SR. ROGÉRIO GRECO, secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública
Discurso
Legislatura 20ª legislatura, 3ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 16/04/2025
Página 4, Coluna 1
Indexação
Proposições citadas RQN 3933 de 2023
RQN 10380 de 2025
Normas citadas RAL nº 5636, de 2024
7ª REUNIÃO ESPECIAL DA 3ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 14/4/2025
Palavras do Sr. Rogério Greco
Boa noite a todos. Como de costume, vou quebrar aqui o protocolo e agradecer imensamente por esta noite, por esta sessão à minha querida amiga deputada Delegada Sheila e também ao meu outro querido amigo, deputado Bruno Engler. Muito obrigado. Na pessoa deles, eu cumprimento a todos aqui.
Vocês já viram que eu estou quase desmaiando, perceberam isso, não é? (– Ri.) Eu estou por uma única razão: eu estava ouvindo a deputada Sheila falando e, neste exato instante, deputada, Deus me fez um flashback. Eu me lembro que fui remetido lá na minha adolescência, lá na minha infância, quando eu ia à praia. E vou mostrar um pouquinho disso aqui para vocês. Eu, olhando para todos aqui, vejo literalmente que estou em casa, estou dentro da minha família, estou com os meus melhores amigos. Eu me lembro de Deus me remetendo a uma padaria, em Ipanema, comprando um pão de sal e esperando, Rezende, que alguém deixasse um ketchup em cima da mesa para que eu pudesse colocá-lo ali no pão, o que seria o meu sanduíche. E, quando vejo aonde Deus me trouxe, eu falo: “Deus, o que o Senhor viu em mim?”. “Qual é a diferença entre mim e meus outros amigos, que não conseguiram caminhar, não conseguiram chegar a lugar nenhum?” E Deus foi me remetendo. E eu digo: “Gente, eu tenho que ter algum propósito. Porque não é possível que Deus tenha feito tudo isso comigo, com o menino da Tijuca”. E é um pouquinho dessa história que eu quero mostrar rapidamente para vocês aqui.
Eu não quis fazer nenhum tipo de discurso, não é meu feitio escrever discurso, então rapidamente eu vou mostrar um pouco da minha história e depois vocês vão me responder essa pergunta: “O que Deus viu em mim?”. “Por que a mim?” Podemos começar aqui?
Primeiro eu gostaria de agradecer imensamente essa honraria. Realmente, para mim, é muito importante esse título de Cidadão Mineiro. Eu, que tenho muito mais tempo em Minas Gerais do que na verdade no Rio, já me sinto verdadeiramente um mineiro, embora com esse sotaque horroroso carioca, não é? Se a gente sai do Rio, infelizmente o Rio não sai da gente. Eu sou filho de família italiana literalmente, meus avós vieram para cá durante a 1ª Guerra Mundial e os meus pais são filhos de italiano. Meus avós nem falaram português direito. Esse é o meu pai e essa é minha mãe. Eu tive cinco filhos. Essa é a minha filha mais velha, a Dani, esses são os meus três netinhos e aqui são os meus outros quatro filhos: a Rafinha, a Nonô, o Jerinho e o João, infelizmente com essa tendência horrível de serem atleticanos. Mas isso pode ser revertido um dia, inclusive, eu tenho foto dos meus filhos com a camisa do Flamengo. Eles negam, mas eu tenho essa foto, Bruno. Isso aqui ainda vai ser revertido um dia. Essa é a minha esposa, a Josy, a pessoa que significa muito na minha vida; e aqui são os meus enteados, filhos da Josy.
E a história começa aqui com esse moleque. Eu tinha sete anos de idade e mudei para o Tijuca, um bairro da Zona Norte do Rio. Lembro-me de que mudei para lá em 1970, exatamente o ano da Copa do Mundo. O tempo se passou e eu entrei na faculdade de direito. Vocês fizeram questão de colocar aquela foto ali, que eu acho ridícula, mas, enfim, era uma foto que foi tirada na praia. A primeira vez que eu saí no jornal porque eu jogava vôlei, Chalfun. Tiraram não sei por que essa foto minha na praia, acharam que eu merecia. Particularmente acho ridículo, mas está constando aí.
Como os meus pais eram de uma condição financeira média baixa, a vida inteira estudei em escola pública. Eu tive o privilégio de ser aluno do Colégio Pedro II, que é o único colégio, inclusive, que tem previsão na Constituição. Entrei em 1974 e saí em 1980 do Pedro II. Passei a minha vida literalmente no Colégio Pedro II. Como eu não tinha condições de fazer curso, vestibular, pré-vestibular, essas coisas todas, o Pedro II me deu, naquela época, uma base muito boa.
