DEPUTADO EDSON REZENDE (PT)
Discurso
Comenta o projeto de resolução, de autoria da Comissão de Constituição e
Justiça, que delega ao Governador do Estado atribuição para elaborar
leis delegadas, dispondo sobre a estrutura da administração direta e
indireta do Poder Executivo.
Reunião
421ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 14ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 18/12/2002
Página 41, Coluna 2
Assunto GOVERNADOR. EXECUTIVO. REFORMA ADMINISTRATIVA.
Aparteante Carlos Pimenta, João Paulo.
Proposições citadas PRE 2472 de 2002
Legislatura 14ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 18/12/2002
Página 41, Coluna 2
Assunto GOVERNADOR. EXECUTIVO. REFORMA ADMINISTRATIVA.
Aparteante Carlos Pimenta, João Paulo.
Proposições citadas PRE 2472 de 2002
421ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 14ª
LEGISLATURA, EM 11/12/2002
Palavras do Deputado Edson Rezende
O Deputado Edson Resende* - Sr. Presidente, Srs. Deputados,
Sras. Deputadas, público presente, telespectadores, já vivi,
quando Vereador, situação semelhante à que passa agora com esse
projeto de lei, a tal da Lei delegada. Nesse caso, é uma lei que
torna o Governador não um Governador, mas um imperador. Torna-o
não um Governador constituído sobre a base democrático-republicana
dos três Poderes, mas sobre uma base executiva única em que o
Poder Legislativo delegamos ao Executivo o poder absoluto de fazer
uma reforma administrativa com todas as atribuições que deveriam
ser divididas com o Legislativo. Mas, no entanto, o Poder
Legislativo delega sua competência total e absoluta ao Governador.
O Projeto de Resolução nº 2.472 é muito claro quando diz, no seu
art. 1º, que fica concedida ao Governador do Estado a delegação de
atribuição para proceder à racionalização da estrutura
administrativa do Poder Executivo sem a abertura de créditos
especiais e com poderes limitados. Observa-se, logo a seguir, que
não são limitados. Pelo contrário, são ampliados, porque o
Governador pode criar, incorporar, transferir, extinguir e alterar
os órgãos públicos, inclusive os autônomos ou unidades da
administração direta, bem como modificar a estrutura orgânica das
entidades da administração indireta, definindo suas atribuiões,
objetivos e denominações.
Dessa forma, pode, além de criar, incorporar e transferir,
extinguir os órgãos públicos, inclusive autônomos e da
administração indireta. Estamos repassando ao Governador o poder
de extinguir, por exemplo, a FHEMIG, caso queira. Se quiser, pode,
pois estamos repassando-lhe autoridade. Pode extinguir
secretarias, fundir. Está claramente expressa na lei que estamos
repassando ao Governador toda a autoridade para alterar a
estrutura administrativa no que tange a criar, incorporar,
transferir, extinguir e alterar órgãos públicos.
Se aprovarmos essa lei delegada, estaremos dando poder absoluto
ao Governador para que assim o faça. Isso sem ao menos o
Governador eleito ter-nos apontado o que pensa do Estado. Qual é a
concepção do Estado que Aécio Neves tem?
O que pensa sobre a estrutura de uma Secretaria de Estado da
Saúde? O que pensa sobre a estrutura de uma Secretaria de Estado
da Educação? O que pensa, por exemplo, dos serviçais da Secretaria
da Educação? Não tendo havido a nomeação dos concursados dos
serviçais da área da educação, ele pode, se quiser, tornar esse
setor terceirizado, como tem sido prática e concepção ideológica
do PSDB - a questão da terceirização dos serviços, que na verdade
constrói um Estado paralelo.
Pode-se dizer que o Estado brasileiro está mínimo porque gasta
49% com o funcionalismo público. Por outro lado, pelos
levantamentos que fizemos, inclusive das estruturas federais em
Minas Gerais, o Estado brasileiro se constitui hoje de dois
Estados. Um, o Estado oficial, público, os órgãos públicos, as
entidades e instituições públicas. Paralelamente, um Estado
terceirizado, que produz serviços públicos paralelamente ao Estado
público, órgãos e entidades públicas que constituem o arcabouço de
um Governo de Estado. O Governador do Estado de Minas Gerais, na
questão da educação por exemplo, pode tomar uma decisão na
Secretaria para que o setor dos serviçais, que hoje tem uma grande
parcela de contratados, torne-se um serviço terceirizado. Podemos
transferir para o Governador a terceirização desse tipo de
serviço, ou podemos discordar disso. Mas são apenas conjecturas
que podemos fazer sobre o futuro de um projeto que delegamos ao
Governador do Estado.
