BERNARDO CARNEIRO DE SOUSA GUIMARÃES, Médico
Discurso
Legislatura 20ª legislatura, 2ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 21/08/2024
Página 5, Coluna 1
Indexação
Proposições citadas RQN 7453 de 2024
RQN 7881 de 2024
Normas citadas RAL nº 5626, de 2024
32ª REUNIÃO ESPECIAL DA 2ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 20ª LEGISLATURA, EM 19/8/2024
Palavras do Sr. Bernardo Carneiro de Sousa Guimarães
Boa noite a todos! Gostaria de agradecer ao Exmo. deputado Betinho, 3º-vice-presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, representando o presidente da Assembleia, deputado Tadeu; ao Exmo. deputado Adriano Alvarenga, meu amigo; ao líder do Bloco Democracia e Luta, deputado Ulysses Gomes; ao meu amigo deputado Tito Torres; e também à Sra. Larissa Fales, delegada de Polícia Civil.
Gente, sinto-me muito honrado neste momento. Nunca tive esse tipo de experiência. A minha secretária, por diversas vezes, falou assim: “Cadê o seu texto? Cadê o seu texto?” Eu falei: “Eu não sei escrever um texto, eu vou falar o que vier no meu coração”. E me sinto muito honrado por estar aqui, por receber este título. O jovem sonhador, que veio lá de Miracema do Tocantins.
Lembro-me muito bem que, em 1998, eu estava na minha terra natal, e, no meu colégio público, muito simples, eu sentava numa cadeira próxima à janela. Quando olhava em direção à janela, eu via um muro, e ficava, de fato, olhando para o nada. E minha professora, muito brava, que se chamava D. Rita, chegava na sala de aula com uma palmatória. Ela fazia perguntas, e se você errasse as respostas, acabava apanhando. Cada um com a sua doutrina de ensinamento, não é, professora? E ela me chamava muito a atenção por isto: ela me pegava olhando para a janela, para o nada. Isso me marcou muito, porque quem apanha nunca esquece. Mas eu não estava olhando para o nada, eu estava sonhando. Eu estava olhando porque sabia que, além daquele muro, que eu olhava quase todos os dias, existia um mundo enorme. E eu queria conhecer esse mundo.
Daí eu sempre fui trazendo comigo uma mentalidade ousada e desbravadora, como muitas pessoas têm histórias de vida semelhantes. Isso fez com que, aos 12 anos de idade, minha madrinha me oferecesse um emprego na sua loja de perfume, e eu fui morar em Palmas, com a minha madrinha, que me cedeu um quarto pequeno, com uma cama, onde eu pude ir para uma escola com uma estrutura melhor, em Palmas, Tocantins.
Interessante, pai e mãe, que, depois disso, eu nunca mais voltei. Como dizia aquela metáfora: filho é igual a flecha, você solta, e ele vai embora trilhar o caminho dele. E foi isso que eu fiz. De fato eu nunca mais voltei. De Palmas, Belém; de Belém, Goiânia; de Goiânia, São Paulo. Depois de São Paulo, Minas Gerais, Belo Horizonte, onde eu fui acolhido. E aqui eu tive oportunidade de crescer tanto na medicina quanto no empreendedorismo. Aqui fez também com que eu me tornasse um médico, um empresário, que pudesse expandir o meu projeto para todo o País e também para fora do País. Então me sinto muito grato, porque aqui eu adquiri toda essa coragem para desbravar além.
Eu me lembro muito bem de que, em 2021, em Goiânia, eu já estava com a minha segunda clínica, e a minha secretária, Débora, ligou-me: “Há um paciente querendo que você atenda ele no sábado”. Eu falei: “Nossa, mas, no sábado, eu preciso ir embora, preciso ir para a rodoviária pegar o ônibus, porque tenho um compromisso em Belo Horizonte”. “Olha, mas estão me falando aqui que é uma pessoa de fora, um estrangeiro, um empresário renomado.” Enfim, eu pensei, e tudo eu vejo como uma oportunidade. Eu sempre enxerguei a oportunidade da seguinte forma: ela sempre vem muito florida por muitos desafios, dificuldades e problemas. E eu decidi, por algum motivo, atender essa pessoa no dia seguinte, e acabei ficando lá. Recebi esse empresário, atendi, fiz o que precisava ser feito. Ele obteve os resultados e me ligou, certo dia, perguntando se eu não tinha interesse em levar esses procedimentos para os Emirados Árabes. Ele já estava lá há 20 anos e tinha todo o know-how e relacionamento naquela região, o que me despertou esse interesse de ir para lá. E, de fato, eu topei. Alcancei o Oriente Médio como uma oportunidade e, com muita coragem e entendendo que, muitas vezes, a gente alcança algumas coisas na vida não é por mérito e, sim, por relacionamento, porque existem pessoas, seres humanos que têm o seu valor e merecem ser valorizados. E cada pessoa que chega diante de mim com alguma enfermidade, com algum objetivo de resultado, não olho para ele com ar de superioridade, jamais, independentemente de quem seja a pessoa. Eu apenas sou um detentor de conhecimento, que vou fazer desse conhecimento para ajudar essa pessoa da melhor maneira possível. Essa sempre foi minha proposta de trabalho, minha proposta de vida e, por onde eu ando, tento exercer esse espírito de cumprir também um papel social, que é o que cada um deve fazer hoje sob o meu ponto de vista.
