DEPUTADO ANTÔNIO JÚLIO (PMDB)
Discurso
Declaração de posição contrária ao projeto de resolução, de autoria da
Comissão de Constituição e Justiça, que delega ao Governador do Estado
atribuição para elaborar leis delegadas dispondo sobre a estrutura da
administração direta e indireta do Poder Executivo.
Reunião
90ª reunião EXTRAORDINÁRIA
Legislatura 16ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 22/12/2010
Página 156, Coluna 2
Assunto EXECUTIVO. (ALMG).
Proposições citadas PRE 4999 de 2010
Legislatura 16ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 22/12/2010
Página 156, Coluna 2
Assunto EXECUTIVO. (ALMG).
Proposições citadas PRE 4999 de 2010
90ª REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA
16ª LEGISLATURA, EM 17/12/2010
Palavras do Deputado Antônio Júlio
O Deputado Antônio Júlio - Sr. Presidente, Deputados e Deputadas,
em relação ao Projeto de Resolução nº 4.999/2010, sempre que
queremos discutir lei delegada, alguém diz que o Governador teve
68% dos votos, que houve aprovação. Se for seguida essa lógica,
deveríamos fechar esta Assembleia e cada um ir embora para a sua
casa. Assim o governo poderá legislar e executar suas prioridades
sozinho, já que teve votação espetacular. Mas essa não é a lógica
na política. Houve disputa, ele ganhou, mas não governará sozinho:
precisa compartilhar o governo com esta Assembleia. As leis
delegadas são um equívoco. Só porque acha que teve votação
fantástica vai poder fazer as mudanças que quiser e, mais uma vez,
prejudicar o funcionalismo público? Aí está o grande engano.
Quando tiver dificuldade com os funcionários e de administrar,
precisará da Assembleia.
Às vezes, fico incomodado quando alguns Deputados dizem que o
Governador foi aprovado. Pode até ter sido aprovado nas urnas, mas
terá quatro anos para comprovar que tem capacidade de administrar,
de ser um bom Governador. Talvez o governo do Aécio tenha sido bem
avaliado equivocadamente pela população de Minas, porque comprou e
amordaçou a imprensa, não deixou que fossem divulgadas as suas
dificuldades.
Sr. Presidente, Deputados e Deputadas, fico preocupado, quando
leio algumas notas que fazem publicidade da segurança pública e
afirmam que o governo diminuiu os crimes violentos no Estado. Ao
ligarmos o rádio, todos os dias, ouvimos notícias de que houve,
pelo menos, três ou quatro assassinatos em Belo Horizonte.
Em Pará de Minas, ocorreram mais de 15 assassinatos neste ano. No
entanto, só aparecem 3 ou 4 nos dados estatísticos da polícia. Na
verdade, não é considerado assassinato brutal, já que a pessoa não
morreu assassinada na hora, mas somente no hospital e houve a
transferência.
É um governo que enganou todos nós. Quando se fala em lei
delegada... Indaguei ao Prof. Anastasia, que hoje é Governador, se
enganou o povo mineiro e todos nós quando falou sobre o choque de
gestão e o propagou por todo o Brasil. Temos de reconhecer o
avanço do governo na questão da gestão, mas não foi toda essa
maravilha como pensam. Tanto é que estamos mudando todos os dias e
há insatisfação generalizada do funcionalismo público. Construiu a
Cidade Administrativa na lógica de que estaria economizando aos
cofres públicos R$85.000.000,00 por ano, mas teve de reduzir a
carga horária dos que lá trabalham em 25%. Quanto custa isso aos
cofres públicos? Deixa-se de produzir durante duas horas no
Estado.
Portanto essa é a discussão que queremos fazer. Na verdade, essa
discussão da lei delegada é um equívoco da Assembleia Legislativa.
Até para encerrar a nossa participação nesse processo, repito que,
em 1964, em plena efervescência do golpe militar, Magalhães Pinto
tentou fazer uma lei delegada. O próprio partido dele não
autorizou nem a Assembleia. O governo precisou enviar o pedido a
esta Casa para fazer as reformas que, naquela época, queria fazer.
Então, nem o golpe militar conseguiu aprovar lei delegada. No
entanto, num regime democrático, a lei delegada parece que passou
a ser a tônica da ditadura, que é aquela que não depende do
Parlamento para nada. Essa submissão e omissão da Assembleia
Legislativa custará muito caro não só ao Parlamento, mas também ao
Poder Executivo. Quando as leis são feitas apenas pelos técnicos,
geralmente não funcionam, possuem equívocos e trazem dificuldades
para o governo. Alguns técnicos querem criar leis na sua lógica,
não respeitam a lógica do conjunto dos trabalhadores,
principalmente os da educação.
Estamos preocupados. Votarei contra o Projeto de Resolução nº
4.994/2010. A Assembleia está abrindo mão das suas prerrogativas.
Repito: isso é um equívoco. Hoje já há leis delegadas de mais.
Alguém poderá dizer: “Mas V. Exa. ajudou a aprovar a primeira lei
delegada do Aécio”. Realmente ajudei a aprová-la, mas apoiado em
uma lógica apresentada, na época, pelo Governador Itamar Franco e
depois pelo próprio Governador Aécio Neves, que estava eleito.
Aliás, disse-lhe que era contra leis delegadas, pois o Parlamento
tem de ter a responsabilidade de votar as matérias que aqui
chegam. Se o governo queria fazer outra reforma administrativa, é
sinal que as outras não deram certo. Foram editadas 130 leis
delegadas. A proposta do Parlamento era aprovar, neste período até
dezembro, todas as leis delegadas que aqui vieram. O governo
preferiu usar a sua autoridade maior e o seu autoritarismo -
aliás, autoridade e autoritarismo são duas peças bastante
distantes -, porque não quer ter essa discussão na Assembleia. Na
verdade, prefere fazê-la com meia dúzia de pessoas, tomar as
decisões e criar as leis delegadas que nada mais são do que um
decreto-lei e um ato institucional equivocado do próximo governo.
Por isso nos manifestamos contra esse projeto de resolução. Mais
uma vez, a Assembleia está omissa e submissa. Não podemos
concordar. Esperamos que, no próximo mandato, tenhamos uma
Assembleia e uma imprensa mais independentes e que, no dia 1º de
janeiro, o espírito de Tancredo Neves baixe no Palácio da
Liberdade, no Prof. Anastasia, para que cite as mesmas palavras de
Tancredo quando assumiu o governo de Minas: “O primeiro
compromisso de Minas é com a liberdade”. Espero que, quando
assumir definitivamente no dia 1º, o Prof. Anastasia possa
devolver realmente ao Estado de Minas a sua liberdade.