O Deputado Carlos Pimenta* (em aparte) - Agradeço o aparte e peço
licença para distanciar-me um pouco do tema do pronunciamento de
V. Exa., para fazer referência a um fato lamentável. Ainda há
pouco, homenageávamos o Arcebispo de Montes Claros, D. Geraldo
Majela, quando esteve presente grande parte do mundo católico da
minha cidade de Montes Claros. Agora, recebo um telefonema sobre o
passamento de outro grande montes-clarense, o companheiro José
Carlos Costa, Presidente do Automóvel Clube de Montes Claros,
pessoa das mais respeitadas naquela cidade, um jovem, um
idealista. Aproveitando o tempo que V. Exa. me concede, quero,
neste momento, externar minha tristeza - e acredito a de todos os
Deputados de Montes Claros e do Norte de Minas - pelo falecimento
do Sr. José Carlos, grande companheiro, homem dos mais
respeitados, pai de família exemplar, que nos deixa com uma
tristeza muito profunda. Obrigado.
O Deputado Edson Rezende* - Temos observado que todas as vezes
que aprovamos uma lei delegada de tal amplitude, acompanharmos
todo o processo de modificação, alteração da estrutura
administrativa. Mas, durante o tempo das discussões e das
implementações, ficamos ausentes das discussões, das
implementações e das modificações das estruturas administrativas.
Ficamos completamente por fora disso. Entregamos isso ao
Executivo, ao Governador do Estado e a seus supostos Secretários.
Ainda, ficamos ao lado, ou melhor, divorciados desse processo.
Não pensamos no sentido de que o Governador a ser empossado
pudesse ter má-fé na atitude de alterar a estrutura
administrativa, mas que, chegando recentemente, não conhecendo
ainda a estrutura administrativa do Estado, não tendo sido
Governador, estando em outras atividades no Congresso Nacional,
portanto distante da questão executiva de um Estado complexo como
Minas Gerais, tenha a iniciativa de alteração de um órgão
qualquer. Além disso, sem um conhecimento mais aprofundado de quem
está há mais tempo no governo, de quem já viveu uma estrutura
administrativa de um Estado complexo como Minas Gerais, e de ter
chegado de uma atividade diferente, parlamentar, como é o caso de
Aécio Neves, perguntamos qual é o seu conhecimento aprofundado das
estruturas, a sua visão de Estado e a sua experiência no que tange
a questões tão complicadas como as das Secretarias de
Planejamento, da Fazenda, da Saúde, da Educação e outras. Por
isso, em vez de modificação estrutural e reforma administrativa
agora, antes dos primeiros passos do conhecimento da máquina,
achamos a proposta de reforma administrativa de lei delegada, numa
perspectiva nossa, de parlamentares, que têm condição de estar
discutindo mais as idéias e propor reforma realmente de Estado;
não as pequenas reformas, pois essas não resolverão o problema do
Estado.
O que mais percebemos é um Estado extremamente burocratizado,
atrasado no tempo, sem concepção de Estado democrático de direito,
em que os cidadãos podem usar da sua prerrogativa para modificar o
Estado e dizer aos mandatários onde está o erro em atendimentos e
em políticas públicas.
Esta reforma administrativa, como está sendo posta, pouco
adiantará para um Estado novo, que produzirá políticas públicas
com resolubilidade. Ainda vivemos num Estado liberal,
clientelista, que, nos últimos anos, foi utilizado como cabide de
empregos. Alguns políticos colocavam seus apadrinhados e
contratados sem compromisso com o serviço público, apenas
compromissados com o seu padrinho.
Então, temos o híbrido de um Estado falimentar, clientelista, que
se mescla, de certa forma, com outro Estado, que se busca e luta.
O PT tem exigido que haja concurso público, a fim de que os
concursados sejam os melhores, sem apadrinhamento político, ou
seja, devem passar nas provas por capacidade. Esse é o novo Estado
que precisamos construir.