Em 1982, com 17, 18 anos de idade, entrei numa faculdade de direito. Vocês podem ver ali que eu tinha uma convicção absurda daquilo que ia fazer, porque o segundo curso escolhido para mim era executivo; e o terceiro, turismo. Na verdade, fiz direito por uma única razão: não caía matemática no vestibular. Então a única forma de eu passar era fazer um curso que não tivesse matemática, e a alternativa pelo direito foi essa. Todo mundo falava assim: “Poxa, Rogério, você é um vocacionado”. Sou, sou um vocacionado, Eurico, porque não tinha matemática no vestibular. Quando entrei na faculdade, Hugo, para mim, foi um choque de realidade muito grande porque era um moleque recém-saído do Colégio Pedro II. Eu trabalhava durante o dia. Quando chego à minha sala de aula à noite, Letícia, vejo todo mundo de terno bonito como o Chalfun. Eu estava de bermuda, tipicamente carioca, camiseta e chinelo. Aquilo, para mim, desembargador Luiz Carlos, foi um impacto negativo tão grande que eu olhava para aquela turma, olhava para mim e falava assim: “O que estou fazendo aqui?”. E aí imediatamente eu saí. No meu primeiro dia de aula, fui procurar a administração da faculdade para saber se eles faziam seleção para time de futebol, aquelas coisas. Na época, eu até jogava razoável. Não jogava muito, mas era tipo uma mistura assim – sei lá! –, naquela época, de Romário com Ronaldinho e um toque de Messi. Era mais ou menos assim. Então, realmente, comecei a jogar num time de futebol de salão da faculdade durante um tempo. O tempo foi passando e, na faculdade, Deus me colocou no caminho um irmão realmente para a vida – e, hoje, ele veio do Rio e está aqui: o Cláudio. Cláudio, meu irmão, 10 anos mais velho do que eu, é aquele lá com a cabeça branca – e nem está enxergando mais a gente de tão velho que está – e de camisa listradinha.
Este era eu 1985. Parece comigo? Parece nada, não é? Essa é a nossa turma de formatura de 1985. Lembro-me de que, em 1984, eu, o Cláudio e mais seis colegas de faculdade resolvemos abrir um escritório de advocacia. Naquela época, mesmo não sendo formado, podia-se advogar na área trabalhista, porque, na época, se podia até fazer reclamação trabalhista direto. O meu pai tinha um escritório muito pequeno, que era mais ou menos do tamanho aqui, deste púlpito, com duas mesas. Resolvemos montar o escritório de advocacia. Nós éramos mais ou menos sete – não é, Cláudio? – e fomos lá para o escritório do meu pai. Na primeira causa que entrou no escritório, ninguém queria saber de pagar despesa, ninguém queria saber. Todo mundo já quis dividir o dinheiro, e o escritório acabou exatamente naquele momento. Era aquilo que o meu pai queria, ou seja, que o escritório não desse certo para que eu pudesse me dedicar à empresa pequenininha dele. E aí o meu pai me colocou a faca no pescoço e falou assim: “Olha, agora você escolhe: ou você vai advogar ou você fica aqui no escritório”. Aí, cheguei para o meu pai e falei assim: “Pai, eu vou advogar”. E, naquele momento, desde os 13 anos de idade, de 13 para 14 anos de idade, em que os meus pais se separaram… Eu falo sem o menor constrangimento, sem o menor problema, que o meu pai praticava violência doméstica. Lembro-me de que eu implorava à minha mãe que se separasse do meu pai. Eu, aos 13 anos de idade aproximadamente, vi um oficial de justiça entrar na minha casa às 6 horas da manhã e expulsar o meu pai de lá. Para mim, essa foi uma das melhores sensações que eu havia tido. Por quê? Porque ali agora eu tinha paz com a minha mãe e, a partir daquele momento, passei a ser o provedor da minha casa. Eu trabalhei em todo tipo de subemprego em que vocês possam pensar, colando cartaz em poste, distribuindo papelzinho na rua; tudo o que é tipo de subemprego, naquele momento, eu fiz para poder manter a casa da minha mãe – e sempre mantive. Nunca tive problema com isso. Quando comecei a trabalhar com o meu pai, eu me lembro de que ganhava em torno de um salário e meio ou alguma coisa assim. Sair do escritório do meu pai significava perder um salário e meio. Só que liguei para o Cláudio, que já tinha a vida estabilizada – ele já era casado, tinha dois filhos, apartamento próprio e carro –, e falei: “Irmão, o negócio é o seguinte: o meu pai me colocou a faca no pescoço aqui entre a advocacia e o escritório, e eu escolhi a advocacia. Você topa abrir um escritório comigo?”.
