Minas Gerais tem cultura e gastronomia extraordinárias, cidades históricas e comunidades tradicionais. Tem natureza, e sua preservação também é um ativo. Além disso, o mundo quer um turismo de experiência. As constatações são do presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), Marcelo Freixo.

Ele participou, na segunda-feira (8/4/24), de audiência da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) e apresentou as ações que estão sendo desenvolvidas na agência. Também recebeu demandas de entidades mineiras ligadas ao turismo e de deputados, entre as quais o apoio para a criação do Parque Nacional da Serra do Curral.

Freixo mencionou avanços da Embratur, os quais podem subsidiar tanto projetos públicos quanto privados. É o caso do Centro de Inteligência de Dados, que tem o perfil completo dos turistas estrangeiros que visitam o Brasil. “Isso nos permite políticas públicas mais eficientes”, salientou. Há, ainda, uma equipe de modal, que busca a ampliação de voos.

Nesse ponto, ele destacou o voo direto entre Santiago (Chile) e Belo Horizonte, pela companhia Sky, que entra em operação este ano. Segundo Freixo, nos 12 meses encerrados em fevereiro de 2024, o número de chilenos em visita ao Brasil subiu 77%. “O Chile já é o terceiro maior emissor de visitantes. Por isso, corremos atrás desse voo e trouxemos jornalistas chilenos para cobrir o Carnaval de BH. Eles saíram encantados”, detalhou.

Outra ação específica para Minas, realizada em 2023, foi a vinda de jornalistas dos Estados Unidos para Belo Horizonte, Mariana, Ouro Preto e para o Museu Inhotim, em Brumadinho. Além disso, o queijo Canastra foi um dos destaques de um projeto de audiovisual desenvolvido pela Embratur e exibido no mundo todo.

“Estamos mostrando que o Brasil é muito mais que sol e praia. Mais que o Carnaval do Rio”, explicou Marcelo Freixo.

Parlamentares questionam sobre mineração

Questionado pelo deputado Leleco Pimentel (PT) sobre as ameaças da mineração em Minas, Freixo defendeu o turismo como um motor de modelo de desenvolvimento sustentável. Argumentou que, enquanto o mercado de óleo e gás movimenta 12% do Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil, o turismo já chega a 8%. Segundo ele, em 2023, a receita com turismo internacional no País bateu recorde, chegando a 6,9 bilhões de dólares.

O deputado federal Padre João (PT-MG) enfatizou a questão minerária, com a destruição de cachoeiras e a poluição de rios, como as maiores ameaças ao turismo em Minas. “A mineração gera menos de 4% do PIB. Ouro Preto sempre teve mineração e, hoje, tem milhares de pessoas em situação de pobreza”, afirmou o parlamentar.

Ainda no tema da mineração, o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) pediu apoio para a criação do Parque Nacional da Serra do Curral. Ele justificou que, de tempos em tempos, volta a ameaça da mineração no local. “A Cordilheira do Espinhaço agoniza. O turismo socioambiental é a resposta à destruição da economia local”, acrescentou a deputada Bella Gonçalves (Psol).

Participantes apresentam sugestões e demandas

Festas populares, carnaval, catopês e congadas, lagos, comunidades tradicionais: as demandas e sugestões para incremento do turismo em Minas apresentadas por parlamentares e outros participantes da audiência foram diversas e contemplaram várias regiões do Estado. “O turismo é preservação, é pertencimento, é dinheiro no bolso”, justificou a deputada Lohanna (PV).

A deputada Andréia de Jesus (PT) destacou o turismo de base comunitária, com a possibilidade de criação de circuito de comunidades quilombolas. Para ela, essa seria uma resposta a muitas mazelas enfrentadas por essa população e reforçaria a proteção aos territórios.

Já o presidente da comissão, deputado Professor Cleiton (PV), criticou o Governo do Estado por repassar à iniciativa privada espaços públicos voltados para a cultura. Ele citou que a Serraria Souza Pinto, por exemplo, teve o uso concedido a um grupo privado pelo equivalente a R$ 2.700,00 por mês. Mencionou a tentativa de privatização do Parque das Águas de Caxambu (Sul). Também cobrou apoio para a manutenção do uso múltiplo das águas nos Lagos de Furnas e Peixoto.

A promoção do Circuito das Águas nos roteiros internacionais foi demandada, ainda, por representantes de entidades de classe do setor de turismo, bem como a preservação de linhas férreas e o incremento na utilização do Aeroporto Internacional de Confins, com a atração de mais voos.

Alto custo de passagens aéreas

A principal insatisfação apresentada foi com o alto custo das passagens aéreas, acrescida de reclamações sobre o serviço das companhias. “Os preços são proibitivos, está se tornando praticamente impraticável viajar pelo Brasil”, sintetizou a presidenta do Conselho de Turismo da Associação Comercial de Belo Horizonte, Luciana Atheniense.

Marcelo Freixo concordou com as queixas sobre o serviço e admitiu os elevados preços das passagens. Para ele, a solução para o problema é atrair mais companhias para atuar no País, mas esse desafio demandaria ações que fogem da alçada da agência, como a redução no preço dos combustíveis.

Em sua opinião, é preciso criar mais confiança política, até mesmo porque o Brasil, com dimensões continentais, tem no transporte aéreo um componente muito importante. 

Já o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais, Nadim Elias Donato Filho, citou a segurança pública como desejo de todo turista. Sobre isso, Freixo apontou o turismo como a solução para o problema. “Se eu promovo um lugar, promovo a segurança ali”, afirmou.

A deputada Beatriz Cerqueira (PT) saudou o momento de prestação de contas da Embratur e de planejamento de novas ações. “A sociedade tem direito a isso. E esse encontro fortalece a política pública”, afirmou. A deputada propôs o requerimento que deu origem à audiência, também assinado pelas deputadas Macaé Evaristo (PT) e Lohanna e pelos deputados Leleco Pimentel e Professor Cleiton.