Apoio à mineração deixa turismo em segundo plano em Minas
Essa foi uma das críticas feitas em reunião do Assembleia Fiscaliza, na qual parlamentares ouviram prestação de contas do secretário de Cultura e Turismo.
14/12/2022 - 13:35A prioridade do Executivo estadual para a atividade minerária em detrimento do desenvolvimento do turismo foi uma das críticas feitas ao titular da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), Leônidas Oliveira, durante reunião do Assembleia Fiscaliza na manhã desta quarta-feira (14/12/22).
A sabatina reuniu parlamentares das comissões de Cultura, de Desenvolvimento Econômico e Extraordinária de Turismo e Gastronomia, todas da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Ao longo da reunião, o secretário prestou contas sobre o desempenho da secretaria em 2022, quando celebrou o fato de o IBGE ter constatado, em novembro deste ano, que Minas Gerais é o segundo destino nacional mais procurado no mercado doméstico.
Mas a presidente da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia, deputada Beatriz Cerqueira (PT), avaliou que 2022 foi um ano de derrota para todos os mineiros neste setor, tendo em vista que a mineração venceu a batalha pela Serra do Curral.
“Hoje eu vejo as táticas que foram usadas com clareza pelo Governo de Minas para favorecer a Taquaril Mineração (Tamisa). Desde 2017 já havia um termo de compromisso para a proteção da Serra, mas o governo permitiu que ficasse parado para dar tempo da Tamisa recorrer à Justiça", afirmou Beatriz Cerqueira.
"E ela (mineradora) ganhou. A Fiemg (Federação das Indústrias do Estado) também ganhou e o que tem prioridade no Estado hoje é a mineração. Então hoje falamos de turismo em Minas, mas esse turismo só vai durar até quando a mineração destruir tudo. Vocês acham que turistas vão onde há mineração?", completou a parlamentar.
Mais cobranças
A deputada Leninha (PT) questionou o secretário quanto à aplicação da Lei 23.761, de 2021, que institui o Selo Verde Vida, a ser concedido às empresas privadas que comprovem a adoção de práticas de sustentabilidade ambiental.
Também questionou quanto à elaboração do Plano Mineiro de Turismo e à capacidade operacional do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) de realizar o tombamento de festas tradicionais por todo o estado.
“Seria interessante a secretaria investir em calendários regionais, mapeando as principais festas das regiões, incluindo as paradas LGBTs, identificando e qualificando festas tradicionais, para atrair os turistas”, afirmou Leninha.
Emendas parlamentares
Já o presidente da Comissão de Cultura, deputado Bosco (Cidadania), ressaltou que a ALMG tem contribuído muito com o Estado com a destinação de emendas parlamentares a diversas áreas do governo. Segundo ele, algumas áreas, como a segurança pública, já chegam na Casa com os dados do que e quanto precisam e isso facilita o trabalho dos deputados.
“Mas seria interessante a Cultura ter também um portfólio com o que precisa, onde e quanto, para os deputados terem a percepção de como podem contribuir e se isso é mesmo possível”, enfatizou.
A deputada Celise Laviola (Cidadania) e o deputado Dalmo Ribeiro Silva (PSDB) parabenizaram o secretário pelo trabalho da pasta, ressaltando que Minas foi tratada como um todo.
"Marte Um" mira o Oscar
Em sua apresentação, o secretário Leônidas Oliveira comemorou a escolha da Associação Brasileira de Cinematografia (ABC) pelo filme “Marte Um”, feito em Contagem (RMBH) pela produtora mineira Filmes de Plástico, para representar o Brasil nas seletivas do Oscar 2023, cujas indicações saem em 24 de janeiro.
O filme competirá com mais de 170 países por uma vaga entre os cinco finalistas. “É a primeira vez que temos um filme mineiro selecionado”, afirmou.
Turismo cultural
Além disso, o secretário deu destaque ao fato de que 72% dos turistas que vêm para Minas Gerais o fazem por causa da cultura. “Eles vêm para aproveitar a cozinha mineira, o queijo e nossa cultura alimentar, o congado e os festivais, que salvaram a rede hoteleira. Tivemos um grande boom de eventos culturais, que voltaram com grande força após a pandemia", apontou.
"Hoje 90% de ocupação hoteleira nas principais cidades do Estado correspondem a esses eventos. As pessoas vêm conhecer nosso patrimônio e estar entre nós, vivendo a mineiridade”, acrescenta.
Captação de recursos
O secretário também citou como desafio para os próximos anos a necessidade da descentralização da captação de recursos para a Cultura.
Segundo ele, a necessidade de captação de 35% de recursos próprios das empresas na contrapartida prejudicou muito os investimentos, tendo em vista que no pós-pandemia muitas não tiveram condições de cumprir o requisito, o que resultou na “sobra” de R$ 70 milhões não captados com o governo.
"Também precisamos ter em vista que muitos povos de comunidades tradicionais não sabem fazer projetos para a secretaria. Precisamos pensar em mecanismos, como premiações, para chegar nesses públicos de forma mais clara”, ressaltou Leônidas Oliveira.