SHELLEY DE SOUZA CARNEIRO, Secretário Adjunto de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.
Discurso
Comenta o tema "O Novo Desenho Institucional do Sistema e Análise
Interdisciplinar dos Processos de Regularização Ambiental".
Reunião
4ª reunião ESPECIAL
Legislatura 16ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 29/03/2008
Página 64, Coluna 2
Evento Ciclo de Debates: "Licenciamento Ambiental e Desenvolvimento Sustentável".
Assunto MEIO AMBIENTE. INDÚSTRIA, COMÉRCIO E SERVIÇOS.
Observação Evento preparatório para o Seminário Legislativo "Minas de Minas".
Normas citadas DEC nº 44309, de 2006
Legislatura 16ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 29/03/2008
Página 64, Coluna 2
Evento Ciclo de Debates: "Licenciamento Ambiental e Desenvolvimento Sustentável".
Assunto MEIO AMBIENTE. INDÚSTRIA, COMÉRCIO E SERVIÇOS.
Observação Evento preparatório para o Seminário Legislativo "Minas de Minas".
Normas citadas DEC nº 44309, de 2006
4ª REUNIÃO ESPECIAL DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 16ª
LEGISLATURA, EM 10/3/2008
Palavras do Secretário Adjunto Shelley de Souza Carneiro
Cumprimento o Deputado Sávio Souza Cruz, Presidente da Mesa, e,
com sua permissão, os demais membros da Mesa, os ambientalistas,
os empresários, a sociedade, as senhoras e os senhores presentes.
Pretendo ater-me ao microproblema do macroprocesso ambiental que
está sendo discutido neste seminário.
Nos dias atuais, toda e qualquer sociedade tem grandes
dificuldades quando resolve mudar um processo qualquer. O mundo
está em transição, diferente, em constante movimento, e isso traz
ansiedade e dúvidas. Um dos maiores problemas da humanidade atual
é a falta de sincronia entre as instituições. Não adianta
demonizar o setor público tachando-o de burocrata ineficiente ou
estigmatizar o setor produtivo como materialista. Isso só serve
para criar polarização política, o que não nos leva aos avanços
substanciais e modernos de que tanto precisamos. É necessário nos
inserirmos nesse contexto de transição da humanidade. Não é só o
Brasil que tem problemas. A globalização e a informatização rápida
trazem um grande desafio ao mundo inteiro.
Do setor produtivo é exigido em todas as licitações, incluindo as
internacionais, cuidado com os aspectos ambientais. O setor tem de
se adaptar não somente aos ditames de um país. As fronteiras entre
os países começam a ficar estreitas quando entramos no mundo
globalizado, em que a informação “on line” acontece em segundos. O
mundo está diferente. Não podemos pensar em paradigmas antigos,
caso contrário não encontraremos solução para os novos problemas.
Precisamos mudar nossas concepções, pensar novo, encarar os
problemas de maneira totalmente diferente.
Transição e mudança não são coisas fáceis; na maioria das vezes,
doem; na maioria das vezes, passam por fases que não conseguimos
compreender. São muitos os processos que, em enorme velocidade,
estão acontecendo em nossa vida. A tecnologia e a informação
trouxeram um mundo diferente, que teremos de encarar nos próximos
anos.
Meio ambiente passa hoje a ser peça fundamental no
desenvolvimento sustentável do País, dos Estados e dos Municípios.
Ele reflete, no processo principal, nossas ansiedades e nossas
preocupações com o modelo atual. Minha apresentação terá como foco
a análise interdisciplinar desse processo.
A ecologia me ensinou um pouco - do pouco que dela conheço,
aliás, conhecemos muito pouco - a respeitar as inter-relações, a
não ser pontual naquilo que digo, a não fragmentar a
administração, como fragmentamos tudo na vida. Se fragmentarmos,
não entenderemos nunca o que está acontecendo na coisa mais
importante do mundo, ou seja, na harmonia da natureza, que é
basicamente a ecologia.
Estamos procurando essa relação de interdependência entre todos
os elementos, essa harmonia. Isso não é fácil, é muito complicado.
Alvin Toffler, em seu livro “Riqueza Revolucionária”, falando
sobre a mudança americana, mostra as dificuldades tremendas que os
americanos enfrentam hoje na sincronia das suas instituições, como
universidades, setor produtivo, ONGs. É importante pensarmos
seriamente nessa interação, mas numa interação inteligente, de
idéias, não numa interação da crítica pela crítica. Devemos pensar
numa interação que acrescente algo à nossa modificação, que é
necessária, importante, fundamental para o desenvolvimento
sustentável do nosso país.
