ROGÉRIO FARIA TAVARES, Presidente emérito da Academia Mineira de Letras
Discurso
Legislatura 20ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 17/12/2024
Página 9, Coluna 1
Indexação
Proposições citadas RQN 8332 de 2024
46ª REUNIÃO ESPECIAL DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 13/12/2024
Palavras do Sr. Rogério Faria Tavares
Bom dia, senhoras e senhores. É com especial emoção, é com intensa alegria que partilho com os presentes a beleza desta homenagem, sobretudo porque ela se dá no Plenário Juscelino Kubitschek. Juscelino Kubitschek, como todos sabemos, foi membro da nossa casa, eleito por unanimidade um ano antes de seu falecimento, em 1976. Aqui também desta tribuna, falo com uma emoção muito particular. Permitam-me, senhoras e senhores, uma brevíssima digressão de caráter pessoal. Meu pai aqui trabalhou por três mandatos como deputado estadual, presidiu esta Casa e foi o responsável por inaugurar este prédio. As obras deste prédio foram iniciadas por outro membro da Academia Mineira de Letras, que presidia a Assembleia no mandato anterior ao mandato do meu pai, o antigo acadêmico Bonifácio Andrada. A todos eles faço as devidas homenagens e reverências. Feitas as reverências de ordem pessoal e emocional, cumprimento os membros da Mesa, como a deputada Lohanna, destemida, valente, corajosa, excelente representante dos mineiros na Assembleia Legislativa, que acolheu com grande hospitalidade a ideia desta homenagem, inspirada também pelo nosso querido mestre Angelo Oswaldo de Araújo Santos. Saúdo o presidente da Academia Mineira de Letras, meu fraterno e dileto amigo Prof. Jacyntho Lins Brandão, um dos mais importantes helenistas do Brasil e da América Latina. Saúdo, com especial amizade, o cônsul de Portugal em Belo Horizonte, o fraterno amigo Eurico de Matos, que representa o meu também país, Portugal, nesta terra de Minas Gerais; e os amigos desembargadores Bruno Terra Dias e Fernando José Armando Ribeiro, que, com sua presença no Judiciário, dotam esse Poder de inteligência, cultura e erudição. Saúdo também o delegado de polícia Aci Alves dos Santos, que representa a instituição a que pertence hoje, a Polícia Civil, sendo o diretor do Colégio Ordem e Progresso; e a Cibelle Lana Fórneas Lima, gerente dos anos finais do ensino fundamental, que representa aqui a secretária municipal de Educação de Belo Horizonte. Muito obrigada por estar presente nesta Casa, nesta manhã luminosa.
Há duas referências sem as quais não posso prosseguir aqui a minha brevíssima fala. Uma é aos acadêmicos presentes. Além de Jacyntho e Angelo Oswaldo, aqui estão também os acadêmicos Paulo Beirão e Márcio Sampaio. Outra é a referência indispensável a esse belo quarteto que nos honra e nos presenteia com uma apresentação bela. O Prof. Alberto Sampaio está aqui acompanhado de seus alunos, cujos nomes já foram citados, mas vou citar novamente: Lucas Vieira, Bárbara Moreira e Bernardo Martins. Muito obrigado pelo talento e pela beleza do trabalho que desenvolvem. Deixo uma nota pessoal aqui, uma nota de pé de página: Alberto Sampaio é filho do acadêmico Márcio Sampaio e pertence ao que chamamos aqui na AML de família estendida da Academia Mineira de Letras.
Por que uma solenidade como esta se realiza na Assembleia Legislativa de Minas Gerais? Por uma razão muito simples, deputada Lohanna. Porque a Academia Mineira de Letras e a Assembleia Legislativa de Minas Gerais se erguem em torno do que a civilização humana ergueu de melhor: o culto à palavra, o culto ao diálogo, o culto à escuta sensível e atenta, à tolerância e à boa convivência entre aqueles que divergem.
Na nossa casa, temos integrantes de todas as trajetórias, pensamentos, ideias, opiniões, e todos sabem conversar civilizadamente, sem urros, sem latidos, sem insultos, sem ofensas. Todos partilham, à mesa, da inteligência humana, sabendo que não é ruim divergir, não é ruim discordar. Pelo contrário, a discordância e a divergência são recursos da inteligência humana para que ela possa aprimorar-se. Então faz todo o sentido que esta solenidade dos 115 anos da Academia Mineira de Letras se realize no Parlamento, que é a Casa da palavra, que é a Casa do debate elegante, civilizado, do debate produtivo, que ajuda a emancipação humana, que ajuda a expansão da qualidade de vida da nossa população.
Dito isso, eu quero dizer que há valores que cultivamos também. Além do culto à palavra, há valores que respeitamos desde a nossa fundação, no Natal de 1909, em Juiz de Fora. Quais são esses valores? Aqui eles já foram citados, mas é preciso repeti-los sempre e à exaustão. São os valores da educação, da cultura, da história, da memória, da democracia, da ciência, das letras e das artes. Eu ressalto aqui o valor da memória, sobretudo da memória histórica, principalmente num país como o nosso, que precisa tanto de cultuar a sua memória, que precisa tanto de não esquecer. Sabemos todos que o dia 13 de dezembro é um dia marcado por um acontecimento funesto na história brasileira, a decretação do Ato Institucional nº 5. Não podemos nos esquecer do que houve naquele ano de 1968, para que ele não se repita nunca mais. Cento e quinze anos. Ainda estamos aqui.
