Pronunciamentos

RODRIGO BADARÓ ALMEIDA DE CASTRO, conselheiro do Conselho Nacional de Justiça – CNJ

Discurso

Agradece, na condição de homenageado, o Título de Cidadão Honorário do Estado de Minas Gerais.
Reunião 16ª reunião ESPECIAL
Legislatura 20ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 18/06/2025
Página 4, Coluna 1
Indexação
Proposições citadas RQN 10784 de 2025
RQN 11682 de 2025

Normas citadas RAL nº 5637, de 2025

16ª REUNIÃO ESPECIAL DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 16/6/2025

Palavras do Sr. Rodrigo Badaró Almeida de Castro

Boa noite a todos e a todas. Estou realmente emocionado. Deputada Carol, agradeço-lhe. Pedi a autorização do presidente Tadeu Leite para pular a nominata, porque hoje, no CNJ, há até uma resolução que impede qualquer um de repetir as nominatas. Mas queria, antes de mais nada, agradecer a todos que estão aqui, dedicando um pouquinho do seu tempo a esta homenagem tão importante para mim. Já aproveito para convidar todos a irem à Casa do Porto, depois da homenagem. Querendo ou não, a gente vai ter mais alegria depois.

Eu trouxe um papel, Carol, porque estou tão emocionado, que realmente não poderia cometer o deslize de falar de improviso. Até gosto bastante de fazê-lo, mas aqui não vai dar. (– Lê:) A minha paixão e meu maior segredo. Cumprimento todos os presentes, dispensando a nominata já citada. Hoje o meu maior segredo foi desvendado: não sou mineiro. Nessa travessia no mundo do direito, regozijo-me de ter chegado aos órgãos máximos da advocacia do Ministério Público e do Judiciário, como conselheiro federal da OAB Nacional, como conselheiro nacional do Ministério Público e, agora, como conselheiro nacional de Justiça. Agradeço a Deus, à minha família e a todos que me ajudaram. Lembrando Hemingway, segundo o qual a gratidão é o único tesouro dos humildes, rendo-me também eternamente à gloriosa Minas Gerais.

Desta tribuna, emociono-me, lembrando que tive meu avô como deputado estadual, tendo sido nesta Casa líder do governo e oposição. Da tribuna deste parlamento, proferiu seu antológico discurso Protesto de uma Geração, quando da cassação de Juscelino Kubitschek – que dá nome a este honrado Plenário – em 1964. Com esse simples trecho, lembra-nos da claridade cívica do mineiro: “Punir em nome de provas que não foram apresentadas ao povo um homem da estatura e da envergadura de Juscelino Kubitschek é um ato que a nação não aceita, porque fere não só os partidos políticos, que são as primeiras vítimas deste processo, mas também a cada um de nós, a cada pai de família, a cada homem brasileiro. No senso comum, um elevado sentimento de justiça”.

Estando na Casa do povo mineiro, lembro-me também do meu bisavô, Francisco Badaró Júnior, que também como deputado estadual participou da Constituinte de 1914, e de meu tataravô, Francisco Badaró, que foi deputado federal na delegação de Minas Gerais na primeira Constituição da República, em 1891.

O destino me fez viver Minas, respirar Minas, estudar em Minas, encontrar o amor da minha vida, Luciana, em Minas, aprender a respeitar e a conhecer sua história, que é a minha e a da minha família.

Vindo para cá, um filme passou na minha cabeça, lembrando-me de quando subi a Avenida Agulhas Negras em direção ao meu Colégio Zilah Frota – há muitos queridos amigos aqui –, no pé da bela Serra do Curral. Lá fiz meus amigos de sempre, e muitos deles estão aqui, no Plenário. Do alto da montanha que é símbolo de BH e a qual já escalei algumas vezes em peripécias juvenis, já sonhava em seguir os passos de meus antepassados.

Na infância e na juventude, lembro-me do Minas Tênis Clube, onde vivíamos momentos únicos praticando inúmeros esportes, e da emoção das idas ao Mineirão, estimulado pelo grande Reinaldo – Rei –, que aqui se encontra presente, com quem tive a honra de conviver e entrar ao lado no campo várias vezes, diante da relação existente entre as famílias na época.

