Modelo de escola cívico-militar é defendido em Santos Dumont
Cidade recebeu audiência da ALMG para debater programa do governo do Estado envolvendo gestão compartilhada no ensino escolar
Pais, alunos, professores, militares e vereadores presentes à audiência da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) realizada em Santos Dumont (Central) defenderam na quinta-feira (13/11/25) a permanência do modelo de ensino cívico-militar na Escola Governador Bias Fortes.
O modelo educacional em que civis e militares compartilham a gestão de escolas foi discutido na câmara municipal, a pedido do presidente da Comissão de Esporte, Lazer e Juventude da ALMG, deputado Coronel Henrique (PL).
A Escola Cívico-Militar Governador Bias Fortes é uma das nove escolas que funcionam no modelo em Minas. As demais estão em Três Corações (Sul), que recentemente sediou audiência da comissão sobre o mesmo assunto; Itajubá (Sul); São João Del Rei (Central); Ibirité e Contagem (duas escolas), na Região Metropolitana de Belo Horizonte; além de na Capital (duas escolas).
Conforme frisou o deputado, a escola de Santos Dumont foi a última das nove escolas de Minas a aderir ao formato, em 2022, ainda dentro do programa nacional criado na gestão do presidente Bolsonaro. No ano seguinte, o presidente Lula acabou com o programa, deixando a cargo dos estados seguir ou não com o modelo.
Minas optou por manter o modelo, substituindo os militares do Exército por bombeiros militares, sendo até cinco por escola. Em julho deste ano, interessado em ampliar o programa, o governo do Estado fez uma consulta a 727 escolas de 133 cidades sobre o interesse de adotar o modelo.
Mas uma ação no Tribunal de Contas do Estado (TCE) movida por pessoas contrárias à medida pediu a suspensão da ampliação do programa, tendo o PT pedido ainda que a partir do ano que vem o programa seja encerrado nas nove escolas, obtendo liminar favorável à extinção, o que foi criticado por Coronel Henrique e apoiadores do modelo em Santos Dumont. Segundo o deputado, caberá ainda ao Supremo Tribunal Federal (STF) decidir sobre a questão no País.
Segundo o deputado, o programa seria "cercado de mentiras" pelos que são contrários ao modelo, como dizer que professores serão demitidos ou que militares vão ocupar as salas de aulas. Segundo ele, as mentiras ocorrem por questões políticas e ideológicas ou por desconhecimento sobre o modelo,
“Essa audiência pública aqui é para levar a verdade sobre a situação. Muitos que são contra não sabem explicar a razão porque não conhecem o modelo. Mas quanto mais se escuta, menos se erra”, defendeu o deputado.
Violência ficou no passado, diz diretora
Trabalhando há 30 anos na Escola Governador Bias Fortes, sendo os últimos 10 anos como diretora, Roselene dos Santos lembrou como a unidade era, antes da chegada dos bombeiros militares, refletindo uma realidade difícil e cheia de desafios.
“Eram muitos os problemas, iam além dos nossos muros, pois a escola era reflexo do que ocorria na comunidade. Problemas de ordem disciplinar que evoluíam para atos infracionais, problemas com uso de drogas, com agressões físicas e verbais a professores, presença de alunos com armas brancas como faca, ameaças de morte”, citou ela.
Mostrando uma pilha de pedidos de socorro não atendidos na ocasião, feitos a instâncias como Polícia Militar, Juizado da Infância e da Adolescência e Conselho Tutelar, Roselene relatou que uma das solicitações não atendidas foi a patrulhamento na entrada das aulas.
Segundo ela, o objetivo era coibir o uso de drogas por alunos antes da entrada no turno da manhã. Alguns becos e uma linha férrea aberta, no entorno da escola, eram usados por traficantes para aliciar alunos, facilitando o consumo.
“Alunos entravam diferentes, agitados, ou sonolentos e apáticos, às vezes levando mais droga nos bolsos e repassando dentro da escola. Desafiavam a autoridade escolar. E na saída, brigas entre eles”, enumerou a diretora, para quem a gestão compartilhada com os bombeiros militares mudou o cenário.
A diretora também observou que inverdades costumam ser ditas quando se discute o modelo cívico-militar. Segundo ela, críticos falam muito na questão da identidade, de que os alunos perderiam seu cabelo colorido ou comprido, suas características próprias.
“Nada disso. Eles são quem eles são. Sabem que, quando é preciso, somos enérgicos e chamamos atenção, mas sabem também que encontram nosso carinho e têm liberdade”, disse ela, endossada pela vice-diretora, Erika Abidallah. “A chegada (dos militares) somou. Só temos a agradecer e torcer para que esse programa continue”.
Gestor militar e alunos elogiam acolhida
Gestor militar na escola, o tenente Maia disse que a escola passou por momentos sombrios, mas que hoje os acontecimentos relatados pela diretora ficaram para trás. Segundo ele, os militares do Exército deixaram uma boa base e estrutura para os monitores do Corpo de Bombeiros, que chegaram à escola em fevereiro do ano passado, já sem os desafios relatados pela diretora.
“Nossa missão na escola é apoiar integralmente a diretora. Atuamos repassando aos alunos princípios e valores éticos, morais e disciplinares e conhecimentos sobre atuação em autoproteção individual e familiar”, frisou o gestor.
O aluno, por exemplo, aprende a como atuar em prevenção de afogamento, em primeiros socorros e atendimento pré-hospitalar, podendo ser um agente multiplicador na família e na comunidade, salvando vidas ou amenizando prejuízos materiais até a chegada do batalhão nos casos necessários, sendo o mais próximo o de Juiz de Fora, a 40 km.
Cibele, aluna do 6º ano, pediu: “Não é para tirar os monitores, gosto muito deles, a escola mudou quando chegaram”. Colegas da estudante manifestaram o mesmo desejo, em falas resumindo o mesmo sentimento: "os bombeiros mostram respeito pela nossa escola”.
Para Ágata, do 8º ano, se retirados da escola, problemas como os citados pela diretora podem voltar piores. A aluna Vitória, há somente seis meses na escola, disse esperar continuar lá os seus estudos, e no modelo atual. “Eles (bombeiros) têm grande respeito pelos alunos. Todos os meus irmãos já estudaram na escola, moro em outro bairro, é bem longe, mas saio todo dia para estudar nela”.
Vereadoras presentes também se manifestaram em apoio à escola, como Thailandia Maria de Freitas Leite, Josiane Lopes Almeida de Oliveira e Flávia Letícia Ferreira e o vereador Everaldo Barbosa Coelho e Thailandia Maria de Freitas Leite.
