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Obras da linha 2 do metrô danificam moradias e aumentam risco de acidentes

Enquanto algumas famílias ainda lutam para serem indenizadas, outras se queixam de que a morosidade das obras ameaça suas casas.

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Há 20 anos convivendo com os perigos de morar ao lado de uma linha férrea, Poliane Cristina Furtado nunca teve motivos para ficar tão preocupada. A cada chuva, sua cozinha se enche de lama que se infiltra da parede e do piso. Depois de chamar a Defesa Civil, os motivos de alarme aumentaram, pois foi advertida de que a parede de sua cozinha pode romper. O problema, segundo ela, começou depois que casas vizinhas foram demolidas para viabilizar a obra da linha 2 do metrô de Belo Horizonte.

A casa de Poliane Furtado foi uma das que foram visitadas nesta segunda-feira (24/11/25) pela deputada Bella Gonçalves (Psol), presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). O objetivo foi verificar os impactos das obras para alguns moradores de casas vizinhas, nos Bairros Nova Gameleira e Nova Cintra. A linha 2 está sendo construída ao lado da linha férrea utilizada pela MRS e VLI, grandes empresas de logística.

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A cozinha cheia de barro e a parede que ameaça desabar não são os primeiros problemas que as obras do metrô causaram para Poliane Furtado. Há quatro meses, ela vivia em outra casa, no mesmo bairro, que foi desapropriada para a construção da linha 2.  

Com o dinheiro da indenização, ela comprou a casa atual, uma vez que a Metrô BH, empresa responsável pelo projeto, lhe garantiu que a moradia não seria afetada. De fato, sua casa atual continua de pé, mas a demolição das residências que ficam logo acima, há três semanas, abriu caminho para a infiltração da água e da lama, que ameaçam expulsá-la para a rua, pela segunda vez.

Mulher de 49 anos perdeu a perna após ser atropelada pelo trem

Outras 16 famílias vizinhas nem indenização conseguiram. Algumas moram a menos de um metro e meio da linha férrea, sem qualquer isolamento. Se isso não fosse perigo suficiente, agora também convivem com escombros de casas demolidas, sujeira e máquinas pesadas transitando. Natalícia Gomes da Silva, de 49 anos, escorregou no entulho e perdeu a perna após ser atropelada por um trem de carga da MRS.

Sua filha, Jéssica Gomes da Silva, disse que não houve qualquer assistência ou apoio, nem da MRS, nem da Metrô BH. A própria Jéssica ainda luta para receber sua indenização. O imóvel em que vivia já foi interditado, mas era dividido em três moradias, e apenas duas foram reconhecidas e indenizadas.

Conforme Amanda Lélis, uma das representantes das 16 famílias que lutam por indenização, elas foram excluídas do acordo que já removeu mais de 300 famílias porque a documentação apresentada para comprovação da residência não teria sido considerada suficiente ou adequada.

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Mas as queixas não param aí. No Bairro Nova Cintra, outra preocupação de aproximadamente 50 famílias é que a construção do muro de isolamento da linha 2 do metrô as deixem sem saída, fechando o único acesso à rua Ipê. 

O acesso à rua Tombador, que fica acima, passa por um beco tão estreito que não cabe nem uma geladeira ou um guarda-chuva aberto. Para Wiliam Douglas de Morais, que é cadeirante e mora ali há 10 anos, seria impossível se deslocar sem ajuda por esse caminho.

No mesmo grupo de casas vive Dalva Romualdo, que está ali há 60 anos. Sua queixa é de que as obras enfraqueceram o barranco abaixo de sua moradia, causando rachaduras.

Deputada teme nova tragédia

Após visitar as moradias dessas pessoas, a deputada Bella Gonçalves alertou para o perigo de uma nova tragédia. Além do recente atropelamento, ela disse temer desabamentos dos barrancos expostos pelas obras e soterramento de casas abaixo. Ela disse que irá solicitar vistorias da Defesa Civil em todas as casas. 

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“Com moradores vivendo, trens da MRS e VLI passando e a obra da Metrô BH acontecendo, acidentes já ocorreram. O que a gente vê quando chega aqui são pessoas passando de um lado para o outro do trilho do trem, em alguns casos até mesmo crianças. Então é urgente que se faça o isolamento dessa área. Um canteiro de obras não pode ser um espaço de moradia”, alertou a deputada.

Para retirar as pessoas, no entanto, Bella Gonçalves afirmou que é preciso incluí-las no acordo de indenização, pois sem isso muitas disseram que serão obrigadas a viver nas ruas. “Justo aquelas 16 famílias que estavam mais próximas da linha do trem não tiveram as casas seladas. Então, para que a obra avance, elas vão precisar ser reassentadas e a gente pede para que a Metrô BH inclua essas famílias no acordo”, defendeu a parlamentar.

Acordo já removeu 341 famílias

A desapropriação dos imóveis para viabilizar a implantação da linha 2 do metrô foi formalizada em julho deste ano pelo Governo do Estado. São lotes e imóveis comerciais e residenciais localizados nos Bairros das Indústrias, Calafate, Gameleira, Vista Alegre, Nova Cintra e Dom Cabral. A Metrô BH, responsável pela execução do projeto, conduz os processos de desapropriação e pagamento das indenizações, sob supervisão da Secretaria de Estado de Infraestrutura (Seinfra).

Acordo realizado com 341 famílias, em maio, fixou montantes entre R$ 105 mil e R$ 346,9 mil, com diversas faixas que variam conforme as características de cada imóvel. As famílias também têm direito a quatro meses de aluguel social custeados pela Metrô BH, no valor de R$ 850 mensais, além de mudança sem custos e custeio de R$ 2,5 mil para um segundo carreto, ambos inclusos na proposta mínima de indenização.

As obras da linha 2 do metrô de Belo Horizonte, que vai ligar a Nova Suíça ao Barreiro, tiveram início em setembro de 2024. O novo ramal terá pouco mais de 10 km de extensão e sete novas estações, com investimentos da ordem de R$ 3,7 bilhões. A nova linha deve entrar em operação em junho de 2028. Mas o trecho entre as estações Nova Suíça e Amazonas já estará operando em julho de 2026, segundo informações da Seinfra.

Comissão de Direitos Humanos - visita a obras da Linha 2 do metrô de Belo Horizonte
Comissão de Direitos Humanos - visita a obras da Linha 2 do metrô de Belo Horizonte

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Famílias que vivem na área de demolição aguardam respostas sobre indenizações pendentes TV Assembleia
Comissão de Direitos Humanos - visita a obras da Linha 2 do metrô de Belo Horizonte

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