Aí o Cláudio, na hora: “Topo”. Montamos o escritório. Eu era menino, muito novo. Começamos a nossa vida ali. Só que o tempo foi passando e, embora o nosso escritório estivesse começado a crescer um pouquinho, não tinha muito para dar certo, porque quem ia procurar um menino, com 23 anos, com 24 anos, a não ser parente para não pagar? Não é assim? Como é que você vai cobrar da sua tia? A sua mãe já ia começar: “Não vai fazer o papelão de cobrar da sua tia”. Ou seja, a minha vida, na advocacia, naquela época, Hugo, não foi muito fácil. Aí caiu a ficha do concurso público. Eu comecei a estudar para concurso público. Hoje eu vejo que as pessoas reclamam de tudo. Naquela época, os livros eram só físicos. A gente fazia as pesquisas. Eu que não tinha dinheiro – Não é, Fernandinho? –, a gente que não tinha dinheiro… O Fernandinho era polícia naquela época, no Rio. Fernandinho tinha outros status. Eu não tinha dinheiro para comprar livros, não tinha dinheiro para fazer absolutamente nada. Eu estudava na biblioteca pública, ali na Avenida Rio Branco. Hoje eu vejo as pessoas reclamando com tudo disponível na internet. O cara pode ser o que ele quiser. Ele só não tem vontade de ser. Na verdade, só não tem força de vontade. Ele só não paga o preço, e o preço não é para qualquer um. Muitas vezes as pessoas me perguntam: “Passar em concurso é difícil?”. Quando o cara me pergunta, já falo: “Concurso não é para você, irmão. Se você já está perguntando se é difícil, não é para você, porque concurso é para quem quer, é para quem tem vontade e sabe que vai chegar lá”. E a gente pagava esse preço.
Eu me lembro de que, a partir de 1987, resolvi que ia estudar para concurso. Eu não tinha mais condições de ficar na advocacia. Eu e o Cláudio começamos a fazer concursos. Começamos a fazer cursos no Rio. Eu fazia um curso, no Rio, que era muito bom. Era o Cepad. Eu me lembro de que eu tinha um mês de Cepad aproximadamente, um a dois meses de curso, quando abriu concurso para procurador da República, Flavinho. Eu falei: “Pô, procurador da República é um bom concurso. Vou fazer esse concurso para procurador da República, MPF e tal.” Fui fazer num domingo. Vocês imaginem: eu menino, num domingo, com 24 anos aproximadamente. Já tinha combinado com meus amigos todos. A prova ia ser na Uerj. O Topan estudou na Uerj. Cadê o galo? O Topan estudou na Uerj. A prova ia ser na Uerj. Eram 5 mil, 6 mil candidatos para o concurso de procurador da República. A minha turma já estava estudando há muito tempo para concurso. Eu tinha dois meses de estudo. Fui fazer a prova. Delegada Sheila, quando cheguei para fazer a prova, abri aquela prova e comecei a responder aquelas questões, Letícia, com uma facilidade assustadora. “1a, 2b.” Eu estava me sentindo o cara fazendo aquela prova. Tal, tal, fiz, fiz, fiz, fiz. Saí, acabei a prova. Olhem minha capacidade intelectual. Acabei a prova antes de todo mundo. Tive de esperar um tempo mínimo para poder descer. Eu havia combinado com os amigos no pátio para a gente ir para a praia logo em seguida. Eu estava pensando no sol, estava pensando na praia. Ninguém descia, ninguém descia. Daí a pouco começaram a chegar, começaram a chegar. Aí vem a parte ruim do concurso, quando começam a discutir, Jordana, as questões. Daí a pouco um falava para mim: “Não, mas a questão tal vai ser anulada, porque é controvertida”. Eu parava e falava assim: “Porra, controvertida essa questão?”. Outro falava: “Não, essa aqui vai ser anulada”. Moral da história: veio o resultado. Eu não acertei 5% da prova, porque eu era um burro feliz. Não sabia nada. Como é que haveria controvérsia na minha cabeça, se não sabia nem o que não tinha controvérsia?
