DEPUTADO ANDRÉ QUINTÃO (PT)
Discurso
Declaração de posição contrária ao projeto de resolução, de autoria da
Comissão de Constituição e Justiça, que delega ao Governador do Estado
atribuição para elaborar leis delegadas dispondo sobre a estrutura da
administração direta e indireta do Poder Executivo. Parabeniza o Deputado
Alberto Pinto Coelho pela sua atuação como Presidente da Assembleia
Legislativa.
Reunião
90ª reunião EXTRAORDINÁRIA
Legislatura 16ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 22/12/2010
Página 156, Coluna 1
Assunto EXECUTIVO. (ALMG). DEPUTADO ESTADUAL. HOMENAGEM.
Proposições citadas PEC 63 de 2010
PRE 4999 de 2010
Legislatura 16ª legislatura, 4ª sessão legislativa ORDINÁRIA
Publicação Diário do Legislativo em 22/12/2010
Página 156, Coluna 1
Assunto EXECUTIVO. (ALMG). DEPUTADO ESTADUAL. HOMENAGEM.
Proposições citadas PEC 63 de 2010
PRE 4999 de 2010
90ª REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DA 4ª SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA
16ª LEGISLATURA, EM 17/12/2010
Palavras do Deputado André Quintão
O Deputado André Quintão* - Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sras.
Deputadas, desde a chegada à Casa desse projeto de resolução que
autoriza o governo estadual a proceder a várias readequações
administrativas sem passar pela Assembleia Legislativa, temos
manifestado nossa posição contrária de maneira muito clara, por
vários motivos. O primeiro deles diz respeito à conveniência e
necessidade de o governo usar neste momento esse expediente
previsto na Constituição Estadual, num cenário em que o Governador
foi reeleito, a Assembleia Legislativa está em pleno
funcionamento, não há nenhuma calamidade pública, emergência ou
situação que provoque a necessidade de um arranjo administrativo
sem os procedimentos usuais e rotineiros da democracia. O
mecanismo da lei delegada é previsto para situações excepcionais,
e não, para ser adotado como um instrumento de rotina. Esse é o
primeiro aspecto. Poderíamos até arguir a inconstitucionalidade da
medida, uma vez que não há nenhum fator excepcional que provoque a
edição da lei delegada.
O segundo aspecto é a questão do fortalecimento deste Poder. O
Poder Legislativo representa a pluralidade das ideias, opiniões e
posicionamentos da sociedade. Ao escolher os partidos e eleger os
Deputados e as Deputadas, a sociedade está também externando uma
opinião, uma sintonia com determinada forma de pensar. E é aqui no
Legislativo, na apreciação dos projetos de lei, que essas posições
se manifestam. Quando o Governador retira do Poder Legislativo
essa possibilidade, a sociedade está sendo também prejudicada no
seu propósito de influenciar as decisões aqui tomadas.
Tenho dito que o governo reeleito tem todo o direito de promover
as adequações administrativas, tem todo o direito de ajustar a
máquina pública, tem todo o direito de tomar aquelas decisões a
bem do interesse público. Mas essas decisões têm no Poder
Legislativo seu espaço maior de debate público. Aqui é a arena da
discussão coletiva.
Aqui é o lugar onde os movimentos sociais, os servidores, os
sindicatos, os Deputados e as Deputadas têm espaço para opinar.
Então, na medida em que o governo retira a Assembleia Legislativa
desse debate, as decisões perdem em legitimidade. Um governo
reeleito, que teve o apoio das urnas, mas que, no seu ato
inaugural, no primeiro mês de mandato exclui a Assembleia
Legislativa do processo decisório perde em legitimidade.
Sr. Presidente, ao falar do terceiro aspecto, dirijo-me
particularmente aos Deputados do governo. Quando o próprio governo
impede que a sua base de sustentação opine sobre os destinos do
nosso Estado, é porque ela está enfraquecida. É como se fosse um
atestado de desconfiança em relação às inteligências aqui
presentes; é como se o governo olhasse para a Assembleia e
dissesse que ela não tem capacidade para arbitrar, discutir,
influenciar projetos de relevância para o Estado. É como se
alguém, no gabinete do Governador, dissesse a S. Exa. para mandar
a lei delegada, alegando que o pessoal da Assembleia é goela
larga, causa muita confusão, cria tantas emendas que desvirtuam o
propósito dos projetos. Assim o Governador acha melhor deixar a
Assembleia de lado para ficar mais fácil aprovar o que ele quer.
Sinceramente, se eu fosse Deputado da base de governo ficaria
ofendido politicamente. Se o governo tem uma maioria inconteste,
uma maioria expressiva que aprova tudo que quer, por que, então,
não apresentar esse projeto aqui na Assembleia Legislativa?
E, como último argumento, todos nós, seja Deputado da Oposição,
seja Deputado da Situação, temos experiência, trajetória,
capacidade para opinar sobre o destino das políticas públicas no
Estado de Minas Gerais. Ademais, todos nós representamos segmentos
e regiões. Fomos excluídos desse processo democrático exatamente
quando o governo vai começar uma nova etapa e quando os Deputados
que acabaram de ser eleitos e reeleitos poderiam apresentar
sugestões, melhorar os projetos e até discordar de alguns pontos.
Sabemos da baixa credibilidade que os Legislativos em geral têm
hoje no nosso país. Exatamente no momento em que o Legislativo
pode se afirmar, vem uma proposta que retira essa possibilidade.
Sr. Presidente, quero tentar, talvez num último esforço, apesar
de ser difícil, fazer esse apelo. A Oposição até assumiu o
compromisso de votar, até o final do ano, sem obstrução, qualquer
projeto que fosse apresentado, mas, lógico, apresentando emenda a
favor ou contra a matéria. Firmamos esse compromisso para não
atrapalhar o governo porque sabemos ganhar e também perder.
Sabemos que o governo foi eleito, mas também fomos eleitos, também
obtivemos votos. Os Deputados e os partidos obtiveram votos.
Há aqui muitas pessoas importantes e experientes, inclusive com
propostas que devem ser votadas hoje, como a relativa à ficha
limpa. Deveríamos ter o mínimo de autonomia e não dizer amém a
tudo o que o governo quer. Nós, que ajudaremos o governo votando o
Projeto Ficha Limpa, também poderemos ajudá-lo votando
contrariamente a autorização da lei delegada, para que as nossas
inteligências também possam ajudar na reforma administrativa que o
Governador deseja fazer.
Por fim, Sr. Presidente, Deputado Alberto Pinto Coelho, quero
cumprimentá-lo. Não estava presente ao discurso de V. Exa.
Estivemos em campos distintos no processo eleitoral, por decisões
partidárias, mas quero dizer, de público, que V. Exa. foi um
excelente Líder de Governo e Presidente exemplar. V. Exa. está à
altura dos desafios de Minas Gerais, e a Assembleia Legislativa
está muito bem representada no governo com a presença de V. Exa.
Muito obrigado.