DEPUTADA LOHANNA (PV)
Discurso
Legislatura 20ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 15/05/2025
Página 33, Coluna 1
Indexação
27ª REUNIÃO ORDINÁRIA DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 13/5/2025
Palavras da deputada Lohanna
A deputada Lohanna – Boa tarde, presidenta; boa tarde aos colegas deputados e aos servidores da Casa. Eu estava conversando, agora, com a deputada Amanda e dizendo que ainda estou em dúvida se vou falar tudo o que anotei para falar. Acho que, se começamos pelo que há de mais duro para ser falado, resolvemos. Na escola, quando estudamos as matérias mais difíceis, passamos logo por isso e podemos gastar o nosso tempo com as de que gostamos.
Nós assistimos, nos últimos dias, ao resultado da condenação em 1ª instância do homem que nos ameaçou e, muito pessoalmente, falando da minha experiência, tirou bastante a minha paz. Houve a filmagem no interior e a divulgação de fotos de onde eu morava, do meu veículo, do apartamento do meu irmão, que à época era menor de idade. Então foi um processo muito duro e muito complicado e que fala muito sobre como a violência contra as mulheres está organizada também dentro de um espectro político.
Eu tenho conversado, Leninha, com vários colegas deputados e colegas vereadores e amigos que estão no MP também, que falaram muito sobre como isso não tem a ver apenas com a violência contra a mulher, sabe, gente? Isso tem a ver com a violência contra mulheres progressistas, com a violência contra mulheres mais à esquerda, ou seja, de centro-esquerda e de esquerda, e está localizado do ponto de vista do espectro ideológico. Então isso precisa ser dito com muita clareza. Eu não desejo que nenhuma amiga deputada mais à direita, como a deputada Amanda ou Carol ou Chiara ou qualquer deputada que seja, sofra ameaça para que provem que estou errada. Não é isso. Eu desejo que nenhuma de nós sofra ameaça porque esse é um processo que nenhuma de nós merece viver.
Eu fiquei pensando muito sobre como a todo momento me coloquei, desde que entrei na política, para além de mandato e de fazer a política institucional, enquanto movimento estudantil, enquanto militância na universidade. Sempre tive um posicionamento muito claro, um posicionamento, por exemplo, de enfrentamento, lá em 2016, ao golpe que a presidente Dilma sofreu e, depois, em seguida, em relação ao governo Bolsonaro. Leninha, eu nunca desejei a morte do Bolsonaro, eu nunca ameacei o Bolsonaro – e não conheço um amigo meu que tenha feito isso – ou o Temer ou o Aécio. Nunca escrevemos um e-mail falando sobre como ele seria estuprado ou como cortaríamos os órgãos dele, enfim, aquelas coisas todas que falaram que iam fazer conosco.
Isso mostra para a gente, com muita clareza, que existe uma questão de gênero muito clara, porque é feita ameaça de estupro a mulher. Essa organização da extrema direita dentro de Minas Gerais tem um motivo muito claro. Vencer Minas Gerais é vencer a eleição. Todo mundo sabe disso. Ganha a eleição nacional quem a ganha em Minas Gerais. O Bolsonaro perdeu porque perdeu em Minas, perdeu porque não deu conta de Minas Gerais. É por isso que a extrema direita está tão organizada aqui no nosso estado; é por isso que esse tipo de ameaça acontece dessa forma tão vulgar e tão banal.
E aí eu acho que a Bella foi muito sábia na sua fala. É como se nos ameaçar fosse o menor dos problemas. Eu construí uma boa relação com o Dr. Mauro, promotor do Ministério Público que atua com os crimes cibernéticos. Deixo o meu abraço para ele, para todos do MP, da Polícia Civil e da Polícia Militar. Eu fiz a bobagem de entrar nesses fóruns e me arrependo completamente. Eu me arrependo 1.000% de ter feito isso, porque nunca tive problema para dormir, mas, depois que entrei naquele fórum, tive esse problema. Parecia que me ameaçar, perto da pedofilia que eu vi lá, perto da zoofilia que eu vi lá, perto do racismo e das falas completamente abjetas em relação a mulheres, mas muito especificamente em relação a mulheres negras, era a menor das coisas que estavam acontecendo ali. Foi um processo tão cruel que, em certo momento, Carlos Henrique, parecia que erradas éramos nós, que estávamos com escolta.
