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Para alavancar turismo e gastronomia, setores cobram mais ônibus à noite

Convidados lembram que BH é cidade dos bares e tem título dado pela Unesco, enquanto Estado acena com estudo de demandas contratado com a Codemge.

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A saideira da noite para o último pedido no bar está cada vez mais cedo, assim como sair para jantar em Belo Horizonte após um show à noite está ficando mais difícil. Tudo por conta do transporte coletivo reduzido no horário noturno, conforme relatos que cobraram nesta sexta-feira (5/12/25) soluções para ampliar a oferta de coletivos após as 23 horas nas linhas da Capital e cidades próximas na Região Metropolitana.

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O assunto foi discutido em audiência pública conjunta na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada pelas Comissões Extraordinária de Turismo e Gastronomia e de Transporte, Comunicação e Obras Públicas, a pedido do deputado Mauro Tramonte (Republicanos), que preside a primeira.

Karla Rocha, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel), foi uma das que expôs dificuldades do segmento. Ela é sócia do bar Bolão e sobrinha do falecido chef que deu nome ao tradicional espaço de Belo Horizonte, cuja morte motivou um minuto de silêncio na audiência.

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Kátia Rocha contou que no tradicional evento "Comida de Boteco", fez uma rota para percorrer oito bares, mas só conseguiu ir a cinco, por causa do fechamento mais cedo. "E pasmem, com bares lotados na saideira", registrou sobre a consequência da falta de transporte noturno para quem precisa deixar o trabalho e voltar para casa.

Flávia Badaró, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Minas Gerais e do Conselho Empresarial de Turismo da Associação Comercial de Minas Gerais, também frisou que a retomada do horário noturno no transporte coletivo é essencial, tanto para os colaboradores que trabalham no segmento como para turistas que vêm para eventos em Belo Horizonte e querem sair à noite, para conhecer a cidade, famosa pelos bares.

Edson Carlos Pinto, coordenador do Movimento dos Motoristas Unidos, endossou os relatos, mas registrou que a dificuldade do transporte sobretudo no período noturno não é só da população usuária, mas também dos próprios trabalhadores ao volante.

Ele citou o caso recente de um motorista de coletivo que trabalha à tarde, encerrou a escala a uma hora e 20 da manhã, mas teve que ficar na garagem do ônuibus até as 5h da manhã para então conseguir voltar para casa.

Edson Carlos Pinto sugeriu que no período noturno, dependendo da demanda e das localidades, no lugar dos ônibus convencionais sejam usados micro-ônibus, mais econômicos e mais adequados à redução da demanda, conforme avaliou.

Estado acena com estudos para rever sistema

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O diretor de Gestão do Transporte Coletivo Metropolitano da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra), Fábio Damião Botelho, defendeu que o transporte coletivo precisa ser visto sob a ótica de três pilares: quem usa, quem opera e quem gerencia, sendo os usuários os mais afetados por deficiências.

"Para equilibrar receita e conforto ao usuário não é fácil", avaliou, informando que na licitação do serviço foi adotado o sistema de consórcios. A dificudade é que no horário noturno há linhas ultrapassando 100 km percorridos às vezes levando de uma a três pessoas, argumentou.

"Porém, não estamos acomodados, estamos fazendo estudos e neste momento há um levantamento em andamento da demanda nas regiões", sinalizou. 

Diovane de Sá Leopoldino, superintendente de Transporte Coletivo Intermunicipal e Metropolitano também da Seinfra, acrescentou que já foi contratada a Codemge para mapear a demanda nas várias regiões. "Estamos discutindo um sistema novo, revendo redes e caminhando com vários estudos ocorrendo agora", reforçou.

Um exemplo citado foi a implantação do corredor da Avenida Amazonas, visando a uma melhor integração do transporte junto com Betim, Contagem, Nova Lima e BH. 

Conforme observou o superintendente da Seinfra, tecnicamente há soluções, mas que dependem de custos, entendimentos e vontade política. Segundo ele, a RMBH parece a raiz de uma árvore, em que bairros brotam e crescem com infraestrutura zero e num momento em que o subsídio ao transporte metropolitano estaria cada vez mais difícil.

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Prefeituras têm demandas

O transporte coletivo noturno é um tema que precisa ser discutido nas cidades brasileiras em geral, sobretudo no pós-pandemia, quando a retomada do serviço noturno teria sofrido uma queda, conforme defendeu Geraldo de Paula, assessor da Transcom, autarquia de trânsito e transporte de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).

"As empresas de transporte ficaram mais acomodadas na pandemia e depois, quando a vida voltou ao normal, não houve contrapartida para retomar o noturno e esse é um desafio a ser vencido", avaliou ele, para quem as cidades não podem ficar à mercê dos aplicativos de transporte. "Não que sejamos contra eles, mas a favor do coletivo, da coletividade", defendeu.

Entre outros relatos na audiência, Hélio Teixeira Rosa, representante da Prefeitura de Santa Luzia, acrescentou que somente esta semana foi retomada a licitação para um terminal do Move parado há mais de 10 anos na cidade. 

A vereadora de Vespasiano Luciene Maria Fonseca reivindicou uma estação do Move no centro de sua cidade para otimizar a mobilidade. 

Soluções conjuntas

O deputado Mauro Tramonte defendeu a busca de soluções conjuntas, pontuando que Minas consolidou sua importância em volume de visitantes devido à gastronomia e à relevância histórica, devendo o transporte coletivo, incluindo a expansão do horário noturno, estar à altura, alavancando a geração de emprego, renda e de arrecadação.

O parlamentar citou a recente distribuição de 600 novos ônibus em BH e na RMBH. "Mas, mesmo com esse aumento no período noturno, eles seguiram com a diminuição do horário, parando a partir das 23 horas e encerrando meia noite,", apontou, mencionando impactos negativos para empreendimentos como hotéis, shoppings e restaurantes.

"Precisamos pensar possibilidades em conjunto para uma solução, o intuito não é crucificar empresas de transporte ou administrações públicas, mas a mobilidade", concluiu, defendendo que sejam estudadas em Minas experiências como a iniciada em Goiânia (GO), para o uso de um aplicativo de transporte coletivo sob demanda, por meio de micro-ônibus para complementar o sistema convencional, segundo ele o primeiro da América Latina.

Comissões de Turismo e de Transporte -  debate sobre deficiências no transporte público
"A capital dos bares e dos botecos, a cidade criativa da gastronomia segundo título da Unesco, como recebe o turista sendo que 10 e meia ou 11 horas da noite passa a saideira?"
Karla Rocha
Presidente da Abrasel em Minas
Comissões de Turismo e de Transporte -  debate sobre deficiências no transporte público
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