Por que pensamos na mudança sob dois aspectos? Mudança não se
realiza apenas sob determinado enfoque. Se vamos mudar, precisamos
mudar duas vezes, ou seja, mudar a realidade, as coisas e mudar a
percepção. Não adianta darmos mil computadores para um sistema, é
preciso que as pessoas compreendam o que aquilo significa, busquem
interação com o processo, percebam a sua importância, a fim de que
os resultados sejam produtivos. Esse é o grande desafio.
Uma das maiores surpresas que tive na minha vida - posso dizer
que foi uma vida trabalhada no aspecto ambiental - foi quando
comecei a trabalhar as regionais do Conselho de Política
Ambiental, isto é, as várias Minas Gerais ali representadas, com
suas dificuldades e problemas. Várias vezes, nessas regionais,
encontrei públicos como este, talvez ainda mais numerosos,
discutindo problemas que os afligiam, tentando solucionar,
procurar caminhos, como estamos fazendo aqui, ou seja, criar
caminhos para termos um licenciamento que se adapte melhor à vida
que estamos vivendo e ao futuro que espera por nossos filhos.
Espero que tenham um mundo melhor, mais adaptado a uma vida
diferente que viverão.
Gostaria de chamar a atenção para o fato de o licenciamento
ambiental ser um grande instrumento de gestão pública, obsoleto às
vezes, mas importante quando começou, porque não tínhamos nada,
não existia nada. Ele cresceu com a luta de técnicos, pouca gente
dava muita importância ao processo de licenciamento ambiental.
Cresceu em função de uma luta de pessoas que, sozinhas, tentavam
mostrar que o meio ambiente era importante e precisava ser
internalizado nos processos de discussões políticas do País.
Marginalizar o processo de licenciamento é fácil, mas ele teve,
em cada um de seus passos, uma história de conquistas, de lutas e
de resultados. Acho que o licenciamento ambiental, no mundo em que
vivemos, precisa mudar profundamente, mudar nos seus fundamentos
principais. Desburocratizar totalmente o processo é o nosso grande
desafio. Por quê? Porque a nossa sociedade está segmentada,
especializada e subespecializada em virtude de um profundo aumento
da burocracia em todo o País.
Isso não acontece somente aqui. Como tenho conversado com
representantes de vários Estados, percebi que esse problema é de
todo o País e de todo o mundo. A desburocratização precisa ser
enfrentada, mas a burocracia é necessária em seu aspecto positivo.
Não podemos viver sem ela.
Gostaria de me ater a alguns desses problemas e aos resultados
que passamos a obter no que diz respeito ao licenciamento
ambiental interdisciplinar.
Primeiro, gostaria de esclarecer que não estou falando em
licenciamento interdisciplinar e transdisciplinar, mas em uma
passagem para uma relação interdisciplinar, ou seja, entre as
disciplinas que não se tocam. Criamos fragmentos,
responsabilidades e nichos de poder, baseando-nos em verdades que
não sei se realmente são, pois duvido muito do que é dito por
poucas pessoas. Acredito que as verdades têm de ser discutidas e
questionadas e que o que criamos ao longo do tempo precisa ser
revisto. Não conseguiremos crescer se percebermos o licenciamento
ambiental como um fragmento. Não podemos pensar na floresta sem
considerar a água e a poluição ambiental. Se isso tudo não estiver
interligado em um processo inteligente, perderemos a noção do todo
de um processo que tem de ser encarado de maneira mais abrangente,
para que as tomadas de decisão sejam mais inteligentes. Por isso,
entrarei nesse processo mais rapidamente. Prometo que utilizarei
apenas 25 minutos.
Como o Secretário José Carlos disse, dividimos nosso Estado em
partes, apesar de não estar separado dessa forma, pois essas
fronteiras não existem. A divisão foi feita levando-se em
consideração os recursos hídricos e os problemas políticos e
institucionais de cada região. Dessa maneira, o Estado foi
dividido em oito regiões totalmente adaptadas para receber o
processo de análise interdisciplinar. Para cada profissional, foi
oferecido um treinamento profundo. Eles trabalharam durante três
meses na análise disciplinar e criaram o processo. Esses
profissionais, técnicos, administradores e advogados, ajudaram-
nos, de acordo com uma linha de ação, a construir o modelo.
Ouvimos a sociedade da região, com quem discutimos os problemas.