Isso foi bom, porque aí eu entendi o que era concurso. Não é, Antunes? Entendi o que era o concurso. Então passei a estudar realmente como se devia estudar para concurso. Depois que comecei a advogar, já na faculdade, já não estudava tanto quando estudava no Pedro II. Eu me lembro de que, nos momentos de oração… Estudar não é fácil, gente. Não é fácil, estudar não é para qualquer um. Eu vou confessar uma coisa para vocês. Eu lia três páginas e já me dava ânsia de vômito. Eu falava: “O que estou fazendo aqui? Eu queria estar na praia, queria estar jogando bola, queria estar fazendo um monte de coisa, não queria estar aqui”. Eu me lembro de que um dia, conversando com Deus, à noite, falei assim: “Deus…”. Eu fazia tanta coisa errada, Rezende, que eu nem pedia a Deus para passar no concurso. Eu achava que não merecia. Eu só falava com Deus assim: “Deus, me dá força de vontade. Só quero acordar, num dia de domingo, com meus amigos me chamando para ir à praia, eu eu falar que não vou, porque vou estudar direito tributário”. Olha que força de vontade! E Deus fez isso comigo. Eu acabei me transformando num viciado em estudos. Eu estudava por 10 horas, 12 horas com a maior facilidade. Eu via a minha mãe, a vovó Lena… Minha mãe batia na porta. Alguém já viu mãe reclamar que filho está estudando? Minha mãe batia na porta: “Você vai passar mal, Rogério, você vai ficar doente”. Era Natal, Ano-Novo, Carnaval, e eu não tinha tempo.
Aí o resultado veio! Em 1989, eu acabei passando no concurso do MP de Minas, mas uma coisa interessante aconteceu antes do concurso do MP – eu posso falar por mais 10 minutinhos? Rapidinho eu termino. Nós temos o tempo da programação. Eu me lembro de que, naquela época, os concursos eram muito demorados, e, paralelamente ao concurso da Defensoria Pública do Rio, eu estava fazendo o concurso de procurador do estado. Eu nem queria ser promotor. O concurso nem havia sido aberto, e eu nem pensava em Ministério Público de Minas. Eu era um carioca bairrista, que só achava que o único lugar do mundo que existia era o Rio de Janeiro.
Eu me lembro de ter sido reprovado em um concurso da Defensoria Pública por um décimo. Você passava com 5 e eu tirei 4.9. Eu tive essa reprovação de manhã, e, à tarde, quando estava indo para o fórum ver andamento de processos… Eu estava com um amigo meu que estagiava no nosso escritório, o Bruninho, cujo apelido era “Tomada”, porque era tão lerdo que precisava ser ligado em uma tomada. Sobre tudo o que você falava, ele só respondia uma coisa: “Que isso!”. Ele só falava “Que isso!” Era insuportável aquele “Que isso!” do Bruninho. Eu me lembro de que, indo para o fórum, em uma tarde, a gente estava caminhando quando, em um calçadão em frente ao fórum do Rio, um mendigo se levantou e veio em minha direção. Ele apertou a minha mão com força. Estava eu e o Bruninho, todo cheirosinho e de terninho, indo ver andamento de processo, porque antigamente isso era feito por papel, por fichinha. Então ele veio na minha direção, apertou a minha mão e falou assim: “Dr. promotor, o senhor não vai me prender não?” Eu falei: “Que mané promotor!” Eu havia acabado de ser reprovado, pela manhã, em um concurso para promotor. Aí o Bruninho, que era aquele lerdo, talvez, no maior momento de lucidez da vida dele, falou assim: “Rogerinho, quem sabe isso não é aviso de Deus para você fazer concurso para o MP?”. Depois quando passei a estudar a Bíblia, lá na frente, eu falei: “É verdade, o Bruninho tinha razão”. Se Deus usou até uma jumenta para falar com o Balaão, ele não ia usar o Bruninho que, de vez em quando, até fala!
Uma semana depois, abriu o concurso do Ministério Público, Júlio. Nós viemos do Rio, em um grupo grande, e eu acabei passando no concurso. Então, desde 1989, Deus me deu o privilégio de fazer parte de uma das maiores instituições do Brasil, hoje, que é o nosso Ministério Público de Minas. Não é, Jarbinha? O Jarbas que contribui tanto com isso!
Eu passei pelas comarcas de Areado, Manhumirim, Betim, e, em Betim, eu fiz uma mini Lava Jato. Ninguém entendia muito bem o que era isso lá, em Betim, porque a gente vinha de um MP fraco, de um MP anterior à constituição de 1988, com nenhuma garantia. Na época, havia inclusive o chamado promotor ad hoc: o juiz designava alguém para funcionar como promotor. Quando veio a Constituição de 1988, que trouxe com ela todas aquelas garantias da vitaliciedade, da inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos, o Ministério Público cresce de uma forma assustadora, mas a sociedade ainda não entendia o que era aquele Ministério Público.
Eu me lembro que a gente fez, em Betim, grandes operações. Na época, na comarca, todo mundo falava assim: “Nós vamos tirar o Rogério daqui”. Os meus amigos todos já estavam em Belo Horizonte, o Topan, o Alberto, o Nelson. Todo mundo estava aqui. Eu era o único dos nossos amigos do concurso que estava no interior. Quando o cara falava assim e jogava esse boato na cidade: “Vamos tirar o Rogério”, eu falava: “Agora que eu não saio”. Eu fiquei quatro anos, porque eu não queria dar o braço a torcer e porque falavam, na cidade, que eu ia sair por conta disso, por conta das investigações que eu estava fazendo.
