Homenagens ao Papa Francisco dominam pronunciamentos
Assembleia de Minas decretou luto institucional de sete dias, a partir de segunda (21), em sinal de pesar pelo falecimento do líder da Igreja Católica.
O falecimento do argentino Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, dominou os pronunciamentos na Reunião Ordinária realizada na tarde desta terça-feira (22/4/25), no Plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Logo no início da reunião, lembrou-se que o Parlamento mineiro está em luto institucional de sete dias, desde segunda-feira (21), em sinal de pesar pelo falecimento. Papa Francisco morreu na última segunda-feira, em Roma, aos 88 anos.
Entre fevereiro e março deste ano, o líder religioso havia ficado 37 dias internado por causa de um quadro respiratório grave e ainda se recuperava. Ele foi o primeiro papa latino-americano a ocupar o cargo máximo dos católicos.
O deputado Bruno Engler (PL) pediu que fosse respeitado, na Reunião Ordinária, um minuto de silêncio em memória ao Papa Francisco. O deputado Leleco Pimentel (PT), a deputada Andréia de Jesus (PT) e o deputado Caporezzo (PL) apoiaram a lembrança.
Leleco Pimentel ainda lembrou o falecimento do Cônego Jadir Trindade Lemos, 93 anos, da Arquidiocese de Mariana (Central), e Caporezzo citou também a morte do ex-senador por Minas Gerais Ronan Tito, de mesma idade. O primeiro também faleceu na segunda (21), enquanto o segundo, no último dia 10.
Nos pronunciamentos na tribuna do Plenário, Andréia de Jesus lembrou que o Papa Francisco, com muita coragem, modernizou e deu mais transparência às ações da Igreja Católica. “Ele se foi, mas sua coragem segue conosco. O papa tirou o Vaticano do centro das atenções para que a Igreja Católica olhasse para as periferias do mundo”, afirmou.
Entre as ações do Papa Francisco elogiadas pela parlamentar está a benção aos casais homoafetivos, o rompimento do silêncio em torno de escândalos da Igreja Católica, a abertura das finanças do Vaticano e o olhar sempre atento para temas relevantes na atualidade como os direitos dos povos originários e as consequências das mudanças climáticas.
“Que o próximo papa não traia a história que ele iniciou”, acrescentou Andréia de Jesus, ao torcer que o escolhido possa ser brasileiro ou, ao menos, um homem negro. Por fim, a deputada fez ainda críticas aos vetos do governador que trancam a pauta de votações do Plenário.
A deputada Bella Gonçalves (Psol) destacou as palavras e ações de Papa Francisco em favor da paz na Palestina. Ela lembrou o último discurso do pontífice, na Páscoa, no qual afirmou que a paz é possível. Segundo a parlamentar, Francisco também ligou 563 vezes para a igreja católica na Palestina para acompanhar a situação.
“No último Natal, ele fez um presépio no Vaticano, com um menino Jesus enrolado em um pano palestino”, acrescentou. Bella Gonçalves defendeu que a paz na região é urgente e criticou o que chamou de “crueldades” de Israel na Faixa de Gaza. Como exemplos, ela citou o bombardeio em creche e em hospitais e o ataque a ambulâncias que levavam paramédicos.
Teor de livro adotado por escola recebe críticas
No seu pronunciamento no Plenário, Caporezzo fez duras críticas ao teor do livro “O Avesso da Pele”, do escritor carioca Jeferson Tenório. Segundo ele, o livro teria sido usado em aulas na rede estadual de Juatuba (RMBH) para adolescentes de 14 a 17 anos, o que contrariaria o Estatuto da Criança e da Adolescente (ECA).
O parlamentar classificou o livro como “pornografia literária”, lembrando que ele já foi proibido para fins educacionais nos Estados de Mato Grosso do Sul, Paraná e Goiás. Caporezzo leu ainda alguns trechos da obra que ele considera críticos e lamentou que até o momento o governo estadual não tenha se pronunciado sobre a polêmica.
