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Mineradora Nexa é acusada de poluir rio e adoecer trabalhadores e moradores

Nexa é uma das maiores produtoras de zinco do mundo e tem uma refinaria em Juiz de Fora.

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Rio Paraibuna com concentração de cádmio (metal cancerígeno) até 20 vezes maior do que o limite regulamentar; ex-trabalhador afastado e sem renda com exames que indicam contaminação por zinco no sangue; e moradora que teve de deixar a casa própria e hoje paga aluguel. Esses foram apenas alguns dos danos relatados em audiência pública realizada na quinta-feira (3/7/25), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

 A audiência pública sobre a atuação da mineradora Nexa Resources no Bairro de Igrejinha, na Zona Norte de Juiz de Fora (Mata), foi realizada atendendo requerimento do presidente da Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social, deputado Betão (PT), que recebeu denúncias do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas de Juiz de Fora e Região (STIM-JF).

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A Nexa Resources é a maior produtora de zinco do Brasil e a segunda do mundo, com receita líquida consolidada de US$ 2,6 bilhões, em 2023. Convidada para a audiência pública, a empresa não enviou representante, assim como já não havia comparecido a uma outra audiência realizada em abril pela Câmara Municipal de Juiz de Fora.

Para a reunião desta quinta, a mineradora enviou apenas um ofício em que diz estar impossibilitada participar por estar dedicada aos preparativos para um seminário de emergência para orientar a população que vive na zona de autossalvamento de sua barragem de rejeitos.

A justificativa foi ironizada pelo deputado Betão, que comentou o fato de a empresa possuir 5,8 mil trabalhadores diretos. “Não é razoável que a empresa não consiga designar um funcionário para participar da audiência”, afirmou. A refinaria de zinco da Nexa Resources existe em Juiz de Fora desde 1980.

Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Juiz de Fora, João César da Silva disse trabalhar na empresa há 40 anos. A entidade sindical, segundo ele, tem conhecimento de vários casos de pessoas que se aposentaram em decorrência da contaminação por diversos metais pesados. A comprovação dessa contaminação, no entanto, depende de exames específicos que não são realizados de forma cotidiana nos trabalhadores e na população do entorno. 

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João César diz que o sindicato vem tentando negociar com a empresa a adoção de procedimentos eficazes para evitar contaminação, assim como a implantação de uma perícia técnica capaz de realizar os exames necessários. Diante da resistência da empresa, foi ajuizada uma ação em 2024.

Tem problema tanto dentro da fábrica como no entorno, no terreno, no solo. Alguns casos a gente pode comprovar e outros a gente tem suspeita fortíssima”, afirmou o sindicalista.

João César disse ainda que a empresa costuma suspender trabalhadores que apresentam altos índices de metais pesados no sangue para realizar novo exame logo quando voltam das férias, a fim de escamotear a contaminação.

Rio Paraibuna foi contaminado com cádmio, zinco e chumbo

Advogado do Sindicato, Rodrigo Vidal afirmou que várias decisões judiciais transitadas em julgado confirmam a contaminação gravíssima de alguns trabalhadores.

A ação ajuizada em 2024 exige indenizações, tratamento médico e mudanças nos procedimentos para evitar a contaminação ou mantê-la em um nível não danoso. Ele também citou diversos estudos da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) que comprovam a contaminação do solo da região e da água do Córrego Igrejinha e do Rio Paraibuna.

Um destes estudos pode ser acessado no repositório da UFJF. De autoria de María Teresa Figueiroa, a pesquisa concluída em 2022 analisa dados do Portal Infohidro, do Instituto de Gestão das Águas, de 2021.

Esses dados (em tabela nas páginas 79 e 80), indicam que a água em um ponto do Rio Paraibuna mais próximo à Nexa tinha uma concentração de cádmio 20 vezes maior que a permitida, uma concentração de chumbo quase quatro vezes maior que o limite, e de zinco mais de oito vezes maior.

“Um forte aumento das concentrações de cádmio e zinco pode ser observado nos anos de 2014 e mais forte ainda nos anos de 2019 e 2020 no ponto BS 083 e nos pontos a jusante. O aumento conjunto do cádmio e do zinco aponta para a Nexa Resources,  já que produz zinco e que o cádmio pode estar presente nos resíduos”, conclui a pesquisadora, na página 89 de seu trabalho.

“No rio Paraibuna não tem peixe porque tá cheio de chumbo e de cádmio”, afirmou a coordenadora estadual do Movimento pela Soberania Popular na Mineração, Lídia Aparecida dos Reis.

Trabalhador permanece afastado por motivos de saúde e sem renda

O lado humano do drama ambiental pode ser verificado no depoimento de Sebastião Domingos de Souza, ex-trabalhador da Nexa, que hoje permanece afastado por motivos de saúde, tendo perdido até mesmo a renda do INSS.

Ele relatou sangramento nasal, tosse seca, dor de cabeça, depressão, esquecimento, dor muscular e fraqueza. “Exame de sangue descobriu uma sequela de zinco no sangue. Hoje o meu salário está sendo um aluguel de uma casa”, afirmou.

Ricardo Nascimento, que continua na empresa, disse já ter perdido mais de 20 amigos com diversos tipos de câncer. Sebastião Geraldo de Souza disse ter feito um exame de medula para constatar a contaminação. “Tive parada cardiorrespiratória e fiquei oito dias no CTI“, recordou.

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Maria Oneida Sousa disse ter deixado sua casa no Bairro Igrejinha após uma mudança no curso do rio, promovida pela empresa. Agora mora de aluguel. Líder comunitária no Bairro Igrejinha, Luiza Barbosa de Mendonça diz que todos na comunidade têm problemas respiratórios.

“Teve uma vez em Igrejinha que, quem tinha uma horta, de manhã amanheceu tudo pintada de ferrugem: em couve, em alface. Depois soltaram um gás lá e quase matou todo mundo dentro de casa. Deu um negócio na garganta da gente”, relatou.

A Câmara Municipal de Juiz de Fora criou uma comissão especial para acompanhar o caso, presidida pela vereadora Laíz Perrut. Na reunião desta quinta, a vereadora disse que a comissão já solicitou uma visita formal às instalações da Nexa, assim como a apresentação de um plano de impacto e mitigação. A vereadora disse que há suspeitas de que a planta da mineradora não tem auto de vistoria do Corpo de Bombeiros.

O superintendente regional do Trabalho e Emprego em Minas Gerais, Carlos Calazans, disse que o órgão firmou um acordo com a Nexa em 2024, após uma greve na unidade da empresa em Três Marias (Central). O acordo inclui um levantamento independente sobre toda a questão ambiental e de saúde naquela unidade, mas Calazans prometeu acionar outros órgãos federais e municipais para estender a ação para outras instalações da empresa.

Não adianta eu resolver o problema em Três Marias e continuar com problema em Juiz de Fora e em Vazante (Noroeste), onde existe uma mina aberta”, afirmou.

No final da reunião, o deputado Betão apresentou diversos pedidos de providências para os problemas relatados pelos sindicalistas. Entre as providências estão visita técnica às instalações da Nexa para averiguar a segurança, diante do fim da vida útil de uma de suas barragens; e também uma investigação sobre a poluição do Córrego Igrejinha.

Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social - debate sobre a contaminação do meio ambiente por metais pesadas pela empresa Nexa Resources na Zona da Mata

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Sindicato denuncia contaminação por metais pesados em Juiz de Fora TV Assembleia
Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social - debate sobre a contaminação do meio ambiente por metais pesadas pela empresa Nexa Resources na Zona da Mata

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