De lá para cá, o Ministério Público cresceu de uma forma, assim, assustadora, e hoje ele realmente é uma das maiores e melhores instituições do País! Quando eu cheguei aqui, em Belo Horizonte, em 1994, nós começamos a formatar muitas promotorias especializadas. Eu estava conversando sobre isso com o Topan agora há pouco. A gente criou o Ministério Público. Não havia, naquela época, essas promotorias especializadas. Elas foram sendo construídas ao longo dos anos, não é, Jarbas? A coisa foi crescendo e crescendo, porque elas tinham um outro formato. É por isso que, quando eu vejo alguém que acabou de entrar para o Ministério Público – o cara está novinho e acabou de entrar para o Ministério Público –, já reclamando, apesar de pegar tudo pronto, Cláudio, eu acho mesmo que esses caras que entram agora não têm o direito de reclamar, porque eles nem conhecem a história da instituição. Mas é uma geração nutella!
Em 1994, eu fui convidado para coordenar a Escola Superior do Ministério Público, e, como toda instituição, Quaresma, tem o lance da política. Nós criamos o curso dentro da Escola Superior do Ministério Público. Havia uma banda do Ministério Público que era contra o curso e havia a outra banda. E aí começava a discussão: se se aprovar muito, vão dizer que é maracutaia, que o MP não pode ter curso; se se reprovar muito, vão dizer que a escola não presta, que o Ministério Público não tem nem capacidade. Ou seja, quando você quer destruir um projeto, você consegue, e, quando esse projeto foi destruído, no final de 1994, surgiu o curso Praetorium, de 1994 para 1995.
E a criação dessa logo se deve ao Topan. Eu me lembro que eu trabalhava… Eu me lembro até hoje, Galo. Eu o chamo de Galo porque o Topan era muito chato. A gente estudava para concurso juntos e ficávamos hospedados num hotel na Rua da Bahia que tinha banheiro no corredor, só pra vocês entenderem o nível. Normalmente, ficávamos eu, o Topan e o Nelson estudando. E, como ele era nadador, acordava às 3 ou 4 horas da manhã e ficava estudando em voz alta dentro do quarto. Dava aquela agonia: “Pô, você é igual a um galo, você não dorme”, não sei o quê. Mas, quando a gente se reuniu, próximo a Belo Horizonte, nós criamos o Praetorium, que chegou a ser o 2º maior curso do País. Nós, em Belo Horizonte, tínhamos, na nossa sede, uma média de dois mil alunos. Já transmitimos, via satélite, para 60 cidades, havendo 10 cidades físicas com filiais do Praetorium.
Esse slide mostra um momento icônico, quando eu começo a fazer palestras. Eu fiz questão de colocar essa figura, que para mim é muito importante: o ex-prefeito de Nova Iorque, que foi do MP de Nova Iorque, o Rudolph Giuliani. A partir de 1994, eu comecei a fazer palestras por todo o Brasil e tive o privilégio de fazer palestra com o Giuliani. Ele tinha, em 1993, criado um movimento de tolerância zero. Participamos da mesma Mesa, juntos, e discutimos o movimento de tolerância zero, e, depois da nossa palestra, saímos para jantar, e foi aí que eu perguntei tudo ao Giuliani sobre o que realmente era o movimento, o que não estava escrito nos livros. Então, eu botei a foto dele aqui porque, para mim, em relação a palestras, essa foi uma das mais marcantes que já tive.
Em 1998… Esse é o primeiro livro que eu escrevi. Escrevi para o nosso curso, o Praetorium. Em 2000, eu conheço um outro grande irmão para a vida, o William Douglas. O William estava montando a editora dele, já era juiz federal e veio dar uma palestra na associação. Eu era vice-presidente da associação do MP. Eu fiquei encarregado de receber o William, de levá-lo para almoçar. Aquelas coisas normais, não é? Ele estava vindo do Rio. Ele fez uma palestra fantástica. Eu ia sair para almoçar com ele. Ele falou: “Olha, eu vou sair com outro amigo, que é o Pachecão”. Não sei se alguém aqui lembra do Pachecão, que é professor de física. Quando ele falou que queria sair para almoçar com o Pachecão, eu falei: “Pô, vou me livrar do William, ele vai almoçar com o Pachecão, ficar tranquilo”. Falei: “Não, cara, pode ir com o Pachecão, tranquilo”. Ele falou: “Não, vem você também”. Eu falei: “Não, cara, vai com o Pachecão”. E acabou que eu fui.