“Quero saber se ainda existe governador em Minas Gerais! Quando é que o senhor governador vai tomar uma posição?”, questionou.
Em aparte, seu colega de partido, Bruno Engler, o parabenizou pelo pronunciamento e anunciou que vai cobrar uma posição oficial da Secretaria de Estado da Educação.
Leleco Pimentel (PT) criticou o que chamou de “ilação” de Caporezzo ao citar o livro “O Avesso da Pele” e pediu que toda a fala do deputado seja retirada dos anais da ALMG. Mas em decisão da Presidência baseada no artigo 83 do Regimento Interno, apenas alguns trechos do pronunciamento de Caporezzo foram retirados da ata da Reunião Ordinária.
Leleco Pimentel também rebateu o posicionamento do colega, para quem a esquerda politizaria a morte do papa. “Sempre dissemos aqui quem era o papa. Não precisamos pedir um minuto de silêncio por sua morte só para aparecer em redes sociais”, alfinetou.
O deputado destacou que Francisco “colocou o dedo na ferida ao afirmar que o Estado terrorista de Israel está matando na Palestina”. E citou sua empatia pela população LGBTQIAPN+ e sua crítica ao “capitalismo de Elon Musk”, o que, segundo ele, vai de encontro ao pensamento da direita.
“Francisco foi peregrino, fez o diálogo com as igrejas do mundo e pediu cuidado com o planeta”, acrescentou Leleco Pimentel.
Em aparte, o deputado Cristiano Silveira (PT) rebateu as críticas de Caporezzo ao Partidos dos Trabalhadores, no contexto da indicação do livro “O Avesso da Pele” como material didático. Ele citou os programas do partido voltados para a educação, como o Prouni, o Fies e o Pé de Meia.
Em direito de resposta ao pronunciamento supostamente difamatório de Leleco Pimentel, Bruno Engler pontuou que homenagear o pontífice não pode ser classificado como hipocrisia.
“Não cabe gostar ou não do jeito do Papa Francisco, mas sim respeitar a memória daquele que foi o sucessor de Pedro (apóstolo considerado o fundador da Igreja Católica)”, ressaltou.
Obra e autor são defendidos
Por fim, Beatriz Cerqueira pediu desculpas ao escritor Jeferson Tenório e afirmou que os mineiros são acolhedores e sabem ler e interpretar, sem recortes – à exceção de alguns. “Ler nos salva da ignorância, de comportamentos que envergonham a sociedade”, pontuou.
A deputada também afirmou que age toda vez que uma professora é agredida, porque foi eleita pela educação e não vai trair os votos recebidos.
Respondendo críticas de Caporezzo e Bruno Engler, Beatriz Cerqueira também enfatizou que somente o deputado Sargento Rodrigues (PL) defende, de fato, os servidores da segurança pública e representa essa pauta na ALMG. “De resto, você tem a falsa ideia de colegas que dizem fazer a defesa da segurança, mas gastam energia em pautas ideológicas e em perseguição a escolas”, afirmou.
Em aparte, Bella Gonçalves afirmou que quem levanta a voz em defesa das crianças na ALMG terá a oportunidade de derrubar o veto do governador a projetos que destinam recursos para crianças com deficiência e para a educação.
Cipe Rio Doce
Ao final da reunião, foram designados os membros efetivos e suplentes da Comissão Interestadual Parlamentar de Estudos para o Desenvolvimento Sustentável da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (Cipe Rio Doce):
- Efetivos: deputados Leleco Pimentel, Celinho Sintrocel (PCdoB), Adriano Alvarenga (PP), Enes Cândido (Republicanos) e Zé Laviola (Novo)
- Suplentes: deputados Ricardo Campos (PT), Cristiano Silveira (PT), Thiago Cota (PDT), Lincoln Drumond (PL) e Tito Torres (PSD).