As brincadeiras no Parque Julien Rien – temos amigos aqui do Parque Julien Rien –, na Avenida Bandeirantes, e os campeonatos de boliche vendo a campeã Léa… As festas no Belvedere, no Mangabeiras e no Automóvel Clube, das quais éramos frequentadores, convidados ou não, em inúmeras comemorações.

Subindo de novo as montanhas, respiro como se fosse hoje o ar gelado que vinha das grandes janelas da faculdade Milton Campos, minha alma mater. Do diretório acadêmico ao PFL Jovem, com ímpeto da idade, pensava no direito e na política.

Sempre buscando, de certa forma, sustentar-me – e amadurecendo –, comecei a trabalhar assim que entrei na faculdade, nunca deixando de lado os estudos. Da venda de seguros de saúde a adesivos sinalizadores, aprendi a ser adulto no Tribunal de Contas de Minas Gerais, graças à bondade do querido presidente Murta Lages, sendo depois moldado no respeitado escritório Azevedo Sette – infelizmente, perdemos o Dr. Ordélio alguns dias atrás.

Pelo escritório, voltei a Brasília em 2001 e lá construí, na advocacia militante, um caminho profissional, permanecendo com a alma de Minas ao lado da minha amada esposa Luciana, que também é mineira.

Olhando para o interior das Gerais, os sentimentos explodem ao lembrar-me da Lagoa de Furnas margeando nossa fazenda Capão Seco, em Formiga, da avó Lucy, e de toda a família, hoje incompleta pela perda recente e dolorosa de minha mãe.

Minas Novas, a fotografia histórica dos meus antepassados, e o casarão da família dos idos de 1700 me fazem meditar o quanto aprendi a ser mineiro e a valorizar o passado, escutando todos os dias lições sobre política, sociologia e humanismo que circundam nossa terra.

Como dizia o Alceu Amoroso Lima, em Voz de Minas, o nosso povo é aquele “que não desperdiça gestos e muito menos palavras”. A exploração histórica dos colonizadores trouxe certo confinamento e receios.

E quando rascunha, o mineiro Aníbal Machado acerta ao afirmar: “Que nunca se precipita, para não passar vexame de recuar depois. Se evita fazer afirmações, é para expor-se menos às contradições. Nunca se espalha, silencia, concentra-se. Raramente dizendo ‘sim’ ou ‘não’ categóricos, prefere o ‘vamos ver’ reflexivo, é relutante em confiar; sem reserva quando confia”.

O espírito revolucionário do mineiro é controlado. Aí a maior virtude: a cadência da paixão e prudência. E, como dizia Murilo Badaró: “Enquanto outros locais, próximos ou distantes, há relevos abruptos e agressivos, em Minas a montanha transmite a sensação de amena majestade”.

Desculpem-me pelo tom pessoal, mas necessário para eu mesmo relembrar sempre a minha identidade com este estado. Ao receber esse título, graças ao gesto carinhoso da atuante deputada Carol Caram, líder mulher que floresce com esplendor na nova safra política, agradeço a todos os deputados e deputadas pela honraria que, de certa forma, me completa como cidadão. Por mais que seja mineiro no espírito, tente ser nos hábitos e nos gestos. O destino me fez ter um jus soli estrangeiro. O sotaque carrego orgulhoso como uma farda pomposa de identificação regional, matando de inveja muitos não mineiros.

Entre não brigar e não fazer as pazes, entre agir quando convocado e refletir quando acuado, acordo todos os dias tentando exercer a arte dos mineiros, pois a modéstia deve ser quebrada ao recordar que somos todos, presidente, Carlos Drummond e Guimarães Rosa, somos todos Adélia Prado, somos Galo, somos Milton Campos, Milton Nascimento, Clube da Esquina, JK, Tancredo Neves, José Maria Alkmin, Itamar Franco, Capanema, Bilac Pinto, Pedro Aleixo e muitos outros que no passado gravaram o nome de Minas na história política nacional.

Emocionado, digo com ênfase: hoje é um dia que ficará gravado para sempre em minha memória. E volto para Brasília com o espírito renovado e energizado pelo glorioso povo das montanhas. Muito obrigado.