E, nesse encontro… O William tinha acabado de montar a editora. Ele já sabia que eu tinha um livro publicado. Já era outro livro, pelo Praetorium, um livro mais completo. E ele falou assim: “Olha, Rogério, eu sei que você tem um livro. Já conheço o Praetorium. E eu queria que você editasse com a gente, passasse a editar com a gente”. E foi a partir de 2000 que eu comecei a ter uma distribuição nacional.
E, para honra e glória de Deus, eu já escrevi mais de vinte títulos e mais de cento e sessenta publicações, e já foram vendidos mais de oito mil exemplares. O legal é que, na primeira vez em que eu recebi o balanço da Impetus sobre livros vendidos, eu tinha vendido cinco livros no Brasil todo. Na primeira vez que chegou o balanço. Mas eu fiquei numa felicidade, Bruno, com aqueles cinco livros no Brasil todo, que eu meti um “Glória a Deus”: “Glória a Deus! Vendi cinco livros. No Brasil, fora de Minas, já estão sabendo quem eu sou”. E Deus fez com que essa semente dos cinco se multiplicasse. É por isso que eu falo para vocês: eu não sei honestamente o que Deus viu em mim. Eu sou o pior dos camaradas possíveis, mas, enfim, Deus só escolhe as coisa loucas.
Esse slide mostra dois cursos que eu gostei muito de fazer, um pela universidade… Embora já tivesse um mestrado pelo UFMG, fiz esse curso – que, para mim, foi muito importante – da Universidade de Burgos. Posteriormente, fiz um pós-doutorado na Universidade de Messina, na Itália.
A partir de 2007, eu começo a entender realmente de segurança pública, porque foi a partir desse ano, quando eu comecei a fazer instruções no Bope do Rio, que conheci efetivamente a segurança por dentro. E a minha relação, particularmente, com a tropa – já faz 20 anos disso – era de uma amizade, de uma intimidade, de uma afinidade tão grande, Rezende, que, nas operações do Bope, eles me levavam escondido, para eu entender como funcionavam aquelas operações. E, a partir de 2007, começa o processo de pacificação, e eu mergulhei a fundo naquelas pacificações do Rio. Então, eu fui com o Bope a muitas comunidades pacificadas e não pacificadas, o que me deu uma experiência muito bacana. Saber efetivamente o que significava a violência urbana. Esse slide mostram algumas operações de que eu tive o privilégio de participar. Neste slide vemos algumas instruções da Academia de Polícia. Por conta delas, eu basicamente conheci o Brasil inteiro e conheci quase todas as academias de polícia. E, assim, comecei também a entender como operavam as outras forças.
Este slide mostra quando fui, com a Polícia Federal, a uma operação no Rio Paraná, talvez uma das operações mais duras de que já participei, Rezende. Foram 30 horas sem dormir. Fui com o Nepom, da Polícia Federal, navegando à noite, sem luz, só com óculos de visão noturna, sentado na borda da lancha da Polícia Federal, sem blindagem, com medo de tomar tiro de traficantes, que ficavam na borda só para atirar na Polícia Federal e voltar.
Essas experiências foram se somando e foram me marcando para que eu pudesse entender realmente como funciona a segurança pública. E eu, Jarbas, durante as três vezes em que participei do Conselho Superior do Ministério Público, tinha um sonho. Sempre gostei muito de segurança pública, então a polícia sempre esteve nas minhas veias. O meu concurso era para ser polícia. Não fiz porque na época não apareceu, não aconteceu, mas sempre trouxe para o Ministério Público algumas iniciativas, algumas sugestões, que infelizmente nunca foram adotadas. Acho que, quando o promotor de justiça entra na nossa instituição – e deixo isso aqui, só a título de sugestão, Jarbinhas –, ele não sabe nada de segurança pública. Então é muito fácil, desembargador, que ele ofereça denúncia contra um policial simplesmente porque no confronto o policial foi e, tendo que agir dessa forma, matou uma criança, matou um adolescente. Tenho vídeos tristes, infelizmente, de crianças de 7, 8 anos, portando Glock com carregador estendido com kit rajada. Aí eu pergunto a vocês: se vocês fossem das forças de segurança e, ao subir em uma comunidade, fossem recebidos a tiros por uma criança de 9 anos, vocês revidariam? Ou vocês falam: “Não. É uma criança de 9 anos. Tenho que morrer, porque é uma criança de 9 anos”. Isso não existe, mas, para que a pessoa tenha esse conhecimento, é preciso conhecer a ponta. Então, meu sonho, no Ministério Público, Flavinho, é que acontecesse o seguinte: entrou, tem que passar pelo menos 15 dias na Polícia Militar e 15 dias na Polícia Civil, para poder entender o que acontece lá na frente. O trabalho do promotor seria infinitamente melhor, com muito mais qualidade, Cláudio, do que se ele ficasse simplesmente denunciando. Nenhum morto é bonito. Fiquei por 15 anos como promotor e 15 como procurador. Nos 15 anos como procurador, trabalhei na Procuradoria de Crimes Contra a Vida. Eu nunca vi um morto bonito. O Cláudio, que é do júri, já viu algum morto bonito? Já falou: “Pô, esse cara morreu bem. Que bonito este morto aqui”. Todo morto é feio. Todo morto choca. Então as fotos induzem a uma denúncia, mas muitas vezes elas não traduzem a realidade. Enfim, fica só uma sugestão para os meus colegas do MP.
