Pronunciamentos

PAULO DANIEL GODOY, Sobrinho da homenageada

Discurso

Transcurso do 100º aniversário de Maria Lúcia Godoy.
Reunião 34ª reunião ESPECIAL
Legislatura 20ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 04/09/2024
Página 4, Coluna 1
Indexação
Proposições citadas RQN 6987 de 2024

34ª REUNIÃO ESPECIAL DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 3/9/2024

Palavras do Sr. Paulo Daniel Godoy

Boa noite a todos. Cumprimento a Exma. Sra. deputada Leninha, 1ª-vice presidenta da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, autora do requerimento que deu origem a esta homenagem, neste ato representando o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Tadeu Leite; o Exmo. Sr. Patrus Ananias, deputado federal; faço uma homenagem especial ao meu irmão Henrique Godoy, que era o produtor da Maria Lúcia; cumprimento os prezados músicos aqui presentes; na pessoa do pianista Túlio Mourão, cumprimento todos os músicos, cantoras e cantores, especialmente o Madrigal Renascentista, que é e ainda faz parte da história musical de Minas, do Brasil e do mundo, e o faço também na pessoa do maestro Felipe Magalhães, a quem tive a honra de conhecer hoje.

Senhoras e senhores, em nome da família Godoy, é com muito orgulho que venho prestar homenagem à minha tia, que representa, de forma sublime, a arte e a cultura mineira, cuja belíssima e singular voz atravessou as montanhas de Minas para alcançar o mundo, e o país, nem se fala, causando respeito e admiração de todos que tiveram o privilégio de ouvi-la em concertos, recitais, óperas, corais, serestas, filmes e no âmbito familiar. Ouvir Maria Lúcia Godoy é quase como subir aos céus, como disse um gari que, após um concerto público, exclamou: “Dona, a sua voz é paz no coração, a sua voz é o silêncio do mundo.”

Cumprimento o ex-vereador Arnaldo Godoy aqui presente e que também participou muito dessa carreira da tia Lulu.

A sua interpretação de Bachianas nº 5, de Heitor Villa-Lobos, chamou a atenção de Bidu Sayão, que, após ouvi-la, nomeou-a sua sucessora. Maria Lúcia sentiu-se contemplada quando ouviu de Tom Jobim que a música Sabiá foi inspirada nela. Carlos Drummond de Andrade também a contemplou quando escreveu os seguintes versos para ela: “Lembrar as serras de Minas,/ Demolidas, como dói!/ Mas me consolo se escuto/ Maria Lúcia Godoy./ Foi-se o ferro de Itabira?/ Ouro não se destrói!/ Está na voz da mineira/ Maria Lúcia Godoy”. Ferreira Gullar, um dos maiores poetas do nosso país, traduziu, de forma lírica e poética, a voz de Maria Lúcia: “Sua voz quando ela canta me lembra um pássaro, mas não um pássaro cantando: lembra um pássaro voando”. Entre tantos nomes que expressaram sua admiração pela cantora, vale citar Edino Krieger, Antônio Hernandes, Leopold Stokowski, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Tancredo Neves, sem falar no nosso querido JK, que dá o nome aqui a este plenário, que cantou em vários momentos com ela pelas ruas e vilarejos de Diamantina.

Além de seu talento musical, Maria Lúcia, por sua veia artística e poética, dedicou-se, durante 11 anos, a escrever crônicas no jornal Estado de Minas, como também publicou vários livros infantis. A propósito, estão ali, ao lado esquerdo aqui do Plenário, as obras de Maria Lúcia Godoy para quem quiser conhecer um pouco mais, assim como um estande de fotos.

Sua sensibilidade poética, sua ligação com as causas ecológicas na preservação da natureza, seu amor pelas montanhas e pelo povo de Minas foram marcantes em sua vida. Como ela disse, quando recebeu o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal de Minas Gerais: “A mim não importa apenas o reconhecimento de minha arte pelos grandes artistas e políticos, nem pelo público seleto que costuma frequentar concertos e óperas, mas, sobretudo, pelo povo do meu país, que, quando tem oportunidade, sabe reconhecer a outra face da arte”.

