jornalista Rodrigo Lucena, ressaltou que nos últimos anos foram registrados muitos avanços no debate sobre comunicação pública e sobre TV's pública e estatal, destacando a criação da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) e a implantação da TV digital.

Entretanto, ele observou que alguns pontos ainda ficaram à margem, como a regulamentação e o financiamento, que seriam, na sua opinião, “fundamentais para a sobrevivência” das emissoras públicas. O jornalista também defendeu maior acesso à outorga de canais e a expansão de uma rede pública estatal e legislativa.

Além de Lucena, participaram da mesa de encerramento o subsecretário de Estado de Comunicação, Marcus Gimenez; o presidente da Rede Minas, Israel do Vale; a secretária-geral do Comitê Mineiro do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Florence Poznanski; o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Keryson Lopes, e o diretor artístico da Rádio Inconfidência, Elias Silva.