E, então, recebi um convite do governador Romeu Zema para poder participar de um processo de seleção. Quando o governador ganhou as eleições, todos os secretários participaram de um processo de seleção. Ninguém foi escolhido diretamente pelo governador. Eu me lembro de que participei desse processo de seleção. Eu já estava me aposentando em 2019. Havia muitas pessoas, em cada uma das pastas, participando. No final ficou entre mim e um outro, um general. Eu me lembro, Bruno, de que eu faria a entrevista com o governador numa segunda-feira à tarde, juntamente com o general, cada um, obviamente, em um horário diferente, e ele escolheria ali o secretário. E eu, de manhã – não sei se essas coisas acontecem com vocês também –, comecei a sentir uma sensação de desconforto. E fiquei pensando: “Gente, não sou ordenador de despesa, não estou buscando cargo. Ser secretário ou não ser secretário, para mim, é a mesma coisa”. Fiquei 30 anos no Ministério Público com cargo. Eu estava com a minha vida tranquila, viajando pelo País inteiro, fazendo aquilo que eu gostava, que era dar palestra. Falei: “Quer saber? Vou desistir”. E aí liguei para o Evandro, do Partido Novo, que estava fazendo essa ponte com o governador. Falei: “Evandro, não vou para a entrevista com o governador”. O Evandro xingou até a minha quinta geração: “Você vai, você tem que ir”. Falei: “Cara, não vou. Não estou seguro, não estou confortável. Não vou”. Desisti, e o general assumiu. Dois anos depois, o governador quis mexer um pouquinho na segurança pública, refez o convite a mim. E vou falar para vocês que vivo hoje um dos meus melhores momentos profissionais. É uma pessoa extraordinária. E o testemunho do governador que dou para vocês é o seguinte: nos quatro anos e alguns meses em que estou à frente da secretaria, ele nunca me ligou para absolutamente nada.
Quando eu falo isso para os meus colegas do Rio, Rezende, a turma cai para trás. Falam: “Ele não te liga?” Nada! Já fiz a operação, prendemos gente, dentro da Sejusp, e só tive o cuidado de ligar para o governador e falar: “Governador, vamos fazer uma operação aqui dentro, vai ter gente presa aqui, só não posso dizer para o senhor quem vai ser e quando vai ser, mas vai ter”. E ele me responde: “E é só uma, Rogério?”. “Não, vai ter um monte”. Então é uma pessoa extraordinária. Uma pérola que a gente tem é o governador Romeu Zema, que pegou um estado destruído, um estado quebrado, um estado falido, como um grande empresário que é… Eu não estou puxando o saco do governador, porque, da mesma forma que eu não pedi para entrar, se quiser me tirar, é do mesmo jeito. Eu nunca fiz um pedido aqui, à Assembleia, para nenhum deputado. Nenhum deputado pode dizer que eu vim aqui pedir qualquer coisa para mim. Eu nunca fiz e nunca vou fazer. Se eu estou aqui, é porque o governador confia. O dia que ele não confiar, eu vou agradecer, imensamente, pela experiência que ele me proporcionou e vou embora feliz da vida. Mas é uma pessoa que tinha que estar à frente, na verdade, não só de Minas Gerais, mas também do País como um todo, que a gente ia mudar esta nação.
Eu não conhecia as comunidades daqui. Aí eu fui, na época, e conversei com o Cel. Olímpio, falei: “Comando, eu conheço as comunidades do Rio, mas eu queria conhecer as daqui”. Não é, Antunes? Antunes esteve lá com a gente. Eu falei: “Eu quero ir na pior comunidade que a gente tem aqui”. Aí a gente foi, inicialmente – como é que chama, Antunes, a primeira que a gente foi? –, na Serra. Depois fomos na Cabana. Aquela foto ali, a segunda, foi com a Letícia, numa operação da Polícia Civil também. Assim eu fui conhecendo as nossas comunidades daqui. Eu vou falar um negócio: A gente vive num estado privilegiadíssimo.
