Pronunciamentos

SR. CARLOS HENRIQUE BORLIDO HADDAD, coordenador da Clínica de Trabalho Escravo e Tráfico de Pessoas da UFMG

Discurso

Agradece a homenagem recebida pela Clínica de Trabalho Escravo e Tráfico de Pessoas da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG - pelo seu 10º aniversário. Agradece o Sr. Luiz Felipe Maia pela articulação entre a Assembleia Legislativa e a Clínica.
Reunião 25ª reunião ESPECIAL
Legislatura 20ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 30/08/2025
Página 13, Coluna 1
Indexação
Proposições citadas RQN 12012 de 2025

25ª REUNIÃO ESPECIAL DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 28/8/2025

Palavras do Sr. Carlos Henrique Borlido Haddad

Boa noite. Cumprimento o Exmo. Sr. Deputado Betão, autor do requerimento que deu origem a esta homenagem, neste ato representando o deputado Tadeu Leite, presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Eu tenho outros cartões aqui, mas, como só estou vendo amigos hoje, vou pular um pouquinho a formalidade e citar alguns: desembargador Delvan Barcelos, meu companheiro de luta no comitê interinstitucional do Judiciário, cuja presença agradeço; desembargador federal Ricardo Machado Rabelo, com quem estou trabalhando desde 2001, ou seja, ele tem muita paciência, tem mais paciência do que a Lívia, com quem trabalho só há 10 anos; Prof. André Luiz, que conheci hoje – obrigado pela presença; desembargadora Paula Cantelli, uma chama acesa no TRT, na luta contra o trabalho escravo; Prof. Hermes Guerrero, nosso diretor por dois mandatos, quiçá três – sou seu eleitor assíduo; Carlos Calazans, superintendente, que está nessa luta com muita experiência, com muita dedicação; Vivian Miralha, de quem vou falar mais à frente; e deputada Andréia de Jesus – é um prazer conhecê-la. Gostaria de cumprimentar também os amigos, familiares, autoridades, todos os que estão presentes, sobretudo os caríssimos integrantes da Clínica de Trabalho Escravo e Tráfico de Pessoas da Faculdade de Direito da UFMG.

A minha fala será simplíssima porque vai se resumir a uma coisa única: agradecer. Meus imensos agradecimentos, em nome da Profa. Lívia, à Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que hoje nos estende a mão e reconhece um percurso que se iniciou em 2015. Temos plena convicção de que esta homenagem não pertence apenas a nós, mas às vítimas que tiveram as vozes amplificadas, aos estudantes que se dedicaram a aprender servindo, aos professores e advogados que acreditaram no poder transformador do conhecimento e aos parceiros institucionais que caminharam ao nosso lado.

Vendo este carpete vermelho aqui, eu me lembro de uma história de um rei persa, que encomendou um grande tapete para colocar no seu palácio, bem maior do que este, para vocês terem uma ideia. O tapeceiro trabalhou durante meses, mas nunca terminava a obra, sempre deixava um espaço vazio, um detalhe mal acabado. O rei foi ficando desgostoso, impaciente, e, depois de anos, começou a cobrar explicações: “Cadê o meu tapete?”. Ele sabia que o tapete era enorme, mas tudo tem limite. E o tapeceiro, meio envergonhado, respondeu para o seu rei: “Sua Majestade, tecer um tapete não é tarefa simples. Eu tenho me dedicado muito, mas não consigo concluir essa obra sozinho, mesmo com tanto comprometimento”.

O nosso trabalho, ao longo desta década, tem sido como o de tapeceiros, o de tecelões. Em cada fio de dor que encontramos, buscamos entrelaçar fios de coragem e solidariedade. Mesclamos cada fio de dificuldade com fios de comprometimento, estudos, pesquisa. Um fio de desalento que surge é amarrado na linha de muita preocupação com as vítimas. E assim vamos tecendo o nosso tapete, querendo melhorar o Brasil, melhorar Minas, melhorar a UFMG, numa tarefa que não tem fim. É um trabalho que certamente não conseguimos fazer sozinhos; por isso, somos uma dupla.

A Profa. Lívia Miraglia, nesses últimos 10 anos, tem desempenhado um papel excepcional. Mas, mesmo sendo uma dupla dinâmica, precisamos de apoio, o qual, com muita felicidade, temos encontrado ao longo da trajetória. Portanto essa celebração não é um ponto final, é um marco. É também um convite, um convite para que sigamos em frente. O enfrentamento do trabalho escravo e do tráfico de pessoas exige vigilância permanente, porque só assim conseguiremos melhorar a vida de centenas ou de milhares de pessoas que estão numa situação muito pior do que a de cada um de nós que aqui está hoje.

Eu não contei o final da história do tapeceiro, mas não tem nada demais. O rei, muito rico, deu a ele um exército de ajudantes. Ele concluiu o tapete e o colocou no palácio. O problema é que nós não temos mais majestades aqui, no Brasil. Então, eu reitero meu agradecimento à Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Tenho que agradecer especialmente, muitíssimo, ao Luís Felipe, que conectou os pontos; ao deputado Betão; à deputada Andréia de Jesus; e, sobretudo, aos advogados e estagiários da clínica de ontem e de hoje, que sempre fizeram um trabalho sensacional.

Aproveito também para convidá-los a unir forças no enfrentamento do trabalho escravo e do tráfico de pessoas porque, como eu disse, não temos nenhuma majestade a quem recorrer.