De acordo com esse conceito, conseguimos estabelecer, administrar
e dispor os profissionais mais adequados para as regiões. Não
temos condições de disponibilizar todos os profissionais de que
necessitamos, pois, muitas vezes, há problemas típicos na análise
do projeto, como, por exemplo, a necessidade de especialistas em
sapos. Não temos condições de contar com todos os profissionais
necessários para uma análise ambiental, mas podemos, de acordo com
a tipologia regional, conseguir os mais adequados para a região.
Por exemplo, no Triângulo Mineiro, os profissionais mais
necessários são os engenheiros florestais, agrícolas e civis, os
biólogos, os químicos, - já que a região enfrenta problemas
relativos ao tratamento de água e esgoto - e uma série de outros
profissionais. De acordo com o desenvolvimento e as perspectivas
econômicas do nosso Estado, pudemos contar com profissionais que
nos atendessem melhor nas análises dos projetos ambientais.
Seguindo esse modelo, ficou muito clara a participação da
sociedade de cada região. Foram criados conselhos de política
ambiental, com lideranças regionais, e organizações não
governamentais. Houve a participação das universidades, das
empresas e dos agricultores. Todos se uniram. Percebemos a força e
a participação da sociedade no processo.
Viajo muito para participar de Conselhos de Política Ambiental e
estou vendo aqui muitas pessoas que vieram do interior de Minas
Gerais. Há gente do Jequitinhonha, do Norte, do Sul, do Triângulo,
do Alto São Francisco, da Zona da Mata, do Leste mineiro. Temos
participantes que representam todas as regiões, o que reflete esse
trabalho de descentralização dos aspectos ambientais no Estado.
Por que implantar o modelo de análise interdisciplinar? Nosso
principal foco era agilizar e qualificar o licenciamento
ambiental. Mas não se trata somente de agilizá-lo, mas de
qualificá-lo também. O processo integrado evolui. Fico satisfeito
por ver como profissionais do Triângulo, por exemplo, estão
crescendo nas atividades próprias da região. Estão lá discutindo
os problemas do seu dia-a-dia, vistoriando empresas diariamente,
discutindo com a classe empresarial, com os agricultores, com
todas as pessoas. Eles vão crescer naturalmente. E não crescem
sozinhos, pois avançam numa análise interdisciplinar que tem todo
um procedimento desenvolvido com a ajuda de instituições
importantes no Estado, como a Fundação Dom Cabral, que nos auxilia
enormemente no trabalho de organização de equipes. Não é fácil
trabalhar em equipe. Talvez um dos nossos maiores desafios seja
fazer com que organizações fragmentadas trabalhem com sinergia
dentro de um processo de equipe. Para vocês terem uma idéia, eles
descobriram que não sabem fazer uma reunião. Muitas vezes, a
descoberta de fatos administrativos nos traz problemas
seriíssimos, como o que foi posto pela Fundação: quem realmente é
o nosso cliente? A sociedade. O que é a sociedade?
Trata-se de temas que têm sido muito discutidos no âmbito desse
trabalho de análise interdisciplinar que tentamos empreender. E
estamos num processo - porque isso não é uma fotografia acabada -
que deve ser maturado, dinâmico, flexível e precisa ter
continuidade. Sempre digo a eles que, se eu voltar daqui a quatro
anos e o processo estiver na mesma, vou sentir-me uma pessoa
derrotada. Os processos precisam de uma dinâmica própria e de uma
velocidade adequada à rapidez do mundo de hoje.
Outra meta é atender à demanda existente na sociedade depois de
uma grande discussão com ela própria.
É preciso acabar com a visão cartorial, fragmentada e pontual das
análises dos impactos ambientais e tratá-los de forma sistêmica,
numa visão de inter-relação, numa visão integrada. Os próprios
engenheiros estudaram muito todos esses processos, até mesmo o que
vem a ser a análise sistêmica. Como estou inserido nela? Como são
as várias redes em que estou inserido? Como nos posicionarmos para
resolver problemas de uma maneira mais ágil e com qualidade
adequada, para que o meio ambiente realmente seja respeitado?
Queria fazer referência ao nível de insatisfação principalmente
de usuários dos serviços de regularização ambiental. Sempre me
preocupo com estas três palavrinhas: “sincronia”, “sinergia” e
“sintonia” do sistema. Estamos trabalhando nisso.
Um dos problemas de hoje é a dificuldade de mudar. A mudança é
muito difícil. Não estou dizendo que esse é um problema só do
Brasil, mas de todo o mundo. Nós nos acostumamos a cultivar
valores, a ter paradigmas, estereótipos e padrões de vida, mas
temos uma dificuldade imensa de enfrentar todos esses problemas.