Maria Lúcia, a Sabiá de Minas, consegue, com sua simplicidade, enorme talento e técnica vocal, unir a música lírica ao cancioneiro popular, interpretando modas brasileiras, assim como canções napolitanas. Em sua trajetória exitosa, no início de sua carreira como solista do glorioso Madrigal Renascentista, a quem eu peço uma salva de palmas pela presença aqui… Então vamos repetir: em sua trajetória exitosa, no início de sua carreira como solista do glorioso Madrigal Renascentista, coral reconhecido e reverenciado tanto no Brasil como no exterior, e que, no início de sua formação, fazia ensaios na casa dos meus avós, pais de Maria Lúcia, na Rua São Paulo, 2.189, regido pelo então maestro Isaac Karabtchevsky. Faziam parte desse coral suas irmãs e irmãos, além de vários talentos que, unidos, faziam do Madrigal Renascentista um dos coros mais belos e expressivos, e que ainda permanece nos encantando. Nas suas incontáveis apresentações por diversos países, Maria Lúcia Godoy conseguiu a glória de ser uma das maiores cantoras líricas do mundo.

Integrantes do ex-Madrigal Renascentista daquela época estão presentes aqui, a quem homenageio também.

Tive a honra de acompanhá-la, com meu violão, diversas vezes, e isso muito me honrou. É um pedaço da minha história que vou carregar comigo para sempre.

Um dos últimos recitais públicos da Maria Lúcia, da Lulu, foi na reinauguração do Teatro Francisco Nunes, em 2014. Eu tive a honra de acompanhá-la, e ela foi homenageada por vários artistas mineiros. Então ela fez esta serenata ao fim dessa reinauguração: “Abria a janela e olhava o longe azul das montanhas./ Sino da Igreja de Lourdes batia a Ave-Maria./ Fazia em nome do padre, o horizonte incandescia./ E minha alma se escondia no ouro do sol morrente./ Um cheiro bom de guisado se evolava da cozinha./ E minha mãe me chamava, na mesa posta, as terrinas./ Feijão grosso, angu, torresmo, lombinho de porco assado./ Couve picada fininha./ De sobremesa, arroz doce, de cidra e queijo de Minas./ Pra completar, cafezinho quente e ralo, assim convinha./ Na cabeceira da mesa meu pai, voz grossa e macia./ E a conversa se fazia, sobre tudo se falava./ Meus irmãos tumultuavam, cinco homens, cinco meninas./ Minha mãe olhava tudo, de vez em quando sorria./ Na neve do jasmineiro a noite se embranquecia./ Amigos vinham chegando, violões apareciam./ Já nascia a madrugada, mas dormir ninguém queria./ Nos queixumes de uma voz outras em coro se uniam./ E a serenata acendia./ Ouro esquecido de estrelas nos céus de Minas Gerais.”

Aí ela cantava (– Canta.): “Oh, Minas Gerais…”. E vai por aí afora. “Quem te conhece não esquece jamais, oh, Minas Gerais!” Mais uma: “Oh, Minas Gerais, oh, Minas Gerais, quem te conhece não esquece jamais, oh, Minas Gerais!”. Eita, Madrigal Renascentista!

Sra. Deputada Leninha, Sr. Deputado Federal Patrus Ananias, encerro aqui a minha fala. Sei que faltaram nomes de pessoas que foram tão significativas na vida de Maria Lúcia Godoy, mas, dado o pouco tempo, peço as minhas desculpas. Em nome da família Godoy, agradeço a todos e a todas que compareceram a este evento tão especial e significativo na comemoração do centenário desta querida e amada Maria Lúcia Godoy, a maior intérprete de Villa-Lobos no mundo.