Eu me lembro que eu entrava com a patrulha da Polícia Militar, nessas comunidades, e perguntava ao comandante da patrulha, falava brincando: “Comando, quando é que vem tiro?”. Ele falava: “Ih, Rogério, esquece. Aqui, vagabundo não atira na polícia, não”. Isso para a gente é de uma felicidade tão grande, é de uma segurança tão grande, que eu duvido que qualquer um de vocês aqui entrasse numa comunidade carioca, a não ser o Flávio Dino, aí é outro papo.
Nós fizemos essas operações integradas e consegui, na secretaria, Quaresma, fazer uma coisa que era o meu sonho no Ministério Público, que era integrar as polícias. Eu nunca entendi por que a gente não conversava. Não tem sentido, não faz sentido isto: a PM não conversar com a PC, a PC não conversar com a Guarda Municipal, a PF não conversar com ninguém, a PRF muito menos. Não faz sentido! Nós somos membros de um mesmo corpo. Então, se um membro vai mal, o corpo todo vai mal também. Então, graças a Deus, aos poucos, a gente foi quebrando, a gente foi se unindo. Claro que a gente tem que melhorar muito, mas perto do que era, a gente já deu um salto de qualidade. E ninguém dos outros estados faz isso.
Da mesma forma, o governador me pediu para que pudesse dar uma valorizada no sistema prisional. Foi o único governador na história que eu vi investir no sistema prisional, porque não aparece, a sociedade não gosta disso. Quando se fala em investimento do sistema prisional, ninguém gosta, porque ninguém gosta de preso. A realidade é essa, e o governador fez reformas importantíssimas para a gente, construções importantíssimas, e nós vamos melhorar ainda muito mais. Está aqui o meu querido amigo Falheiros, que não me deixa mentir, que é um irmãozão que a gente tem, do GMF. Se não fosse a sua ajuda também Falheiros, seria muito mais difícil para a gente. Então eu lhe agradeço demais, do fundo do coração. Saiba que é um irmãozão que eu tenho.
Aqui, em Minas, também eu realizei o meu sonho, o de pegar a faixa preta. Isto aqui é só uma firula, mas eu tinha que colocar. Depois de velho, pegar a faixa preta.
Aqui eu queria agradecer ao meu time, porque realmente vocês são o melhor time do Estado. Com todo o respeito que eu tenho aos meus irmãos do Ministério Público, mas eu nunca tive um time tão bom, tão bom, em toda a minha vida. Vocês fazem a diferença da secretaria. Todas as vezes que eu converso com o governador, converso com o vice-governador, eles não têm, absolutamente, nada a dizer da Sejusp, muito pelo contrário, são só elogios. Então eu queria agradecer a esse nosso time todo aqui. Eu tinha que ter colocado aqui vários slides, falando de todos vocês. Mas isso aqui é muito simbólico, é só uma parcela muito pequenininha da turma que faz parte da gente também. Estão até muitos amigos que fazem parte não diretamente na secretaria, mas estão juntos com a gente. Isso é um pouco do nosso time.
Aqui são as meninas, em foto privilegiada. Está vendo, Ju? A Ju mandou logo a foto dela grande para todo mundo saber quem é a Ju.
Aqui estão vocês, Antunes, Osmar, Caldeirinha, Delfino, que estão desde o começo – houve uma pequena mudança na nossa equipe. São pessoas em que confio 100%. Eu confio 100% da minha integridade física a eles. Aqui, eu posso dizer a vocês que esse é o melhor secretariado do País, com toda a certeza. Quando a gente conversa, em outros estados, sobre o que acontece aqui em Minas, ninguém – Werlon, está aqui você também, viu? – acredita que a gente tenha esse grupo de secretariados tão amigo, tão irmanado, graças ao nosso governador, que tem essa visão empresarial, que sai com as famílias, que junta todo mundo. Não existe burocracia para falar entre a gente. Tudo é ligação, tudo é via WhatsApp. Quem fez isso aqui tudo foi o Jonathan. Não foi, Jonathan? O Jonathan é o artista do PowerPoint.
Enfim, eu só tenho a agradecer não só ao nosso governador mas também ao Prof. Mateus, uma das pessoas mais preparadas intelectualmente que eu já vi na minha vida. É assustador conversar com o Mateus. Ele sabe tudo a fundo, de todas as secretarias, sabe mais do que o próprio secretário. O Mateus também é um achado que nós temos aqui, no governo de Minas.
Enfim, eu falei demais, me perdoem. O protocolo era um tempo mais curtinho, mas eu tinha que aproveitar esta oportunidade e agradecer a todos vocês aqui, do fundo do coração. Eu repito, não sei o que Deus viu em mim, mas Ele viu alguma coisa e eu agradeço a Ele por tudo. Obrigado. Boa noite a todos.
– No decorrer de seu pronunciamento, procede-se à exibição de slides.