Mas é assim. A vida seguiu. Hoje temos 12 clínicas em quatro países. Estamos indo agora para Brasília e é mais um desafio, novos horizontes. Estou firme e disposto a encarar o que tiver por vir, porque sou um indivíduo que não quer nada mais do que praticar o bem. O dinheiro é uma consequência, sempre foi, mas tudo que você precisa na vida significa prosperidade, e o dinheiro é uma pequena parte disso. Então, ele veio como consequência. Nunca o olhei como prioridade para minha vida.
Lembro-me muito bem de que eu estava no hospital de campanha de Guarulhos, onde eu fui convidado pelo meu chefe lá do Albert Einstein e ele falou: “Bernardo, surgiu um contrato aqui R$20.000.000,00 e vamos montar um hospital de campanha em Guarulhos, em São Paulo.” Eu falei: “Nossa, será?”. Vivemos hoje… E os meus atendimentos estavam caindo muito por conta da pandemia. Todo mundo sofreu com isso. E eu acabei topando. Tivemos um fluxo ali de 80 mil pessoas. Eu ficava responsável pelos 28 leitos de UTI, eu era chefe da UTI e precisava de quatro médicos todos os dias, dia e noite e, às vezes, eu não conseguia os quatro médicos. Eu precisava, então, assumir, porque eu era o responsável. Eu assumi os 20 pacientes. Então foi um período muito doloroso, muito cansativo. Foi a primeira vez que aprendi a lidar com a morte. Todo médico hoje tem o seu próprio cemitério, infelizmente, mas o mais importante é ele dar tudo de si para usar das habilidades que a medicina oferece. Houve um dia que eu percebi que, muitas vezes, a medicina nos oferece coisas que a gente não consegue ajudar o outro em algumas situações. E existe um senhor que foi admitido na UTI. Eu o recebi e ele já estava com uma insuficiência respiratória muito importante. Eu falei: “Olha, preciso fazer com que o senhor consiga respirar bem, pois o senhor não está conseguindo respirar bem, então você precisa ter a ajuda do aparelho”. “Mas o que é isso?”, disse ele. “Precisamos submetê-lo a uma intubação.” Aí ele pegou na minha mão e falou assim: “Olha, Dr. Bernardo, quero que você faça um favor para mim. Tudo bem, não tem problema nenhum. Eu sei que eu estou muito mal, mas preciso que você avise o meu filho que está lá em Portugal. Já faz algum tempo que não falo com ele, aproximadamente 10 anos.” Falei: “Mas o que aconteceu?”. “Tivemos uma desavença.” Eu disse que tudo bem. Fiz o procedimento de intubação. Ele ficou bem e aí, deputado, peguei e liguei para esse filho dele lá em Portugal. Aí ele me contou exatamente a história, que realmente ocorreu uma desavença, um conflito entre eles, de pai para filho, e nunca mais eles se falaram. E o filho foi embora. Aí falei assim: “Mas agora é a hora de você ver o seu pai, porque ele está grave, muito grave”. Ele demorou aproximadamente cinco dias para chegar lá em São Paulo. Veio do outro lado do mundo. E todos os dias eu achava que aquele senhor iria morrer, mas ele resistiu os cinco dias porque o filho chegou à noite. O filho chegou, e era proibido pelas normas da Anvisa, pela vigilância, você permitir que alguém que não fosse profissional da saúde entrasse em um leito de UTI. E eu permiti, quebrando esse protocolo, porque me coloquei no lugar daquele jovem, e ele entrou. Reduzi a sedoanalgesia daquele paciente para que ele tivesse um leve despertar e percebi que ele estava dando alguns sinais de despertar. O filho começou a desabafar, a pedir mil, mil, mil perdões. Ficou ali aproximadamente 10 minutos, me agradeceu e saiu. Na verdade, até hoje ele me agradece. Quando ele saiu, não demorou nem 3 minutos, o pai dele morreu. Ou seja, estava esperando o perdão. Para você ver como é a vida! Então não era a medicina que estava segurando aquele senhor ali, em vida; era Deus. Então existe a valorização hoje… A gente precisa entender o lado espiritual, que vai muito além do material.
Então, com esses outros relatos, vamos construindo a nossa dignidade. E nós temos uma relação de memória com isso! É muito bacana. Eu levo isso comigo na minha vida porque sei que muitas outras coisas podem acontecer e espero poder contribuir e cumprir o meu papel em vida aqui, no Brasil, e onde eu estiver. Muito obrigado.