No entanto, neste Estado mineiro que aí está, mais de 50% dos
servidores públicos são contratados. É um Estado construído por
clientelismo político. Portanto, não fez um Estado para produzir
políticas públicas de qualidade para o povo mineiro, mas
clientelista. Então, fica a pergunta: “será que a delegação de
poder que estamos concedendo - não o PT que se coloca contrário a
esse projeto - ao Governador do Estado provocará realmente uma
reforma administrativa que melhore a condição de trabalho dos
servidores públicos do Estado e, melhorando a qualidade e a
valorização desses servidores, produzirá serviços de boa qualidade
para o povo mineiro? Essa é a grande questão. Queremos saber se,
na ponta da educação, em que estará o aluno a receber as aulas e a
educação para sua vida e seu futuro; na ponta da saúde, no momento
em que o paciente precisa do atendimento médico, em que o agente
de saúde estará na casa de uma família para averiguar as condições
de vida e as ambientais, onde está o Estado, representado pelos
seus servidores públicos, se, naquele momento, os cidadãos
mineiros receberão o melhor tratamento e terão de volta o que
depositaram em impostos para receber um bom serviço, se ele
realmente terá o retorno do que paga de impostos neste Estado e
neste País”.
A questão maior que temos de saber é se as reformas
administrativas pretendidas pelo Governador eleito transformarão o
Estado em um produtor de bons serviços e de ações públicas que
darão resultado para quem sofre com um problema de saúde, para uma
criança que precisa de educação de qualidade ou para alguém que
tenha problema com a justiça e que terá seu Defensor Público num
momento de agruras, quando estiver nas barras da justiça,
precisando de alguém que o defenda. Não sabemos de nada disso,
porque não sabemos qual é o projeto do Governador eleito, Aécio
Neves. Qual é o seu projeto para o Estado de Minas Gerais? Qual é
o seu projeto para que essa máquina funcione? Na agricultura, por
exemplo, na educação ou na saúde, o que ele pensa sobre este
Estado, o que pensa sobre os servidores públicos, sobre a carreira
do magistério? Qual é sua proposta para o plano de carreira do
magistério, que hoje está amarrada pelo Líder do PSDB nesta Casa?
Como irá tratar os servidores do IMA, da Fundação João Pinheiro,
da ciência e tecnologia? Como tratará a questão da EMATER e tantos
outros setores e órgãos públicos deste Estado? Não temos nenhuma
resposta. Comparando um projeto desses com a medida provisória,
verificamos que esta é um ato arbitrário, porém, pelo menos, tem
um conteúdo, um projeto colocado, descrito e concluso. Mas, nesse
caso, o Governador do Estado simplesmente disse que vai criar,
extinguir, incorporar e alterar os órgãos públicos das
administrações direta e indireta. E entregaremos a ele esse poder
de alterar, um poder que é dividido conosco, já que a iniciativa
de qualquer alteração do quadro de pessoal tem de ser do
Executivo? Por outro lado, essa iniciativa tem de passar pela Casa
Legislativa, pelo nosso crivo, pela nossa concepção, pela nossa
discussão e pelas modificações que possamos fazer, que queiramos
fazer e que desejamos fazer. As prerrogativas do Legislativo,
infelizmente, ao longo dos últimos anos, têm sendo dilapidadas
progressivamente.
Este já não é mais um Poder autônomo, que decide questões
cruciais, porque perdeu a iniciativa de alterar e de propor, como,
por exemplo, projetos que tratam do pessoal, das finanças, e
tantos outros. Perdemos nossa condição de legislar por iniciativa
própria. Essa condição, incrivelmente, passou a ser muito mais do
Executivo do que do Legislativo. A perda da nossa condição de
autonomia e de iniciativa, nos últimos anos, vem acarretando perda
para este Poder, que, por isso, é subjugado pelo Executivo,
diminuído, quando comparado aos demais. Mais uma vez, na lei
delegada, ficamos ainda mais diminuídos diante do Executivo,
porque renunciamos à prerrogativa de discutir um projeto, que é
colocado na fase inicial de um Governo que ainda não chegou, não
conhece e não teve experiência sobre ele nem sobre o processo que
é o Executivo Estadual; por isso não terá condições de propor
reformas administrativas que possam melhorar o Estado, produzindo
políticas públicas eficientes.