No meu aniversário de 31/1/2024, eu saí para jantar com os meus sogros, o meu marido, os meus padrinhos de batismo e o meu irmão, que era menor de idade, fez 18 anos agora. Eu fui filmada. As pessoas estavam filmando a viatura na porta do restaurante. A gente ficou sentado e nem comeu o prato principal. A gente comeu a entrada e foi embora. Num certo momento, tive a impressão de que eu estava errada por ser ameaçada, de que eu estava gostando daquilo ou de que aquilo tinha sido desejado por mim em algum momento. Isso não aconteceu. Se o momento das ameaças serviu para alguma coisa, foi para fazer uma aproximação muito grande do meu mandato com a Polícia Militar. Também adquirimos um respeito muito grande por ela. Eu sei que a deputada Bella também compartilha disso. Mas o que eu queria dizer, com muita clareza, é que isso não ocorre à toa. Isso é porque nós somos mulheres, isso é porque nós somos progressistas, isso é porque a gente está em Minas Gerais. Uma combinação de fatores muito específica fez com que isso acontecesse.
Eu sei que já perdemos a conta de quantas ameaças recebemos. Mas a prisão desse indivíduo, a prisão desse homem que estava ali participando e atuando efetivamente nessa rede que tinha ameaças a mulheres, pedofilia, racismo e tudo isso que a gente trouxe aqui é muito importante. A sua prisão traça uma linha e diz: “Daqui a gente não passa mais, daqui a gente não aceita mais, daqui a gente não cede mais”. Eu queria agradecer muito a esta Casa, Leninha. Agradeça ao presidente em meu nome, por favor. Qual dos líderes está aqui? O deputado Bruno Engler? Queria agradecer ainda a todos os nossos líderes, porque os líderes de direita e de esquerda se posicionaram aqui, traçando uma linha também, dizendo que aquilo era inaceitável. Inclusive, quando necessário, foram impondo limite aos colegas parlamentares.
Se a gente não tem condição de respeitar, e respeitar inclusive o direito à vida, o direito à dignidade humana dos nossos colegas que pensam diferente, a gente está indo para aquele lado de quem prefere a pólvora do que a política. E, na ausência da política, na ausência do debate, o que serve mesmo é a pólvora e o sangue. Não é para lá que a gente quer remar. O lado para onde a gente quer caminhar é o lado do diálogo, do debate, do enfrentamento de ideias, que é bom, às vezes esquenta, mas pressupõe respeito. Eu não quero a morte, nem as ameaças, nem a violência a nenhum parlamentar da direita. Ao contrário, eu quero que a gente esteja aqui com saúde, sendo eleitos numa democracia plena, para poder debater, discutir e construir os caminhos que forem possíveis. Eu queria deixar isso registrado, porque parece que hoje tiraram um piano das minhas costas. É muito importante a gente ter a oportunidade de trazer isso a público.
Queria falar de um outro assunto que, no final de semana, também chamou muita atenção, e o deputado Cristiano Silveira falou sobre ele, que foi o vídeo do governador Romeu Zema pedindo dinheiro para uma vaquinha para um medicamento de alto custo de uma criança em Minas Gerais. Primeiro, eu acho que é muito importante a gente deixar a nossa completa solidariedade à família dessa criança, e eu fiz isso para além de microfone, gente. Eu entrei em contato com a família da criança, coloquei o nosso mandato à disposição para entrar em contato com a farmácia de alto custo do Estado, para judicializar se necessário for. A gente fez o nosso trabalho, aquele pelo qual a gente é pago para fazer, ao contrário do governador.
Aí eu fiquei escandalizada, porque você assistir o dono da caneta, o dono do orçamento, porque literalmente, gente, quem está fora da política talvez não saiba, mas quem manda como o dinheiro do Estado vai ser gasto é o governador, que manda para cá. A gente vota, faz uma emenda aqui, outra acolá, muda um negócio aqui, muda outro acolá, mas o grosso mesmo, a maioria das coisas quem decide é o governo. E aí ele que é o dono da caneta faz um vídeo pedindo dinheiro para você cidadão que já paga essa montoeira de imposto, imposto que o governo do Lula cobra, imposto que o governo do Zema cobra, imposto que o prefeito da sua cidade cobra, porque todos os entes cobram muitos impostos, você já paga essa montoeira de imposto e ainda tem que ajudar na vaquinha, porque o governador não resolve o problema.
Eu desejo muito que a vaquinha bombe, que a vaquinha arrecade tudo o que puder. Só que a questão é que o governador poderia, através do seu secretário de Estado de Saúde, atuar para que a farmácia de alto custo liberasse o medicamento. A gente tem mais de 70 solicitações desse medicamento no Estado, só duas atendidas. Então ele poderia liberar o medicamento. Seria uma grande solução, uma baita solução. Se o fluxo do medicamento está ruim, ele poderia estabelecer com o secretário de Estado de Saúde, dentro da atenção farmacêutica, como vai melhorar isso, como vai atender isso. Se o caso está judicializado, ele poderia propor um acordo com o TJ.
