Pronunciamentos

DEPUTADA LOHANNA (PV), Presidenta "ad hoc", coautora do requerimento que deu origem à homenagem

Discurso

Homenagem pelo transcurso do 115º aniversário de fundação da Academia Mineira de Letras.
Reunião 46ª reunião ESPECIAL
Legislatura 20ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 17/12/2024
Página 7, Coluna 1
Indexação
Proposições citadas RQN 8332 de 2024

46ª REUNIÃO ESPECIAL DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 13/12/2024

Palavras da presidenta (deputada Lohanna)

Bom dia a todos e a todas. Queria cumprimentá-los e agradecer-lhes a presença nesta manhã tão festiva que alegra muito os corações não só dos membros da Mesa, mas também de todos que estão aqui presencialmente, com certeza, e dos que nos acompanham de casa. Queria cumprimentar, muito carinhosamente, o Prof. Jacyntho Lins Brandão, presidente da Academia Mineira de Letras; o Sr. Rogério Faria Tavares, presidente emérito da Academia Mineira de Letras e homenageado; o Sr. Eurico de Matos, cônsul de Portugal em Belo Horizonte, sobre quem eu queria fazer uma citação pública. Eurico, o seu português brasileiro está cada dia mais crível, viu? Queria cumprimentar também o Sr. Bruno Terra Dias, desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais; o Sr. Angelo Oswaldo, prefeito de Ouro Preto, membro da Academia Mineira de Letras e correligionário do Partido Verde; o Sr. Fernando José Armando Ribeiro, desembargador do Tribunal de Justiça Militar do Estado de Minas Gerais; o Sr. Aci Alves dos Santos, delegado de polícia, representando a Polícia Civil de Minas Gerais, e diretor do Colégio Ordem e Progresso; e a Sra. Cibelle Lana Fórneas Lima, gerente dos anos finais do ensino fundamental, que representa aqui a Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte. Sejam todos bem-vindos e bem-vindas!

Na ocasião em que esta Casa, que escreve leis, homenageia essa outra casa que escreve a vida por meio da literatura, eu escolho começar dizendo que a minha presença aqui tem uma história curtinha. Peço um espaço da fala e do coração de vocês para escutarem.

A honra de ter sido a primeira signatária desta homenagem à Academia Mineira de Letras, agora que ela chega a esta data tão importante de 115 anos, se entrelaça também à minha trajetória enquanto parlamentar e cidadã.

Foi como vereadora e na minha experiência de vereança no Município de Divinópolis que me sensibilizei e, em seguida, me apaixonei profundamente pelas políticas públicas voltadas à cultura e muito especialmente à literatura. Foi como parlamentar recém-chegada à Assembleia que travei contato com a colega deputada e atualmente ministra Macaé Evaristo, na atual legislatura, mas também na Comissão de Cultura, onde tenho a honra de ocupar, atualmente, a cadeira de vice-presidente. E foi como deputada que elegeu a cultura como área de atuação – muito mais do que eu elegi, o meu eleitorado elegeu para o meu mandato – que apoiei a iniciativa desta homenagem em boa hora proposta por Macaé.

Como sabemos, o talento e a sensibilidade da nossa prezada colega de Assembleia foram requisitados pelo presidente Lula para ajudá-lo a cuidar do Brasil na alta missão de chefiar a Pasta de Direitos Humanos neste país, que ainda não se cansa de vê-los tão desrespeitados. Coube a mim, então, levar adiante a ideia desta homenagem, tarefa que, sendo honrosa, também é, para mim, motivo de muita alegria, pois me põe de novo junto a figuras sem par da vida cultural e política mineira, como meus queridos Angelo Oswaldo e Paulo Beirão, cuja amizade, agora eu já sei, foi um primeiro sinal do destino, que vem trabalhando para fazer com que meu caminho se cruze com o dessa grande casa de escritores.