O Deputado João Paulo (em aparte)* - Nobre Deputado Edson
Rezende, nós, que fazemos política e mantemos nossa presença neste
parlamento graças à votação recebida do povo, não podemos
desconsiderar a força do voto. Vejo que V.Exa., no exercício
democrático da obstrução, faz considerações à lei delegada, -
encomendada pelo atual Governador e pelo próximo -, as quais, a
meu juízo, não procedem em sua totalidade. Não podemos desconhecer
e desconsiderar a sinalização das urnas, que elegeram Aécio Neves
no 1º turno. Sabemos que a trajetória de um político é muito
importante na definição de eleição.
O Governador Aécio Neves, que assumirá o cargo no dia 1º de
janeiro, foi eleito no 1º turno, a par de um acervo político que
vem sendo construído há anos. Ao ocupar a direção do Estado, ele o
fará com a responsabilidade que tem caracterizado sua trajetória
política.
Essa lei delegada dará poderes ao Governador para agir de forma
restritiva e reduzir gastos. Esta Casa não está lhe confiando um
cheque em branco para mandar e desmandar.
Eu, que fiz tantas críticas ao PSDB, que sou um crítico contumaz
da gestão de Fernando Henrique Cardoso, que, por inúmeras vezes
manifestei isso aqui, neste microfone e pela sexta vez votei em
Lula, não teria razões para vir aqui fazer apologia nem ao PSDB,
nem a Fernando Henrique, nem ao Governo que limpa as gavetas neste
momento. Mas percebo que o Governador Aécio Neves, movido pela sua
responsabilidade, certamente não vai querer empreender um
gerenciamento semelhante ao que fez o Governador Itamar Franco. Um
Governador que assumiu com a expectativa favorável de toda a
sociedade, foi Presidente da República, está terminando o mandato
da forma como vemos. Lamentavelmente, não conseguiu fazer o que se
desejava no Estado, a par de uma estrutura grandiosa que tropeça
em suas próprias pernas. Isso, tenho certeza, o Governador Aécio
Neves não quer que aconteça em seu Governo.
Precisa dar respostas urgentes e enérgicas à sociedade. Irá,
seguramente, restringir, limitar o tamanho do Estado, cortar
cargos de confiança, reduzir a folha de pagamentos, o que
desagradará muita gente. Se não o fizer neste primeiro momento,
não conseguirá dirigir o Estado. O Estado de Minas Gerais será seu
túmulo político. De maneira sábia, propõe essa lei delegada e,
seguramente, não fará nada que desagrade esta Casa nem o povo de
Minas Gerais. Tenho absoluta certeza de que se utilizará da lei
delegada para dar ao Estado um gerenciamento mais ágil, a
possibilidade de uma economia que observe e respeite a Lei de
Responsabilidade Fiscal, dentre outras. Certamente haverá mais
recursos para investir na malha viária, na educação, na saúde, que
é a expectativa de todos nós.
Infelizmente, o Governador Itamar Franco, quando propôs a esta
Casa, ainda no início do seu Governo, uma medida singela e até
tímida, visando fazer economia na administração pública, não
conseguiu obter a autorização para fazer as restrições que
pretendia. Não percebo exagero na proposta do Governador Aécio
Neves. Desejo votar a favor da lei delegada, a cujos poderes o
Governador não se deve limitar. Terá de enfrentar a administração
indireta também fazendo cortes, para que seu Governo seja eficaz e
possa dar as respostas que a sociedade precisa e merece e,
sobretudo, cumprir os compromissos assumidos em campanha. Muito
obrigado.
O Deputado Edson Rezende* - Sr. Presidente, para encerrar,
gostaria de dizer ao Deputado João Paulo, a quem muito respeito,
que a mesma autoridade que as eleições deram ao Governador do
Estado o povo mineiro também deu aos Deputados Estaduais, quando
os elegeu. Logo, a mesma autoridade de que dispõe o Governador
para fazer as modificações, a reforma administrativa, o povo
mineiro conferiu aos Deputados.
E é com os seus Deputados, na próxima legislatura, que o
Governador eleito deveria contar para fazer a reforma
administrativa.
Se qualquer um de nós chegar a qualquer órgão sem conhecer a
realidade, de imediato podemos propor alguma reforma? Não faço
restrição à pessoa do Governador eleito, mas à condição de quem
está chegando e pretende fazer modificações.
Por último, para os cargos de comissão ou de confiança, não
precisa reforma administrativa, porque o Governador pode não
preenchê-los. Muito obrigado.