Gente, o secretário de Estado de Saúde, Fábio, é presidente do Conass, é presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Se precisa de uma resolução da Anvisa, não tem ninguém com mais condição de articular isso do que o governo do Estado através do seu secretário de Estado de Saúde, que é presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde e que, a propósito, sei que é uma pessoa competente e muito provavelmente se constrangeu com esse vídeo do governo, como eu imagino que tenha se constrangido em outros momentos, como quando o governador disse que criança não precisava tomar vacina e tudo mais.
Então foi vergonhoso, foi muito triste. E eu espero, de todo coração, que Minas Gerais conte com um governo melhor a partir de 2026, independentemente do espectro ideológico que seja. Mas que seja alguém que saiba que a função de governar não pode ser transferida, que a função de cuidar das pessoas não pode ser transferida, porque a impressão que a gente tem, quando o governador grava vídeo pedindo dinheiro para vaquinha, é que o balcão está vazio, é que o dono não está na loja, é que não tem ninguém cuidando do caixa eletrônico, é que não tem ninguém atento ao que está acontecendo ali, porque quem deveria gerenciar e cuidar deste estado efetivamente não está fazendo isso.
E, para completar, a gente tem o histórico. Aqui na Casa, aconteceu, no ano passado, uma importante audiência pública justamente sobre a farmácia de medicamentos de alto custo. A farmácia de medicamentos de alto custo, em 2024, já estava com falta de medicamentos. Isso foi numa audiência da Comissão do Trabalho, presidida pelo deputado Betão. Foi uma audiência muito importante, que mostrou que esses problemas não são de hoje. Então, se efetivamente o governador tiver qualquer compromisso com a saúde de Minas Gerais e com o atendimento adequado às nossas crianças, ele poderia começar sem fazer nada de extraordinário, só cuidando do serviço dele.
Porque, falando do meu quintal, falando da região que eu conheço, Leleco, que é Divinópolis, a nossa UPA está com 121% de lotação, Amanda. Aí o negócio é o seguinte: na hora em que a UPA está com 121% de lotação, gente, ninguém quer saber se a culpa é do Lula ou do Bolsonaro, não. Ninguém quer saber se a culpa é do Zema ou do Pimentel, não. O negócio é que o povo está lá esperando cirurgia, e que, se não operar o braço do motoboy que caiu de moto, num prazo X, ele corre o risco de ter perda funcional do membro, ter que ser aposentado pelo INSS e nunca mais poder trabalhar com a dignidade de uma pessoa que não teve que passar por esse processo tão duro.
Enquanto isso, enquanto a gente tem uma região inteira, 53 municípios com uma UPA com 121% de ocupação, a gente tem um hospital regional atrasado, que o Zema ficou cinco anos falando que ia entregar, cinco anos, Caporezzo, falando que ia entregar o hospital. Ele fez campanha dizendo que ia entregar o hospital. No primeiro mês de meu mandato – vocês devem se lembrar, foi o seu também Caporezzo –, o Zema fez um evento em Divinópolis para falar da retomada das obras do hospital. Isso foi no primeiro mês do nosso mandato de deputado. Essa retomada demorou quase um ano para acontecer efetivamente. A gente sabe que é preciso um tempo para mobilizar as equipes para que as obras aconteçam, mas quase um ano? Só se esse povo tiver ido fabricar os equipamentos que ia usar, porque não tem a menor condição!
Então, na hora que o povo está esperando a cirurgia, na hora que o povo está esperando remédio, gente, ninguém quer saber de quem é a culpa, não. O que o povo quer é que um monte de impostos que ele paga seja revertido em atendimento. Isso vale para o menino que precisa de um medicamento de R$17.000.000,00, mas a única resposta que o governador do Estado deu conta de dar foi “doem para a vaquinha”, e vale também para a população de Divinópolis, que está esperando a entrega desse hospital regional, da forma como o governador falou que entregaria, que já está mais ou menos com dois anos de atraso, pelos prazos que ele mesmo colocou. Acho importante trazer essa situação porque, realmente, o Parlamento precisa se levantar contra a completa ausência do governador do Estado, que foi eleito e reeleito para cuidar dos mineiros e, mais uma vez, parece não ter condição de fazer isso adequadamente. Obrigada, presidente.