A memória histórica também solicita a evocação de alguns nomes fundamentais da nossa história institucional. Eu evoco aqui a memória do nosso presidente, do nosso primeiro presidente, Eduardo de Menezes, que assumiu a tarefa de presidir a nossa casa lá no ano de 1909; faço homenagem ao primeiro presidente que a AML teve. Faço também uma homenagem a todos os fundadores: primeiro 12, depois 30, depois, finalmente, 40 fundadores. Jovens, na sua maioria, ao contrário do que muita gente pensa.
Ao longo do tempo, as gerações de intelectuais se sucederam nas cadeiras da casa de Alphonsus de Guimaraens, e ela passou a ser também a casa de Henriqueta Lisboa, de Alaíde Lisboa, de Maria José de Queiroz, de Carmen Schneider Guimarães, de Lacyr Schettino. Evoco, como fiz agora, as fundadoras da presença feminina na nossa Academia Mineira de Letras e faço uma reverência às que ainda estão entre nós: Elisabeth Rennó, Yeda Prates Bernis, Conceição Evaristo, Ana Cecília Carvalho, Maria Antonieta Cunha e Maria Esther Maciel.
Evoco, então, com grande alegria, o nome das fundadoras da presença feminina na Academia Mineira de Letras, que, como eu já disse, é a casa da agregação pelo diálogo e é a casa também da diversidade, porque só por meio da diversidade seremos capazes de construir uma nação forte, soberana, independente e culturalmente rica. Abrindo as portas à diversidade, à rica diversidade de que é composta a população mineira, fomos capazes de acolher, melhor dizendo, tivemos a honra de acolher representantes de culturas ainda não representadas na nossa agremiação. E chegaram Ailton Krenak, Conceição Evaristo, Ricardo Aleixo, Ana Cecília Carvalho – representante de uma comunidade importante em Minas e no Brasil. Aqui eu faço uma especial saudação ao presidente da Congregação Israelita.
E, olhem, vamos receber hoje à noite o ex-ministro Paulo Haddad, que tomará posse às 20 horas. O ex-ministro Paulo Haddad... Permitam-me aqui uma referência muito rápida e muito educada a esse tema. O ex-ministro Paulo Haddad, que será empossado hoje à noite, filho de libaneses, receberá o diploma de acadêmico das mãos de Ana Cecília Carvalho, filha de judeus. A academia é a casa da paz.
Para não abusar da tolerância dos senhores e das senhoras – o cerimonial liderado pela nossa querida Silvia Vilhena me alertou de que eu teria 5 minutos –, eu quero finalizar, eu quero concluir minhas palavras dizendo que a academia não esmoreceu, não traiu os compromissos de seus fundadores; pelo contrário, foi leal aos seus fundadores.
Houve presidentes do quilate de Vivaldi Moreira e de José Oswaldo de Araújo, avô do nosso querido Ângelo Oswaldo de Araújo Santos. Ela continuou a oferecer à comunidade de Minas uma programação cultural rica, atual, intensa, relevante, sintonizada com os dramas, com as dores e com os impasses dos dias que correm.
A academia guarda a tradição. A academia é a grande guardiã da história intelectual de Minas e o faz preservando um acervo de mais de quarenta mil itens, postos à disposição dos pesquisadores, dos estudantes, dos mestrandos e dos doutorados. Mas ela guarda a tradição sempre em sintonia, em diálogo, com o contemporâneo. Ela não mora no passado; ela está em 2024, com a coluna ereta, o peito erguido, o coração aquecido e os olhos postos na linha do horizonte. A Academia Mineira de Letras, como a própria arquitetura da sua sede sugere, conjuga a tradição – representada pelo Palacete Borges da Costa – com a modernidade de seu anexo, projetado pelo querido arquiteto Gustavo Penna. Se a academia oferece ao público uma programação cultural relevante, intensa e atual, é porque ela obedece à máxima: “Uma instituição só faz sentido se fizer sentido para a comunidade em que está inserida”. Só assim a academia faz sentido.
Finalmente, ela publica uma revista desde 1922, uma revista que, se tem a sua versão impressa, também tem a sua versão digital, disponível sem custos, no site da instituição na internet. E é o lugar do encontro, do encontro em torno do que a vida nos oferece de melhor: a arte, a literatura, a educação, a cultura, a ciência, a democracia, a história e a memória. Perdoem-me essa repetição, mas é porque a repetição é um recurso para que nós nunca nos esqueçamos dos valores essenciais. E o que é a academia, senão uma afirmadora e uma reafirmadora dos valores essenciais, daquilo que deve permanecer? A academia trabalha em torno daquilo que deve permanecer, daquilo que é o essencial – não do passageiro, não do efêmero, não do transitório.
E agora, de verdade, Sílvia Vilhena, termino a minha fala dizendo que, se o dia 13 de dezembro nos evoca uma memória sombria – como a que eu já mencionei anteriormente –, ele também é uma data que nos faz evocar uma aniversariante especial. Faz aniversário, hoje, a poeta Adélia Prado, de Divinópolis, terra em que atua com tanto brilho a deputada Lohanna. (– Palmas.) Vencedora dos maiores prêmios da literatura em língua portuguesa, Adélia Prado simboliza a força da literatura produzida em Minas Gerais. Se a deputada Lohanna citou vários nomes fundamentais da literatura produzida em Minas, eu condenso, eu sintetizo a homenagem da nossa casa, nesta hora, à aniversariante do dia, como forma de cumprimentá-la. Parabéns, Adélia Prado; parabéns, escritoras e escritores de Minas Gerais; parabéns, finalmente, à casa que os respeita e valoriza há 115 anos: a Academia Mineira de Letras. Muito obrigado.