Pronunciamentos

DEPUTADA BEATRIZ CERQUEIRA (PT)

Discurso

Elogia o trabalho do deputado Sargento Rodrigues na defesa da segurança pública. Questiona a falta de debate sobre o impacto sobre Minas Gerais das tarifas externas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Critica parlamentares que se dedicam a pautas ideológicas de ódio e perseguição. Defende a importância da literatura e pede desculpas públicas por ataques de deputado a Jeferson Tenório, autor do livro “O Avesso da Pele”, e a professoras que utilizaram essa obra em sala de aula.
Reunião 21ª reunião ORDINÁRIA
Legislatura 20ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 24/04/2025
Página 60, Coluna 1
Aparteante BELLA GONÇALVES
Indexação

21ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 22/4/2025

Palavras da deputada Beatriz Cerqueira

A deputada Beatriz Cerqueira Oi, gente. Boa tarde para nós, que estamos neste Plenário. Presidente, boa tarde.

O presidente Boa tarde, deputada Beatriz.

A deputada Beatriz Cerqueira Boa tarde a todo o mundo que está acompanhando os trabalhos deste Plenário, nesta terça-feira, dia 22 de abril. Estava me recordando de algumas coisas e vou compartilhá-las com vocês. Estava me recordando de uma conversa que tive com o deputado Sargento Rodrigues, na semana passada, Bella. Eu disse a ele: “Rodrigues, espero que a turma da segurança pública tenha aprendido a lição, porque, no final, deputado, é você que representa a pauta aqui. É você que apresenta o debate e as necessidades dos trabalhadores da segurança pública todos os dias”. Às vezes, a gente faz um voto ideológico e se esquece de que, neste Parlamento, a vida da gente, que é servidor público, é muito decidida. Tenho minhas diferenças com o Rodrigues, mas também tenho as minhas alianças táticas.

Sinceramente, faço votos de que a categoria tenha tido condições de fazer esse balanço, porque, na hora do enfrentamento, na hora da obstrução do Regime de Recuperação Fiscal, na hora de coletar assinaturas para a emenda do reajuste da segurança pública – o governo Zema não vai mandar nada –, quem vai de parlamentar em parlamentar, quem faz a pauta dos trabalhadores da segurança pública, nesta Casa, todos os dias, é o deputado Sargento Rodrigues. De resto, você tem aí uma falsa ideia de deputados, de alguns colegas que dizem que defendem a segurança pública, mas que gastam toda a sua energia em pautas ideológicas, em pautas de perseguição à escola, em outras pautas. Mas, na hora de defender, de estar em todas as comissões e de fazer as obstruções, como encontrei o deputado Sargento Rodrigues em várias comissões sobre o Regime de Recuperação Fiscal, no ano passado, era só ele. Então queria apresentar esse registro, porque estava pensando muito nessa conversa que tivemos na semana passada.

Em segundo lugar, estou sentindo falta também do debate das consequências do tarifaço do Trump. Isso impacta o nosso estado. A turma vem de boné vermelho, tira sarro, tira onda, mas ninguém vai debater as consequências do que Donald Trump está fazendo e os impactos disso para Minas Gerais? Há impactos, pessoal, há muito impacto na nossa indústria. Há muito impacto. Mas aí reina um silêncio. Também estou sentindo falta desse debate de conteúdo, porque não acho que a população eleja um parlamentar e pague a ele, por mês… Qual é o salário de um parlamentar hoje? R$34.000,00? Cada deputado estadual recebe um salário de cerca de R$34.000,00 por mês. Não acho que a sociedade pague um salário de R$34.000,00 por mês a um deputado estadual para perseguir escola, perseguir professora e fazer do seu exercício parlamentar… Acho que isso merece um debate, porque, se você não tem um projeto nem uma pauta relevante, você entrega o que à sociedade? Perseguição à escola? Se você tira de determinado parlamentar… Estou falando aqui, na Assembleia, mas o meu exemplo serve para câmaras municipais, pessoal. Há mandatos que se organizam exclusivamente na pauta da perseguição, na pauta do ódio às mulheres, do ódio à escola e da perseguição à professora. Se você tira esse conteúdo do parlamentar, sobra o quê? Se você tira esse conteúdo do parlamentar, sobra o quê? Se eu não pego um livro e o leio, eu não consigo sustentar 15 minutos de fala. Então merece reflexão: para quê serve um parlamento, para quê serve o exercício de um mandato? Que entrega você faz à sociedade além do ódio às mulheres, da perseguição às escolas e da tentativa de criminalização de professoras, incitando setores da sociedade contra professoras? Mas você não consegue sustentar 15 minutos de fala, a não ser que leia o livro.

