DEPUTADO MARQUINHO LEMOS (PT)
Discurso
Legislatura 20ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 29/10/2025
Página 25, Coluna 1
Indexação
Proposições citadas PEC 24 de 2023
25ª REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 23/10/2025
Palavras do deputado Marquinho Lemos
O deputado Marquinho Lemos – Boa noite, Sr. Presidente; boa noite, colegas deputados e deputadas; boa noite, servidores desta Casa, nossos trabalhadores da Copasa e todos que ainda permanecem aqui. Com certeza, nós vamos ficar aqui enquanto precisar. Nós estaremos aqui para não deixar que, nesta noite, aconteça a votação que nós não queremos.
Eu quero falar um pouco mais hoje sobre o requerimento do nosso colega deputado Ulysses Gomes, que requer o levantamento desta reunião em sinal de pesar pela morte do Cb. Vinícius de Castro. Nós vamos ter tempo, esta noite, para falar muito sobre a PEC nº 24, essa PEC horrível, a PEC do Cala a Boca. Nós vamos ter muito tempo para falar da importância da Copasa, da importância de todo o patrimônio dos mineiros, mas é preciso falar um pouco, já que nós estamos aqui hoje, neste momento, debatendo este requerimento, que nós esperamos que ele seja aprovado pela maioria dos deputados que aqui se encontram. Esse servidor público, o cabo militar Vinícius de Castro, foi assassinado com nove tiros num assalto que levou a vida dele. Aqui em Minas, a cada dia, a gente tem visto como essa violência aumenta e como ela tem levado vidas e mais vidas. Esse assalto aconteceu aqui, na região metropolitana, na região do Barreiro, no Bairro Tirol, onde o cabo foi alvejado com nove tiros. Mas nós também temos que lembrar que é uma noite em que poderíamos estar falando disso com mais pesar, com um sentimento de solidariedade, de compaixão.
Infelizmente nós também sabemos que, neste momento, há um projeto, que é a PEC nº 24, que não é nada mais do que um assalto ao patrimônio dos mineiros. Esse é mais um assalto que estamos vendo que pode acontecer, porque há empresários que estão de olho nesse patrimônio e que estão usando esta Casa para liberar esse assalto.
Tenho certeza de que os colegas deputados não irão aceitar isso, porque aqui, nesta Casa, no dia 21/8/2001, foi aprovada a PEC nº 50, do então governador Itamar Franco. Ainda há alguns deputados aqui que estavam nesta Casa naquele dia. Há quem não era deputado, mas é filho de deputados. Vários aqui acompanharam a votação naquele mês de agosto de 2001, quando se aprovou nesta Casa, por mais de sessenta votos, a lei que colocava na Constituição Mineira esta exigência: para se vender o patrimônio dos mineiros – qualquer empresa estatal –, teria que haver um plebiscito. E tem que haver, porque ainda está em vigor essa lei. Ela ainda não mudou. E tenho certeza de que, na noite de hoje, não vamos entrar para a história como aqueles que tiraram o direito do povo mineiro de decidir. Não vamos entrar para a história como aqueles que entregaram a Copasa aos empresários. E, no mesmo caminho por onde vai a Copasa, também pode ir a Cemig, pode ir a Codemig, podem ir tantas outras empresas que ajudam e que contribuem muito para o desenvolvimento e para a melhoria da condição de vida do povo de Minas.
Quero lembrar, já que estamos falando de um requerimento devido principalmente à situação que aconteceu com o Cb. Vinícius, que, enquanto no Brasil os crimes violentos vêm apresentando trajetória de queda, Minas Gerais segue na contramão e registra aumento desses crimes violentos. Entre 2019 e 2024, as mortes violentas intencionais caíram 8,2% em nível nacional, mas cresceram 13,6% em Minas Gerais. Para o pesquisador Luís Flávio Sapori, especialista em segurança pública, a situação é reflexo de uma gestão precária, reativa e sem plano estratégico, ignorando a escalada da violência. Esse é o atual governo – de 2019 até os dias de hoje. Quero lembrar também, como já foi falado pela nossa colega deputada Beatriz Cerqueira, da restrição ao uso de combustível. Quantas vezes uma viatura precisa dar atenção… E isso aconteceu! Não podemos nos esquecer de que, no ano passado, um camburão da perícia levou mais de 24 horas para buscar um corpo. E o que eles alegaram? Que não havia combustível para a viatura. Algumas viaturas estavam com problemas e em outras faltava combustível.
É esse governo que quer acabar com o patrimônio de Minas Gerais, entregando-o para um grupo de empresários que, com certeza, não terão nenhum motivo para investir, principalmente lá na nossa região, no Vale do Jequitinhonha, de onde eu venho, no Vale do Mucuri, onde cidades pequenas como a minha têm tido pouco investimento e têm muitos problemas. Esse é um governo que consegue, nos últimos anos, fazer com que a população coloque como responsável pelo problema de água e de esgoto em alguns lugares… Faz como se fosse culpa dos empregados da Copasa, dos trabalhadores, esquecendo que isso é uma estratégia para fazer com que a população acredite que, se privatizar, será melhor. Nós sabemos que isso nunca foi assim e não vai ser agora.
Mas, como aqui nós estamos debatendo um requerimento para suspender esta reunião, eu queria encerrar – já que nós estamos falando de morte, da morte do Cb. Vinícius – com uma poesia de Santo Agostinho, em homenagem ao Cb. Vinícius e também às outras pessoas que aqui foram citadas e que aqui tiveram um minuto de silêncio. (– Lê:) “A morte não é nada./ Eu somente passei/ para o outro lado do caminho./ Eu sou eu, vocês são vocês./ O que eu era para vocês/ eu continuarei sendo./ Me deem o nome/ que vocês quiserem dar,/ falem comigo/ como vocês sempre fizeram./ Vocês continuam vivendo/ no mundo das criaturas,/ eu estou vivendo/ no mundo do criador./ Não utilizem um tom solene ou triste,/ continuem a rir/ daquilo que nos fazia rir juntos./ Rezem, sorriam, pensem em mim./ Rezem por mim./ Que meu nome seja pronunciado/ como sempre foi,/ sem ênfase de nenhum tipo,/ sem nenhum traço de sombra ou tristeza./ A vida significa tudo/ o que ela sempre significou./ O fio não foi cortado./ Por que eu estaria fora/ de seus pensamentos/ agora que estou apenas fora/ de suas vistas?/ Eu não estou longe,/ apenas estou/ do outro lado do caminho./ Você que aí ficou, siga em frente./ A vida continua, linda e bela/ como sempre foi”. Cb. Vinícius, presente.
O deputado (presidente Tadeu Leite) – Obrigado, deputado Marquinho.