Muitas vezes, resistimos à mudança. Estamos acostumados a permear
o caminho que conhecemos. Outros caminhos nos assustam. Por isso é
importante que as pessoas participem da mudança, que elas estejam
dentro desse processo, não como subalternos, como pessoas que
apenas executarão tarefas, mas que sejam frutos de tarefas
executadas, integradas, das quais participem, conscientizando-se
de que esse é um momento importante para elas também. A mudança,
principalmente no sistema, foi profunda, e teria de ser. Não se
faz mudança pela metade, pois ela nunca acontecerá. Para criar e
aculturar essas mudanças, temos de enfrentar os problemas
existentes. Mas precisamos mudar.
Busca de um modelo de gestão capaz de atender às demandas com
eficiência. Falaremos sobre isso mais na frente.
Objetivo geral: criar e institucionalizar um novo modelo de
análise dos processos de regularização ambiental unificado
(integrando todos os processos autorizativos), garantindo a
incorporação de todas as variáveis que abrangem a questão
ambiental, possibilitando e viabilizando trabalhar de forma
interdisciplinar e em equipe.
Objetivos específicos: um objetivo que considero importante é o
de despersonalizar as análises de processos, criando a análise em
equipe. Fazemos um intenso treinamento sobre equipes com o pessoal
do Alto São Francisco. Todas as pessoas - o engenheiro florestal,
o de infra-estrutura, o de mineração, etc. - estão se integrando
em um único processo, entendendo a dificuldade que é interagir os
seus conhecimentos. Trabalhamos a participação das pessoas em todo
esse processo, criando um diálogo comum. Hoje, as pessoas têm
condições de dialogar, têm o mesmo palavreado. É incompreensível
que uma pessoa que trabalha com a parte florestal não entenda os
problemas ambientais. E ela não precisa ser especialista para
entender, criar o diálogo e valorizar o sistema em equipe.
Objetivos específicos: inovar e desenvolver uma visão global,
integral, qualitativa, dinâmica e crítica da questão ambiental;
implantar a cultura da visão sistêmica por meio da integração das
disciplinas; alinhar os procedimentos de análise dos processos de
regularização ambiental. A criação do Siam foi de fundamental
importância. A tecnologia entrou para nos ajudar a dar velocidade
aos processos. Citarei alguns casos. Com base no modelo mais
adequado da Superintendência - que ainda não está funcionando
totalmente, algumas regionais estão funcionando melhor que outras
- um processo que entra hoje, em dois dias está na mão da equipe
técnica. O processo é desenvolvido na equipe, com a participação
do advogado, que era um ponto finalístico de licenciamento.
Acabado o processo técnico, o advogado entrava e retomava o
processo. Hoje, o advogado faz parte de uma equipe. Quando o
processo sai, está totalmente pronto, com outorga subterrânea ou
superficial, com a Apef adequada, com a análise jurídica e com a
análise técnica do parecer técnico. Isso trouxe velocidades sobre
as quais ainda não tenho dados para fornecer, porque se trata de
uma coisa muito nova. Mas posso dizer que, em pouco mais de um
ano, obtivemos resultados pontuais fantásticos, com qualidade
excepcional. Sou engenheiro, trabalhei com projetos durante 10
anos e posso afirmar que a qualidade dos processos tem melhorado
muito, porque hoje temos uma visão sistêmica, não fragmentada.
E o objetivo, também específico, é criar uma rede de cooperação
própria de experiência das superintendências regionais do meio
ambiente. Não tem um pé de cana no Jequitinhonha, mas tem no
Triângulo. É lógico que, se formos para o Jequitinhonha com alguma
plantação de açúcar e álcool ou coisa parecida, teremos uma
conexão dessas redes de especialidades que estão sendo
desenvolvidas em todo o Estado, sobre mineração, barragens.
Não estou aqui recriando a velha briga entre generalidade e
especialidade. Quanto mais e melhores forem os especialistas, mais
o nível de discussão integrada melhora.
As nossas três agendas estão resumidas numa agenda simbólica,
branca, que é a representação de todas as coisas. Isso simboliza a
nossa vontade de, realmente, trabalharmos em prol de um melhor
sistema.
Finalizando, gostaria de dizer que todo esse processo contou com
uma longa participação de mais de 350 profissionais, que hoje
estão engajados na mudança desse projeto, na busca da agilidade
necessária, no estudo da desburocratização do sistema e na
inovação do processo. É um processo longo, e espero que dê frutos.
Muito obrigado.
- No decorrer de seu pronunciamento, procede-se à exibição de
“slides”.