Feitas essas considerações, eu quero aproveitar este momento de audiência da TV Assembleia para pedir desculpas ao Jeferson Tenório. Eu quero que você nos desculpe, porque nós, mineiros e mineiras, na nossa maioria, respeitamos você, lemos os seus livros e achamos que a sua contribuição à literatura é muito importante. Então eu quero deixar esse pedido de desculpas por você ter sido envolvido na última onda. Está chegando a eleição de 2026, então, se não polarizarem pelo ódio, não sobra nada para determinados tipos de parlamentares apresentarem para conseguirem coletar os próximos votos. Então, Jeferson, eu quero lhe pedir desculpas. Eu acho que é importante lhe dizer que nós, mineiros e mineiras, não somos assim. Nós somos acolhedores, nós somos gentis, nós entendemos de literatura, nós sabemos ler um livro sem fazer recortes sem contexto, desvirtuando a finalidade de uma obra literária. Nós, mineiros, sabemos, sabemos ler e interpretar. Alguns poucos não o sabem, e, por eles, eu quero lhe pedir desculpas.

Eu quero contar para quem ainda não teve a oportunidade de ler a obra… E quero lamentar, porque, mesmo com tantos problemas que os mineiros e as mineiras vivem, a gente tem que gastar o tempo na tribuna para falar sobre isso, para defender o óbvio, para defender o básico e para lembrar algo com que a gente não deveria estar gastando tempo para fazer essa fala. Mas, se é necessário, a gente a faz. Eu quero lembrar… Eu fui à página da Companhia das Letras, que é por onde o O avesso da pele foi publicado, que tem uma síntese do livro: “Um romance sobre identidade e as complexas relações raciais, sobre violência e negritude, O avesso da pele é uma obra contundente no panorama da nova ficção literária brasileira. Vencedor do Prêmio Jabuti na categoria 'Romance Literário'. O avesso da pele é a história de Pedro, que, após a morte do pai, sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos. Com uma narrativa sensível e por vezes brutal, Jeferson Tenório traz à superfície um país marcado pelo racismo e por um sistema educacional falido e um denso relato sobre as relações entre pais e filhos. O que está em jogo é a vida de um homem abalado pelas inevitáveis fraturas existenciais da sua condição de negro em um país racista; um processo de dor, de acerto de contas, mas também de redenção, superação e liberdade. Com habilidade incomum para conceber e estruturar personagens e para lidar com as complexidades e pequenas tragédias das relações familiares, Jeferson Tenório se consolida como uma das vozes mais potentes e estilisticamente corajosas da literatura brasileira contemporânea.”

Então se você não o leu… E ainda na apresentação: “Um romance sobre identidade e as complexas relações raciais sobre violência e negritude”. Se você não leu O avesso da pele, se você não conhece as obras do Jeferson Tenório, eu sugiro que o leia. É um dos melhores livros que eu já li na minha vida, e olha que eu sou conhecida como uma deputada que muito lê, que tem uma biblioteca maravilhosa, porque ler nos salva de ignorâncias, não é? Ler nos salva de ter determinados comportamentos que envergonham a sociedade. Então leia a obra de Jeferson Tenório porque ela é muito relevante.