Mas, se quem está falando aqui, inicialmente, a deputada, se sente honrada por propor essa sessão, a cidadã se sente profundamente gratificada a cada um e a cada uma de vocês. E essa gratidão vem do fato de eu ser, desde a infância, uma leitora voraz, pois lia tudo o que me caía às mãos, da literatura à bula de remédio, e, já adulta, aproveito as raras folgas no trabalho parlamentar e até os deslocamentos de automóvel pelo interior, porque tenho a sorte de estar no seleto grupo de pessoas que não enjoam lendo no carro, para poder frequentar as páginas dos meus livros preferidos. É uma leitora apaixonada, meus caros Profs. Jacyntho e Rogério e todos os acadêmicos, que está falando aos senhores e às senhores, uma leitora das ciências sociais, das ciências da natureza, minha área de formação, da literatura, da poesia, da arte e do que mais houver disponível para ser lido, uma leitora que tem alegria sincera em aprender e não vê a literatura como um luxo nem como passatempo, mas como atividade vital e indispensável.

E, aqui, sem nenhuma retórica, eu me pergunto, assim como pergunto a cada um e a cada uma de vocês: o que nós entenderíamos de nós mesmos, enquanto mineiros e mineiras, sem a prosa fantástica de Murilo Rubião, sem o olhar lírico de Oswaldo França Júnior, sem a coragem de Carolina Maria de Jesus, sem o infinito sertão, mundo que Guimarães Rosa nos trouxe? Como nós veríamos a nós mesmos, em nossa essência mais íntima, sem Cláudio Manuel, sem Henriqueta Lisboa e sem essa constelação lírica de universos chamada Carlos Drummond de Andrade?

Com a licença devida àqueles e àquelas que falam com paixão, eu ouso dizer que nós não seríamos nós mesmos sem eles e sem as suas obras. Seríamos menos mineiros e mineiras. E eu acho que todos nós sabemos que isso seria inconcebível e inadmissível. Portanto é largo e profundo o trabalho da Academia Mineira de Letras, e ele fica tanto maior quanto mais nos lembramos de que 115 anos não significam apenas que mais um ciclo de 12 meses se fechou na história da instituição. Não, esse é um momento importante na trajetória de um dos mais relevantes ativos da civilização mineira. Este momento da nossa querida academia pode ser definido, Prof. Jacyntho, pela palavra “amplitude”. Há, de um lado, uma amplitude de atuação – o vídeo trouxe isso muito bem –, pois a AML vem se destacando bravamente com iniciativas que incentivam a pesquisa científica, a cidadania, a vivência, a estética e o resgate histórico, além, claro, do seu trabalho com o texto literário. Mas há, de outro lado, uma amplitude de concepções que merece aplausos pela sua abertura à diversidade. Surgida, como muitas academias brasileiras, muito timidamente aberta à presença feminina, nossa academia, com o perdão do neologismo, vem se “mulherando” aos poucos, e a minha perspectiva é que o faça cada dia mais. Depois, ela se abriu às mais diversas tendências estéticas. E, ao lado de eruditos das línguas clássicas, como o nosso Prof. Jacyntho, acolheu também escritores da vanguarda estética, como Márcio Sampaio. E, agora, nisso que podemos chamar de uma notável guinada antropológica, a AML franqueia as suas cadeiras a luminosos talentos do quilate de Conceição Evaristo, de Ricardo Aleixo e dessa voz que vem de dentro e do fundo que se chama Ailton Krenak.

Na academia, cabem juristas de primeiríssima linha, como Carlos Velloso; jornalistas da melhor verve, como Humberto Werneck e Carlos Herculano Lopes; sacerdotes inspirados, como o cônego Vidigal e o nosso D. Walmor; além de profissionais liberais, pesquisadores, executivos e tantos outros que, se não são citados aqui, nós também não podemos deixar de lembrar deles nos nossos corações e nas homenagens. É com essa reunião, sem paralelo, de talentos e com essa rica missão de defesa da tradição e de abertura para a inovação que a nossa querida academia chega aos 115 anos, na perspectiva de que o outro século chegue, porque o escrever, como diz o lema latino da casa, não tem fim.

Termino, meus amigos e amigas, trazendo da minha terra, da minha Divinópolis, do meu Centro-Oeste de Minas, a minha saudação cordial a cada acadêmico, cada acadêmica, que, com sua vida e obra, nos inflama a imaginação e nos dá o anseio de viver intensa e profundamente. Termino, como não poderia deixar de ser – e é até engraçado de tão previsível, mas eu sou defensora de que os clichês existem porque se justificam –, citando a nossa Adélia Prado, parafraseando-a, para ser mais exata, e desejando que a Academia Mineira de Letras continue a nos dar a faca, o queijo e a fome de saborear cada dia das nossas vidas por meio das palavras.

Meus parabéns, e muito obrigada.