Eu quero aproveitar a oportunidade para pedir desculpas à professora, às duas professoras. Lamento que elas tenham sido arrastadas para essa lama, primeiro, por um parlamentar municipal, depois, por um estadual, porque a vida delas virou pelo avesso. Passaram a receber ameaças à sua integridade física, tiveram a sua condição de trabalho completamente devastada. E toda vez que, sob a justificativa da imunidade parlamentar, um parlamentar persegue uma professora, eu quero dizer a vocês que, em alguma medida, ele destrói a vida dessa professora. Eu quero pedir desculpas a essas professoras. Eu sinto muito que, no momento em que se deveria lutar por melhores condições de salário, de carreira, por melhores condições de trabalho – há 60 mil auxiliares de serviço recebendo menos do que salário mínimo. Quem está fazendo essa luta?

No que se refere a condições estruturais da escola, a turminha não gasta energia, não, mas, para perseguir professora, para fazer essa realidade paralela, buscando likes e buscando entregar ódio e violência, para que tenham mais votos nas próximas eleições, para isso, gastam energia.

Por fim, eu quero compartilhar e prestar contas à sociedade: toda vez que uma professora é perseguida no exercício da sua profissão, eu atuo. Eu fui eleita para isso. Proteger escolas e proteger as profissionais da educação é o mínimo que se espera de um parlamento que tenha compromisso com a democracia. Essa situação absurda, lamentável e criminosa contra a escola e contra as professoras foi denunciada ao Ministério Público Estadual, ao Ministério Público Federal e foi encaminhada à Secretaria de Estado da Educação. Eu só não faço disso… Eu só não fico retroalimentando isso, porque eu sei que sou uma pessoa tão grande, tão gigante que eles precisam de mim para alimentar a rede de ódio deles. Eles precisam de mim para que a sua rede social cresça mais um tiquinho. Quando eles fazem esses discursos de ódio, quando vão para as suas redes sociais e citam o meu nome, eles precisam de mim. Eu fico me perguntando: se eu não estivesse aqui, como deputada e na vida parlamentar, como eles sobreviveriam? Acho que não sobreviveriam.

Eu quero compartilhar as ações que foram feitas. E sempre que a Constituição Federal, a LDB, a liberdade de cátedra forem afrontadas e atacadas, haverá atuação desta parlamentar. Eu fui eleita pela educação e por vários outros movimentos e setores. Eu não traio o voto que eu recebi. Eu não venho para cá para fazer outras coisas que não sejam aquelas que sejam importantes para a sociedade mineira. São as minhas considerações e os esclarecimentos necessários que eu acho importante fazer, sem precisar gritar, sem precisar bater na mesa ou nesse espaço, sem precisar ficar colocando desafios a ninguém. O grande desafio é entregar à população o que é importante para ela. E perseguir escola só tem importância para essa redezinha de ódio, que alimenta sabe o quê? Essa rede de ódio alimenta grupos criminosos, como o que nós vimos recentemente numa reportagem investigativa da Globo a respeito desses grupos virtuais de que participam as nossas crianças e adolescentes e são alvos de tantas violências.

Quando você impede a escola de discutir a realidade dessas crianças e adolescentes, você abre espaço para esses criminosos. A gente tem que pensar em colocar nesse debate quem, ao fazer esses discursos de ódio contra a escola, está contribuindo para mais violência contra as escolas e contra as nossas crianças e adolescentes e professoras.

A deputada Bella Gonçalves (em aparte) Sim, presidenta. Eu queria dizer que a gente está num momento em que os deputados que levantam a voz pretensiosamente, achando que estão defendendo as crianças, tenham a oportunidade de fazer isso com os vetos no orçamento do governador. Há ali pontos importantes sobre os direitos das crianças com algum tipo de deficiência e autismo que foram vetados pelo governador. Há também a discussão sobre a valorização da educação pública.

Então eu queria rapidamente dizer que, de fato, é lamentável ver as crianças na boca imunda de gente fundamentalista, quando deveriam estar no orçamento para ser valorizadas junto com as professoras. Minha solidariedade a você, que, com essas professoras, foi atacada justamente por fazer a defesa delas.